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Entrevista.com, 28.05.2018
“A Universidade do Minho tem sabido adaptar-se às exigências do nosso tempo.”
Luís Francisco Valente de Oliveira nasceu em 1937 em São João da Madeira. É doutorado e professor catedrático em Engenharia Civil pela Universidade do Porto, sendo ainda diplomado em Planeamento e Desenvolvimento Regional pelo Instituto de Estudos Sociais de Haia (Holanda) e em Planeamento de Transportes pelo Imperial College de Londres (Reino Unido), além de doutor honoris causa pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Atualmente, aposentado da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, é, desde 5 de junho, presidente do Conselho Geral da UMinho.


O que o levou a aceitar comandar os destinos do órgão colegial máximo de Governo e de decisão estratégica da UMinho?
O sentido de serviço e a disponibilidade que todos devemos ter para desempenhar cargos para os quais nos convidam e têm uma clara dimensão cívica.
Foi eleito Presidente do Conselho Geral (CG) da UMinho fará em junho um ano. Quais têm sido os grandes desafios neste período de mandato à frente do CG?
A mudança do reitor, a entrada em funcionamento de um novo Conselho Geral, a constituição como unidade orgânica de um núcleo de investigação importante (II-3B), a celebração do protocolo com a Bosch e os planos que todas as escolas têm para cumprir sempre melhor a sua missão…


Como define o seu perfil de atuação enquanto presidente do CG e em representação deste?
Como moderador de numerosas posições algumas vezes diferentes e como zelador do prestígio do Conselho e da sua representatividade.


Na sua opinião, o CG tem sabido cumprir a sua missão?
Suponho que sim.


Quais têm sido as maiores dificuldades? Tem sido fácil o consenso no seio do grupo?
Tem havido algumas divergências que, todos em conjunto, temos sabido ultrapassar.


Quais são as grandes linhas estratégicas de ação deste CG?
Cumprir o que está fixado na lei para as suas funções e ajudar, continuamente, à projeção da Universidade no tecido económico e social do País.


Na sua opinião, a universidade portuguesa tem beneficiado com esta “experiência” que é o CG?
Tenho ouvido o depoimento de atuais e antigos membros dos Conselhos Gerais. A opinião acerca do seu papel é, generalizadamente, relevante. Suponho que se torna importante não perder o sentido das suas funções, assumindo a responsabilidade por aquilo que decide.
O CG é composto por 12 representantes de professores e investigadores, quatro representantes de estudantes, um representante do pessoal não docente e não investigador e seis personalidades externas. Na sua opinião qual a mais-valia da inclusão dos elementos externos?
Introduzir no Conselho Geral uma visão vinda de fora, traduzindo preocupações alargadas em relação ao que seria uma perspetiva exclusivamente interna.


Considera a composição atual do CG equilibrada em termos dos diferentes grupos que o compõem?
Suponho que os representantes têm sabido bem traduzir, em relação a cada assunto, as preocupações dos seus representados.


Sente que os diferentes grupos assumem diferentes formas de pensar em função de quem representam ou colocam sempre os interesses da Universidade como um todo em primeiro lugar?
Sem deixar de refletir a forma como qualquer tópico tratado afeta mais ou menos o seu próprio grupo, em torno dos assuntos que interessam à Universidade, como um todo, temos conseguido chegar a posições consensuais. As fórmulas que têm sido aprovadas foram-no quase sempre por unanimidade, naturalmente, depois de alguns ajustamentos sugeridos pelos diversos membros do Conselho.


Quando tomou posse, a UMinho já era Fundação Pública de Direito Privado. No seu entender, e pelo que tem assistido até ao momento, esta foi uma boa opção?
Suponho que o tempo decorrido ainda não permite ser categórico. Mas, falando com aqueles que têm responsabilidades diretas na gestão de Universidades que adotaram o modelo fundacional, sou levado a concluir que se tratou de uma evolução positiva. Isto, particularmente, em relação às universidades com maior número de discentes e de docentes e com muitas atividades diversificadas. É possível que as universidades menos robustas tenham de permanecer na esfera direta do Ministério no que à sua gestão diz respeito. Mas as outras poderão inovar.


A UMinho também mudou de Reitor há poucos meses. Como tem sido a relação com Rui Vieira de Castro e sua equipa? A cooperação entre os dois órgãos tem sido positiva?
Não pode ser melhor. Além dos momentos formais, encontramo-nos algumas vezes para falar de assuntos da Universidade, por vezes visitando as unidades orgânicas, outras em conversas bilaterais. Eu gosto de testemunhar os progressos que têm sido conseguidos e de estar informado acerca das perspetivas futuras. O Senhor Reitor tem sido o melhor interlocutor que eu poderia ter, para toda essa vontade de conhecer bem o presente e o futuro da Universidade.


A UMinho é uma das mais prestigiadas universidades portuguesas e muito bem colocada nos Rankings internacionais. Qual a sua opinião sobre a gestão que tem sido feita pelas recentes equipas reitorais?
Os resultados mostram o acerto dessas políticas. Em quase todas as áreas há exemplos que podem servir de inspiração ou, mesmo, de emulação. Todos eles podem ser apontados como respostas imaginativas aos problemas que, nos nossos dias, se põem às universidades. Elas não concorrem entre si somente dentro do espaço nacional. A concorrência passa-se em âmbito europeu e, em certos setores, mesmo mais amplo. A Universidade do Minho tem sabido adaptar-se às exigências do nosso tempo.


Na sua intervenção aquando do aniversário da UMinho, apontou a importância da constituição de consórcios e parcerias entre a UMinho e empresas da região, realçando o potencial da constituição dos laboratórios colaborativos. Que objetivos e metas prevê nestas concretizações?
Que sejam reforçadas as relações entre as diferentes unidades da Universidade e as do tecido produtivo e social, de modo a serem geradas as inovações tecnológicas de que as primeiras destas precisam e os conhecimentos de que as segundas reclamam para serem tomadas as decisões que os seus numerosos problemas reclamam.


A Academia tem assistido a alguma agitação no seu seio, relativamente a questões de descongelamento de carreias, progressões, valorizações remuneratórias, programa de regularização extraordinária dos vínculos precários, entre outras. O que é que o Presidente do Conselho Geral pode dizer à Academia sobre estes assuntos?
Os problemas não são específicos da Universidade do Minho. São gerais. O Presidente do Conselho Geral não possui informação privilegiada acerca dos temas que fala. É sabido que, no caso de haver travagens e de elas durarem muito tempo, a geração de descontentamento é inevitável.


Como vê o futuro das Universidades e do Ensino Superior em Portugal?
Há algumas Universidades que estão a fazer mais pela vida do que outras. Mas isso acontece sempre e essa é a razão pelas quais há “rankings”. Felizmente algumas universidades portuguesas entraram já nos níveis superiores dessas listas internacionais e têm mesmo progredido, o que representa um sinal muito positivo. Verifica-se que há um empenhamento muito generalizado; aqueles que já estão em posições de relevo têm de continuar a fazer esforços para as manterem ou subirem, na certeza de que todas as outras estão a fazer o mesmo. Aquelas que ainda não figuram nessas listas têm perto delas bons exemplos para as inspirar. De um modo geral, está a verificar-se um progresso apreciável tanto na dimensão docente como na de investigação e isso é muito conveniente porque o progresso geral tem de conciliar, pelo menos, aquelas duas dimensões. Há outras, seguramente, mas são aqueles dois os pilares fundamentais.


Que mensagem gostaria de deixar à Academia?
Uma palavra de confiança! Quem chegou até aqui da forma como o fez dispõe de todas as condições para emparceirar com as melhores universidades europeias, para assegurar aos seus formandos as melhores condições para os preparar para a vida, e ao tecido produtivo e social em que nos encaixamos, o apoio que ele reclama para garantir a produção de riqueza e de conhecimentos, de uma forma contínua e sustentável.

Texto: Ana Marques

Fotografia: Nuno Gonçalves

Arquivo de 2018