António Murta é licenciado em Engenharia de Sistemas pela Universidade do Minho, tendo ainda concluído o MBA pelo ISEE (Universidade do Porto), assim como o Advanced Management Programme pelo INSEAD. Entre 1991 e 1997 exerceu funções de Diretor de Sistemas de Informação da Sonae Distribuição. Fundou a Enabler, empresa integradora de sistemas de informação focada em retalho, e ocupou o cargo de Vice-presidente na Wipro Retail após esta ter adquirido a Enabler. É ainda sócio fundador de várias outras empresas de TI, entre as quais a MobiComp (entretanto adquirida pela Microsoft), a IT Peers, a Profimetrics, a QuiiQ e a Cardmobili. Atualmente é Managing Director da Pathena, sociedade de investimentos que fundou com outros sócios. É ainda Diretor Não-Executivo da COTEC Portugal. Mais recentemente, foi nomeado Membro do CNEI – Conselho Nacional para o Empreendedorismo e Inovação, assim como representante de Portugal na Digital Agenda for Europe. Foi membro externo do Conselho Geral da Universidade do Minho no mandato de 2009-2013.
Foi aluno da UMinho. O que recorda desses tempos e o que mais o marcou na passagem pela Academia Minhota?
Foi o tempo mais feliz e livre da minha vida. A camaradagem com muitos, alguns ainda hoje amigos chegados, a aprendizagem de ser homem, o encontro com a minha esposa…
Porque decidiu estudar na UMinho?
Pela proximidade (sou de Braga), pela modernidade da oferta de cursos, pela modernidade dos Sistemas (Engenharia).
De que forma é que o trajeto na UMinho influenciou o seu futuro e a sua carreira?
Aprendi a aprender. A ter um pensamento sistémico perante os problemas. A ter uma abordagem abstrata/ formal – um grande Mestre (Professor José Nuno Oliveira).
Como caracteriza o seu trajeto até ao momento?
Um trajeto de tentativa e erro (sem complexos). Várias áreas de trabalho muito diferentes. Forte exposição internacional (que aprecio). Algumas lições de experiência (nem todas fáceis).
Cada vez mais se fala na importância das competências transversais. Qual a importância que atribui às experiências extracurriculares para o futuro de qualquer formado?
Acredito que a haver vantagem competitiva, ela está na intersecção. Acredito, pois, na transversalidade – não só entre hard sciences, mas também incluindo as soft sciences (Literatura, Artes, Música, Cinema, etc.). Guardo boas lembranças de dois cursos ditos “culturais” que fiz na UM ao tempo (Cultura Árabe; O Trabalho e a Técnica).
Enquanto empresário e empreendedor, como vê o nosso país e quais pensa que deveriam ser as prioridades estratégicas para os próximos anos?
Infelizmente as lições da última crise (2010-11) ainda não foram assimiladas pela Sociedade Portuguesa – basta ver o indicador de Aforro dos Portugueses a bater mínimos nesta altura.
Sobre as Prioridades Estratégicas, penso que devemos continuar a aumentar as Exportações até 50% do PIB; aforrar muito mais (Famílias e Empresas); aforrar para investir, não para consumir; aprofundar práticas de saúde contínua para defender a sustentabilidade do SNS; passar a mensagem a TODOS os Portugueses: temos de estudar toda a Vida! (mais do que tudo aos Sindicatos).
Foi Membro do CG da UM entre 2009 e 2017. Como caracteriza essa passagem pelo órgão máximo da Universidade?
Uma oportunidade de vivência Universitária diferente. Uma oportunidade de ver a boa gestão da UM – incluindo vê-la melhorar de forma continuada. Uma oportunidade de contribuir com uma perspetiva de fora para dentro.
Na sua opinião a Universidade Portuguesa tem beneficiado com esta “experiência” de inclusão de elementos externos no CG?
Claro que sim - sem margem para dúvidas.
Uma das principais decisões do CG foi a passagem da UM a Fundação Pública de Direito Privado. Acredita que a aposta foi ganha?
Ainda está a ser ganha. Significa maior autonomia e maior responsabilidade. Significa também menores limitações face às alocações de verbas pelo Governo – que não vejo como não possam ser não espartanas nos próximos muitos anos. Daí a necessidade da Fundação e de um cada vez maior foco da UM no seu papel – o de gerador de Empresas e Unidades de Negócio de Conhecimento – que criem alto valor acrescentado e fortemente exportadoras.
Na sua opinião, qual o caminho que a UM deve seguir no sentido de garantir a sua relevância a nível nacional e internacional?
Manter e elevar o compromisso com a excelência da investigação fundamental. Ser reconhecidamente a melhor Universidade Portuguesa em Investigação Aplicada e Transferência de Tecnologia. Ser reconhecidamente líder internacional em práticas de Educação Contínua (física e virtual).
É Co-Presidente da Comissão “UM Compromisso com a Sociedade”. O que o levou a aceitar esse desafio?
Desde logo o compromisso com a Sociedade. A implementação de projetos como o P5 (Medicina Personalizada para Crónicos) – tão necessários no nosso país. O de querer contribuir para iniciar um ciclo virtuoso de doações à UM – capazes de ter expressão séria de financiamento alternativo da UM.
Os EUA, por exemplo, têm uma grande tradição de fund-raising mas em Portugal é praticamente inexistente. O que pode ser feito para mudar essa cultura?
Dar o exemplo; Alargar o círculo dos que dão o exemplo; Mostrar os resultados; Alargar de novo e assim sucessivamente (em ciclo).
Existem alguns projetos relacionados com a vertente social. O que nos pode adiantar sobre isso?
Braga e Guimarães são cidades inscritas na história (de Portugal e também da Europa). Somos todos sociais (os homens) e a Universidade nunca pode esquecer isso (é como perder uma parte de nós mesmos). Daí ser natural que parte dos projetos de compromisso da UM sejam sociais, sejam eles de ajuda a diabéticos ou de preservação do “Espaço de Pedra e Letra”.
Que conselhos daria a um atual estudante da UM?
Que seja exemplo de valores humanos e éticos – digno desta Escola. Que continue a estudar toda a vida – aqui ou noutros lugares, mas sempre (como defesa da sua empregabilidade e da dos que o rodeiam).
Texto: Ana Marques
Fotografia: Nuno Gonçalves