Augustuna entrevista
Entrevista.com, 18.02.2022 às 09:29
“O nosso trajeto durante estes 25 anos foi todo um carrossel de momentos e emoções vividas.”
A Augustuna foi a primeira tuna mista da Universidade do Minho (UMinho), que fez em 2021, 25 anos. Atualmente, apenas como tuna masculina, o grupo tem como ponto alto do ano o seu Festival de Tunas, o Magna Augusta. Constituída por cerca de 35 elementos ativos, tem mais de 60 elementos no total.

O UMdicas esteve à conversa com a direção do grupo para saber mais sobre esta Tuna, sobre a sua origem, sobre o seu trajeto, sobre os seus projetos e sobre o seu futuro.

A AUGUSTUNA é um dos grupos culturais mais antigos da Universidade do Minho. Como surgiu a ideia da sua criação?
Na altura da fundação da nossa tuna já havia pelo menos cinco tunas, nomeadamente três tunas masculinas (TUM, Azeituna e Afonsina) e duas femininas (Gatuna e Tun’Obebes). A questão é que não havia tuna mista. Portugal, apesar de estar a viver a febre das tunas, tinha, bem antes do Estado Novo (e arriscamo-nos a dizer antes da implementação da República) uma cultura de tunas mistas, principalmente proveniente dos antigos Liceus Nacionais (um exemplo disso é a Tuna Académica do Liceu de Évora, que tem mais de 100 anos de história de forma ininterrupta). Ora, alguns dos nossos fundadores já tinham estado em tunas de outras universidades, e não queriam deixar de fazer parte do mundo tuneril. Houve a hipótese de criar uma tuna mista. Na altura, a criação não foi fácil, porque nem toda a gente achou boa ideia criar mais uma tuna, e desta vez uma tuna mista. Mas a verdade é que a vontade dos nossos fundadores prevaleceu e criaram a Augustuna – Tuna Mista da Universidade do Minho.

De que é feito este grupo e como se caracterizam?
Somos um grupo de estudantes que, se houvesse a licenciatura em enologia, de certeza que a Universidade do Minho formaria os melhores enólogos deste País. Estamos a brincar!
Somos um grupo que gosta de brincar, e numa conjuntura pandémica como a que estamos a viver atualmente, temos que nos rir para desanuviar a cabeça. Às vezes é preciso. Mas somos um grupo que essencialmente temos consciência do nosso passado e, por isso, queremos honrar o hercúleo trabalho dos nossos fundadores em criar esta tuna, continuar aquilo que de bom se fez e corrigir o mal que se teve. Gostamos de nos divertir enquanto tuna, criar memórias inigualáveis, e fazer uma das coisas que mais gostamos, que é música.

Fundada em 1996, comemoraram em fevereiro de 2021, as vossas bodas de prata. Como descrevem o vosso trajeto?
O nosso trajeto durante estes 25 anos foi todo um carrossel de momentos e emoções vividas. Lembramo-nos particularmente de uma das edições da Récita em que a AAUM começou a descrição da nossa tuna com esta singular frase: “Once upon a time… or maybe twice!”, o que nos descreve de forma exímia. Convém relembrar que a Augustuna foi a primeira tuna mista a aparecer na Universidade do Minho (e na altura os nossos fundadores não tiveram um trabalho nada fácil para a criar). Só em 2003 é que passou à fórmula como a nós conhecemos, ou seja, passou para tuna masculina, por causa da falta de adesão feminina ao grupo. E na altura achou-se por bem passar a tuna masculina. E, apesar da qualidade que os nossos tunos tinham nos anos a seguir, a tuna encerrou portas em 2008 (todavia, a última atuação decorreu na Récita de 2009), justamente pelo mesmo problema de 2003, ou seja, falta de adesão masculina à tuna. E só em 2012 é que se voltou a reativar o grupo.

Em que se destaca e diferencia a Augustuna dos outros grupos culturais?
A Augustuna diferencia-se dos demais grupos culturais principalmente pelo ambiente que se vive dentro dela. Nós estamos na tuna para nos divertirmos e para deixar de lado a negatividade do nosso dia-a-dia. Para além disso incutimos aos elementos mais novos da tuna o respeito por todos os grupos culturais da Universidade do Minho, pois, apesar das diferenças e das características de cada um de nós, não deixamos de fazer parte da Melhor Academia do País, título esse que não queremos que caia em desuso. Mostrar ao País de que fibra é feita as gentes do Minho.

Como caracterizam a vossa música e o que trazem de novo ao panorama musical e cultural da Universidade?
A nossa música incide-se no arranjo ou na recriação de músicas populares portuguesas. No entanto, e apesar de termos alguns, a geração de hoje da Augustuna tem como objetivo elaborar mais originais. Temos pessoal com capacidade de escrever música e até de escrever músicas que fiquem no ouvido. Para além disso, queremos também tirar da gaveta os originais que os históricos tunos do nosso grupo fizeram no auge deles.

Por quantos elementos é constituído o grupo atualmente, e quem pode fazer parte dele?
O Grupo é atualmente constituído por 30-35 elementos ativos, contudo temos mais de 60 elementos no total, que apesar de não participarem nas atividades correntes da Tuna, costumam aparecer no nosso Festival de Tunas, o Magna Augusta.
Qualquer membro masculino, atual ou antigo, da UMinho pode pertencer à Augustuna. Temos todo o gosto de acolher elementos de diversos cursos e de várias gerações da Academia.
A nova direção tomou posse em novembro de 2021. Quais os objetivos e ideias para dinamização do grupo, torna-lo mais atrativo… e o que têm a dizer aos interessados em fazer parte do grupo?
A nova direção tem como objectivo continuar o trabalho profícuo elaborado pelas direções anteriores do grupo. Temos o desafio de assegurar o crescimento que a tuna tem tido ultimamente, ainda mais nesta altura de pandemia que afectou todas as tunas e grupos culturais existentes na UMinho. Quanto à dinamização, queremos proporcionar, aos membros atuais, um retorno de vivência da tuna aos tempos de pré- pandemia e mostrar-lhes que andamos todos os dias a trabalhar para a tuna e para que se sintam em família. A quem se mostrar interessado em ingressar na nossa tuna o que temos a dizer é que não tenham receio em aparecer a um ensaio e venham experimentar o ambiente da Augustuna. O difícil não é entrar, o difícil é sair de lá uma vez que estejam integrados!

No vosso percurso, quais os momentos e participações que destacam?
São muitos os momentos e participações que vivemos e levamos connosco na memória, e muitos dos tunos ditos “velhinhos” partilham as vivências deles para esta geração ativa da tuna (e é a partir daí que queremos evoluir qualitativamente a tuna sem nunca esquecer o nosso passado e as nossas raízes). Da nossa parte, destacamos a última participação que tivemos, em Leiria (cidade que sempre nos diz muito e que nos é muito querida), em março de 2020. Para além dos prémios que trouxemos, ou seja, o de Melhor Interpretação Temática, o de Tuna Mais Tuna (prémio recorrente para as tunas da Academia Minhota) e o de Melhor Pandeireta (prémio este que foi o primeiro desde a reativação da tuna, pelo menos), o convívio e o espírito de camaradagem entre todas as tunas presentes foi incrível. Poderíamos dizer muito acerca do que aconteceu naquele festival, mas é melhor guardarmos para nós.

Costumam realizar o vosso festival - Magna Augusta, em março. Quais os planos para este ano?
Sim, costumamos realizar o festival nos finais do mês de março. Este ano não vai ser diferente e já estamos bem encaminhados na organização do Magna Augusta de 2022. Vai decorrer nos dias 25 e 26 de março, sendo que a 25 de março será a noite de serenatas e a 26 de março decorrerá a noite de festival. Quanto às tunas a concurso, este ano optámos por convidar as mesmas tunas que em 2020, já que não tivemos oportunidade de realizar o evento. Aliás, a pandemia do COVID-19 instalou-se 15 dias antes de realizarmos o festival.
Lançamos já a toda a comunidade académica que compareçam no nosso festival. As informações serão dadas brevemente. Estejam atentos às nossas redes sociais.

Quais os projetos do grupo mais importantes a curto/médio prazo?
Os nossos projetos, a curto prazo, é consolidar o nosso Magna Augusta e a nossa festa do Semina, festa essa que tem como principais responsáveis pela organização os nossos seminas, ou seja, os caloiros da tuna. Temos também praticamente concluído o projeto de realização de um videoclipe. A médio prazo queremos elaborar um CD com as músicas que tocamos, já incluindo os nossos originais e os novos que estão por advir. Mais ainda queremos, a médio prazo, elaborar uma viagem ou “tour” para fora do País.

Qual é maior sonho da Augustuna?
O maior sonho da Augustuna é continuar a trabalhar para que o crescimento seja sustentável. Não se pode sonhar com grandeza se não se tiver uma base para isso. É como a construção de uma casa: nunca se começa pelo telhado. Toda a gente sabe ou pelo menos deve ter uma perceção de que as vistas no topo da montanha são lindíssimas. Mas e o que se sofre para chegar lá acima? Por vezes, basta um deslize para descermos e termos de recuperar esse mesmo revés. E a história da nossa tuna por duas vezes demonstrou isso. Basta um deslize e deita-se por terra todo o trabalho árduo que se fez e temos de recomeçar tudo de novo. Sabendo isso de antemão, a nossa geração tem como seu maior sonho a continuação de um bom trabalho que se tem desenvolvido até hoje desde a reabertura em 2012. Com muito trabalho, com muito afinco e com as bases certas e consolidadas chegaremos a patamares superiores. Esta geração tem muita ambição de fazer crescer a tuna.

Estes dois anos transatos foram difíceis, em particular para a cultura, e 2022 ainda continua a ser. Como estão a viver este período atípico? Do que mais sentem saudades?
Sim, estes dois anos não tem sido nada fáceis para ninguém perante a atual conjuntura pandémica que vivemos, e, ficar fora dos palcos e dos festivais também não está a ser nada fácil para quem anda nisto. Aliás, pensamos que é transversal a todos os grupos culturais da UMinho e ao resto do País. No entanto, na parte que nos toca, há que ressalvar ou até mesmo enaltecer o facto de, nesta altura, ter havido muitos estudantes que entraram na nossa tuna e que quiseram conhecer, quanto mais não seja, um pouco mais sobre vida académica, sobre música, e partilhamos com eles as histórias por nós vividas no passado enquanto tuna. E, é aí que bate aquela saudade, de se querer voltar a repetir as mesmas vivências.

Como vêm o panorama dos grupos culturais universitários em Portugal e a nível internacional?
O panorama atual dos grupos culturais universitários em Portugal é bem mais positivo do que há alguns anos atrás. Hoje em dia é moda entrar em qualquer grupo cultural, há uns anos atrás chegava até ser enfadonho estar lá, para além da má imagem que o País (ainda que de forma totalmente errada) tinha sobre esses mesmos grupos. Mas houve sempre tunas que demonstravam a outra face da moeda, e a elas agradecemos por isso. Apesar de haver tradições de tunas aqui em Portugal desde há muito tempo, houve uma febre de tunas nos anos 80 e 90 do século passado, febre essa que muito se deveu às tunas espanholas, e que hoje as tunas portuguesas ultrapassaram em muito as tunas espanholas, justamente porque as nossas emanciparam-se e as de Espanha, devido à rigidez tradicionalista nela incutidas, pararam no tempo. No entanto, não deixa de haver boas tunas espanholas. E depois há as tunas sul-americanas, que sempre tiveram a sua dose de embelezamento, e que ainda hoje tocamos com frequência as músicas deles. O maior exemplo disso é a tão badalada “Hoy Estoy Aqui”.

Como analisam o contexto dos grupos culturais na vida da Universidade e de um universitário?
Claramente que um universitário tem como seu principal objetivo o estudo. Mas lembremo-nos do seguinte: a vida de um universitário não é nada mais nem nada menos do que a fase de transição da sua juventude para a sua fase mais madura, vida adulta com a qual tem de acarretar com as maiores responsabilidades. Depois de alcançar essa fase as oportunidades que vai ter para viver a vida vão ser bem mais escassas. A alternativa de o universitário desfrutar a vida é na universidade. Daí ter essa opção de se integrar nos mais variados grupos culturais universitários. Apesar de não parecer, esses grupos culturais têm muito mais a oferecer do que aquilo que se pensa. Mais do que aprender música e ter maior gosto pela cultura, aprende a ter responsabilidades nos aspetos de organização, de logística, dá asas à sua imaginação e criatividade e faz amizades que vão ficar para o resto da vida. Ter a sensação de uns anos mais tarde ouvir falar bem do grupo cultural que ajudou a crescer e que fez por transmitir os valores intrínsecos, não só do grupo, mas também os da universidade. Os grupos culturais são sempre o espelho cultural da Universidade, são os seus embaixadores culturais. Independentemente do local para onde tenham de ir os grupos, vão inerentemente representar a sua Universidade. No caso concreto da UMinho, esta transmite e bem a forma de estar e de ser minhoto, uma população que não dá nada por perdido, que luta até ao fim para se engrandecer. A querer ser sempre a melhor do País, a querer formar os melhores. Até no aspeto desportivo a universidade tem sempre resultados magníficos. E claro que os grupos culturais vão sempre beber dessa postura. Apesar das rivalidades entre todos no bom sentido da palavra, mas isso só ajuda na qualidade dos grupos culturais da Universidade, que sempre foram e sempre serão bem vistas por esse Portugal fora.

Uma mensagem à comunidade académica?
A mensagem que deixamos à comunidade académica é que nunca se desvirtuem do seu principal foco que é o estudo. No entanto, há sempre espaço para aprender, para se ser feliz, e é preciso relembrar que a vida de estudante universitário são os melhores anos.
Portanto, nada melhor do que embelezar essa mesma vida ao entrar num grupo cultural, seja ele quem for. Se for da Augustuna ainda melhor! Vão viver experiências magníficas. Se tiverem o traje, se olharem para a vossa capa (a vossa melhor amiga nos tempos frios), lembrem-se que a negra cor que lhe está incutida simboliza a hora da vossa partida da universidade. Sentirão imensa saudade quando isso acontecer. E divirtam-se!

Fonte: SASUM

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