Ser presidente da AAUM era um sonho ou algo que aconteceu por acaso?
Nem um “sonho” nem um “acaso”. Entrei na estrutura da AAUM, em 2015, a convite
do Carlos Videira. Desde então, tenho vindo a assumir diversos cargos, enquanto Diretor e
Vice-Presidente do Departamento Recreativo, e, no último mandato, Presidente-Adjunto da
Direção. Acredito que esta experiência, o conhecimento adquirido sobre a Associação
Académica e o papel que a mesma deve ter junto da comunidade académica e em geral, aliada
à motivação, sentido de responsabilidade e enorme gosto com que sempre desempenhei o
papel de dirigente associativo, constituíram a base necessária para encabeçar um projeto e
presidir a esta instituição.
O que significa ser Presidente da AAUM e que características entendes que são
fundamentais para o exercício de um cargo desta responsabilidade?
Ser Presidente da AAUM é uma enorme responsabilidade pessoal e institucional.
Acredito que as caraterísticas necessárias residem em três pontos fundamentais: a capacidade
de constituir uma equipa polivalente, competente e comprometida, próxima da comunidade
académica e, por isso, representativa dos seus desígnios e necessidades; a vontade de dar
continuidade a um percurso de mais de quatro décadas, aliando a experiência com a
renovação sempre necessária face à constante mudança geracional entre os estudantes da
UMinho; a conjugação entre as dificuldades que se fazem sentir no associativismo estudantil e
no Ensino Superior, que encaro como desafios, e a disponibilidade própria e dos que me
rodeiam para fazer mais e melhor, em prol dos estudantes da Universidade do Minho.
Já eras dirigente associativo. Quais são para ti os prós e contras deste papel?
É uma pergunta complicada de responder, na medida em que os prós são, muitas
vezes, também os contras, e o mesmo se aplica para o contrário. Na dimensão pessoal, ser
dirigente associativo estudantil retira muito tempo, obrigando a uma gestão muito rígida da
agenda para que possam ser cumpridas todas as obrigações enquanto dirigente e estudante.
No entanto, acredito que colocando tudo na mesma balança, o resultado é extremamente
positivo. Ser dirigente associativo engrandece-nos enquanto pessoas, acrescentando
competências transversais como a capacidade de liderança, de trabalho em equipa, de
empreendedorismo e, sobretudo, de respeito pelas causas.
Pensas que este percurso de dirigente associativo será relevante para o teu futuro?
Estou certo de que será. Ao longo do meu percurso enquanto dirigente, muitas foram
as experiências e competências que ganhei. Ser capaz de coordenar um departamento e
múltiplas atividades, de ser simultaneamente líder e subordinado (algo que se aplica sempre
que o objetivo é servir alguém ou algo muito maior que nós próprios), de tomar decisões,
muitas vezes refletindo entre o lado humano e a ‘frieza’ necessária para o bem da instituição,
faz de nós melhores cidadãos, seres humanos maiores e mais compreensivos. Acredito que
“quem não vive para servir, não serve para viver” e, portanto, muito mais do que o acrescento
que levo no currículo ou na lista de contatos, esta experiência vai certamente tornar-me uma
melhor pessoa.
Encabeçaste uma lista única e alcançaste um total de 1815 votos. Estavas à espera
deste desfecho?
Encaro os 1815 votos como um bom resultado. Constituímos a única lista candidata à
Direção da AAUM, depois de umas eleições onde se atingiram máximos históricos, num ato
eleitoral realizado num único dia, em período de avaliações. Acredito que este desfecho
legitima-nos para um mandato de 2018 em que pretendemos levar a cabo todas as ideias e
objetivos que expusemos durante o período de campanha eleitoral, pensadas para melhorar,
cada vez mais, o percurso dos estudantes da Universidade do Minho.
Em que situação financeira e organizacional encontraste a AAUM?
Não a encontrei propriamente com o alívio financeiro que poderia ter encontrado
noutro momento da sua história. A AAUM ainda sente os efeitos de uma crise financeira que
deixou marcas, nomeadamente naquilo que é a relação com os concessionários e a
disponibilidade dos patrocinadores para continuar o investimento que assumiram até então.
No entanto, acredito que com uma gestão mais cautelosa e sustentável, poderemos manter a
credibilidade da instituição, alicerçada numa organização que tem dado frutos ao longo das
últimas duas décadas.
Quais as linhas orientadoras que propões para dirigir a AAUM e que inovações
pretendes promover na sua estrutura ou nas suas prioridades?
Divido as linhas orientadoras em quatro prioridades que considero fundamentais, sem
qualquer ordem de preferência: a primeira, a de promover, cada vez mais, a atividade de
complemento ao percurso académico, no contexto da Cultura, do Desporto, da capacitação na
área das competências transversais, através da participação voluntária nas atividades da
AAUM. Uma das iniciativas que destaco, neste âmbito, é o arranque do projeto de
voluntariado num bairro próximo da UMinho, cujo objetivo é colocar os estudantes a utilizar os conhecimentos adquiridos da sua formação académica em prol de uma comunidade
socialmente desfavorecida, numa autêntica e nobre troca de aprendizagens e experiências; em
segundo lugar, a defesa dos legítimos direitos e interesses dos estudantes da Universidade do
Minho, desenvolvendo atividades de auscultação e explicitação dos mecanismos existentes na
Universidade e previstos na própria lei. Destaco iniciativas como a elaboração do Regulamento
Académico Simplificado, ou a compilação de um estudo alargado sobre o custo de vida dos
estudantes da Universidade do Minho, que nos permitirá uma melhor reflexão sobre esta
realidade, asfixiante para a comunidade estudantil e as suas famílias; em terceiro, a necessária
reabilitação dos espaços e serviços da AAUM. A criação de um espaço de estudantes para
estudantes, com locais de estudo em grupo, uma sala de conferências e um programa
constante de atividades nas diversas áreas formativas, e a criação de novas linhas de
transportes, para o AvePark por exemplo, melhorarão a experiência académica e a vida da
comunidade estudantil; por fim, o caminho progressivo para uma instituição cada vez mais
sustentável, onde os estudantes possam sentir o seu investimento valorizado. A criação do
Departamento de Gestão de Associados & Marketing foi um grande passo neste caminho.
Estou certo de que dará os seus frutos no decorrer deste mandato e, especialmente, para
futuro.
Quais pensas que serão as maiores dificuldades com que te vais debater enquanto
Presidente da AAUM?
A nível dos problemas que afetam a Universidade do Minho e a Associação Académica,
certamente que o défice de alojamento, os problemas de mobilidade entre alguns campi e
unidades de investigação, e a ausência de uma localização para a construção da nova sede,
serão dificuldades que vamos enfrentar. No contexto do Ensino Superior em Portugal, a
constante falta de financiamento que asfixia as instituições e o quadro da ação social, que se
diz permitir a inclusão de todos os estudantes desfavorecidos, é claramente insuficiente.
No teu entender como deve ser vista a AAUM pelos estudantes?
A AAUM deve ser vista como a estrutura que os representa e que os defende, sendo
simultaneamente, promotora de atividades e iniciativas que possam melhorar a sua
experiência académica, nas mais diversas áreas.
Uma das principais causas da AAUM tem sido a ação social, nomeadamente a
atribuição de bolsas de estudo. Que avaliação fazem da política que tem sido seguida a
este nível?
A política que tem sido seguida a este nível peca por tardia e por não se aperceber de
todos os outros fenómenos que advêm de uma incorreta adaptação do regulamento,
nomeadamente no que diz respeito ao abandono escolar. Apesar de alguns esforços do
executivo no sentido de alteração do Regulamento de Atribuição de Bolsas de Estudo a Estudantes do Ensino Superior (RABEEES), existem ainda muitos estudantes que não são
elegíveis a bolsas de estudo, embora apresentem uma condição socioeconómica que coloca
em risco a sua permanência no Ensino Superior. O fim da contabilização do património do
agregado familiar e a possibilidade de dedução de despesas com a saúde e habitação, são duas
das reivindicações do movimento associativo estudantil.
A AAUM assinou recentemente uma carta aberta ao Ministro da Ciência, Tecnologia e
Ensino Superior. O que motivou tal iniciativa?
Esta iniciativa conjunta ganha motivação nas várias posições assumidas pela tutela e
na constante ausência de respostas face às reivindicações das associações estudantis. Esta carta vem no seguimento da missiva enviada pela DGES aos diferentes Serviços de Ação Social das Instituições de Ensino Superior que previa que os estudantes bolseiros, com complemento de alojamento, alojados em residências universitárias, tivessem que apresentar o comprovativo de pagamento da prestação mensal, todos os meses - o que está previsto na lei apenas para os estudantes que não estão alojados em residências universitárias. Na mesma missiva, que implica diretamente sobre a autonomia de gestão financeira de cada um dos estudantes, muitas vezes em situação difícil quando se encontram em meses cuja participação letiva implica maiores custos, era referido que este complemento e a própria bolsa, poderiam ser reduzidos a zero, perante o acerto necessário em caso de incumprimento. Esta intransigência, vinda de uma instituição que já nos habituou a sucessivos atrasos na data de pagamento das bolsas, aliada à falta de compromisso até então perante as compensações orçamentais prometidas em julho de 2017, em acordo com as Instituições de Ensino Superior, foram as principais motivações desta carta. Até ao momento, não tivemos ainda resposta por parte do ministro Manuel Heitor.
Que futuro prevês para o Ensino Superior em Portugal?
Esta resposta depende diretamente daquilo que façamos agora para inverter alguns
dos problemas que vão afetando este setor. Acredito no Ensino Superior como uma alavanca
para um futuro melhor para cada um de nós e para a sociedade em geral. E existem provas
disso mesmo: todos os estudos apontam nesse sentido. No entanto, Portugal continua muito
abaixo da média da OCDE e da União Europeia, no que diz respeito ao investimento na Ciência,
Tecnologia e Ensino Superior. Com um orçamento de estado muito deficitário, acredito que
caberá às Instituições de Ensino e às estruturas associativas como a AAUM, reivindicar um
Ensino Superior mais justo e inclusivo, com maior participação do Estado, em áreas como a
ação social. Só assim poderemos vislumbrar um futuro promissor para os milhares de jovens
que investem na sua formação, muitas vezes ‘obrigados’ a contribuir para as economias de
outros países.
No discurso de tomada de posse voltaste a chamar a atenção para a necessidade de
avançar com a construção da nova sede. Que perspetivas de concretização é que
existem neste momento?
De momento, não existem quaisquer perspetivas para a concretização da nova sede da
AAUM. Queremos um espaço perto dos estudantes, com condições para abrigar todos os
grupos culturais e académicos, dotado de todas as valências que uma instituição com a história
e atividade da AAUM necessita.
Quanto à RUM, para quando a mudança para as novas instalações?
Prevemos que essa mudança possa efetivar-se ainda durante o primeiro semestre de
2018.
A AAUM também tem assumido um papel muito interventivo no desporto. Em 2018
vamos receber o Campeonato Mundial Universitário de Ciclismo, cujo Comité
Organizador é presidido por ti. Quais são as expectativas?
Como em qualquer atividade deste cariz, as expetativas centram-se em trazer os
melhores atletas universitários das modalidades em prova, abrangendo vários pontos da
região. Não obstante, aquilo que acredito ser o grande ‘feito’ destas atividades reside no
legado que estas deixam no progresso da cultura desportiva na Academia e na Região.
A Gata na Praia e o Enterro da Gata são duas das iniciativas mais aguardadas pelos
estudantes ao longo do ano. O que nos podes avançar sobre estes dois eventos?
Quanto às Monumentais Festas do Enterro da Gata, decorrerão de 11 a 18 de maio. Pretendemos que esta edição possa ter um impacto social acrescido, onde o
tema escolhido e a envolvência da comunidade estudantil possam recuperar o cariz
reivindicativo de outros tempos. Quanto à Gata na Praia, muito brevemente anunciaremos o
local escolhido, sendo que nos encontramos em conversas com várias unidades hoteleiras de
forma a garantir uma semana inesquecível para os seus participantes.
Que mensagem gostarias de deixar aos estudantes da UM?
Gostaria de apelar ao envolvimento e à participação ativa da comunidade académica
nas atividades que lhe são dirigidas. A AAUM, as Escolas e Institutos, os núcleos de curso e secções, os grupos culturais, as equipas desportivas,
as comissões de residentes e toda a esfera da Academia promovem anualmente centenas de
atividades dirigidas a todos nós. A nossa participação e a experiência que dela advém são
fundamentais para que possamos, orgulhosamente, continuar a referir-nos à nossa “Casa” como
a “Melhor Academia do País”.
Texto: Ana Marques
Fotografia: Nuno Gonçalves