Quem é Daniel Monteiro?
É, acima de tudo, um apaixonado por desporto, desde bem novo. Incentivado sempre pela família a praticar desporto, fi-lo nas modalidades de futebol e ténis, paralelamente ao meu percurso escolar. Tenho 26 anos, considero-me ambicioso e exigente por natureza e apaixonado por novos desafios. Foi desta forma que me “meti” nestas andanças e decidi dar de mim ao dirigismo estudantil e desportivo, com o grande objetivo de contribuir para a melhoria do nosso desporto nacional e acreditando que o desporto universitário seria um grande meio para alcançar esse objetivo. Costumo dizê-lo, há um potencial enorme por explorar no desporto universitário e, só muito recentemente, é que as instituições, sejam públicas ou privadas, e os diversos agentes, desportivos ou académicos, é que se foram apercebendo disso… mas felizmente, ainda foram (vão) a tempo!
Como surgiu a oportunidade de seres presidente da FADU e qual o balanço que fazes desta experiência?
Enquanto dirigente associativo, o desporto foi sempre uma prioridade dos meus mandatos. A par disso, o interesse pelo fenómeno desportivo e pelo seu desenvolvimento em Portugal levaram-me a estar cada vez mais por dentro do desporto universitário. No que toca ao balanço, o trabalho que temos vindo a desenvolver ao longo dos últimos três anos, nomeadamente na mediatização e na projeção da marca FADU e dos estudantes-atletas e clubes, diria que é o baluarte principal da atividade e dinâmica que procurei imprimir.
Em outubro de 2017, assumiste um segundo mandato à frente da FADU. Quais são as grandes metas e os principais desafios desta Direção?
Um mandato de continuidade tem como principal meta dar seguimento a um conjunto de projetos que estavam em curso, nomeadamente a projeção e consequente mediatização do desporto universitário, dos seus atores principais, os atletas, e da denominada carreira dual, valorizando-a junto da sociedade civil para que esta entenda os seus benefícios numa lógica de melhor formação para a cidadania. Continuar a conquistar novos palcos mediáticos, junto dos media, e com isso captar mais e novas receitas privadas para serem investidas na melhoria da qualidade das nossas organizações, é também uma aposta contínua, que quero destacar. No plano internacional, temos procurado profissionalizar as nossas participações, preparando-as ao detalhe conjuntamente com as respetivas federações desportivas de cada modalidade. Com isto, queremos promover o papel do desporto universitário na melhoria do desporto português, contribuindo para que jovens atletas se possam potenciar e atingir outros patamares, ao competirem internacionalmente num espaço privilegiado e sempre com um olhar atento das respetivas equipas técnicas nacionais, de cada modalidade. Naturalmente que todas estas áreas estão interligadas, constituindo assim o grande desafio de alertar os amantes do desporto em geral para a importância que o desporto universitário tem, no desenvolvimento dos atletas nacionais e no futuro do desporto português, que se constrói precisamente neste espaço.
Terminas o mandato em 2019. Como gostarias de ser lembrado enquanto presidente da FADU?
Mais importante do que a forma como serei lembrado, é a valorização da FADU enquanto estrutura desportiva, virada para o universo académico, mas também virada para o desporto português. Uma federação desportiva, reconhecida como tal, projetada nacional e internacionalmente, com uma estrutura profissional renovada e reforçada, capaz de corresponder aos desafios do presente, mas preparada também para o futuro. Uma federação mais reconhecida por parte do sistema desportivo nacional e da sociedade civil, que gera hoje o interesse do setor privado para investir neste espaço de eleição para o desenvolvimento do desporto português. No entanto, pela sua dimensão, os Jogos Europeus Universitários serão o evento marcante destes anos e todos os envolvidos estão a trabalhar para que seja um evento que orgulhe Portugal e possa ser um bom exemplo no que toca à organização desportiva no nosso país.
O desporto universitário já tem a visibilidade e o reconhecimento pretendido?
Pessoalmente, quero sempre mais, nem gosto de me acomodar ao que já foi conquistado. A cultura de exigência e ambição que hoje a FADU tem, obriga-nos a ambicionar por ainda mais visibilidade e reconhecimento. Temos vindo a subir vários degraus, fruto de uma aposta estruturada nesta área, como referi anteriormente, mas quando olhamos para o nosso lado e vemos a dedicação, entrega e esforço dos estudantes-atletas para conciliarem a carreira de atleta e estudante, automaticamente nos dá o click de que é preciso mais e que estes exemplos têm cada vez mais de ser conhecidos e reconhecidos como estruturais para um país mais desenvolvido, como todos ambicionamos.
Ao longo dos últimos anos temos ouvido a FADU reivindicar junto do Governo a existência de um Estatuto de Estudante Atleta. Em que ponto é que está esse processo e o que tem obstaculizado a sua concretização?
Esse é um processo que está em andamento e que será apresentado a tempo dos Jogos Europeus Universitários, tal como foi já prometido publicamente pelo Secretário de Estado da Juventude e do Desporto, João Paulo Rebelo. O estatuto do estudante-atleta é um documento muito importante para o Desporto Universitário, como estímulo até para que as Instituições de Ensino Superior reconheçam cada vez mais o desporto como um pilar essencial da sua oferta extracurricular. Queremos que seja um documento abrangente, capaz de nivelar as diferentes realidades da prática desportiva no ensino superior. É nessa linha que tem sido o nosso posicionamento nas reuniões de trabalho de construção do diploma, que têm existido entre a FADU e o Governo.
Sabemos também que o número de estudantes que abandonam a prática desportiva com a entrada no Ensino Superior é muito significativo. Que estratégias podem ser implementadas para combater esse fenómeno?
Este é um dos principais flagelos que queremos combater. A FADU tem um papel social importante na implementação de um estilo de vida saudável nos estudantes portugueses. Temos procurado combater este abandono de duas formas: promovendo o desporto informal nas academias portuguesas, através de um programa de apoio e, por outro lado, captando os estudantes que abandonaram a prática desportiva, habitualmente designada como federada, à entrada para o ensino superior, para os nossos Campeonatos Nacionais Universitários, para que possam utilizar estes momentos competitivos como forma de regressarem à modalidade, num nível adequado à sua vida académica. Este é, aliás, o público alvo do desporto universitário de competição: os jovens que foram praticantes desportivos federados e que, por um outro motivo, deixaram de o ser. Sem prejuízo claro de todos os outros jovens que querem e se interessam por se manter ativos a representar as cores da sua academia.
Como é que caracterizas a relação da FADU com a Tutela e com os restantes agentes desportivos e do Ensino Superior?
A FADU tem dado particular atenção a esse relacionamento, não só com as duas entidades que nos tutelam: o Ministério da Educação, pela via do Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ), e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, pela via da Direção Geral do Ensino Superior (DGES), mas também com as entidades desportivas nacionais. O Instituto Português do Desporto e da Juventude tem sido, em particular, um parceiro fundamental da FADU, reconhecendo cada vez mais o nosso papel e contributo para o desenvolvimento dos jovens atletas portugueses e das respetivas modalidades, com foco nas participações internacionais, que em conjunto com um número cada vez mais alargado de federações desportivas, descobriram um espaço privilegiado para potenciar os jovens atletas portugueses. Também com os agentes do ensino superior temos mantido uma relação colaborante e próxima, pois são afinal estes os verdadeiros motores do desporto universitário, através do seu trabalho diário e de captação no terreno de cada vez mais jovens para a prática desportiva. A este nível, há que agradecer o empenho e o compromisso das associações académicas ou de estudantes e das instituições de ensino superior, pela relevância e aposta crescente que tem sido dada à prática desportiva.
Recentemente tiveram lugar em Aveiro às Fases Finais dos Campeonatos Nacionais Universitários. Que balanço fazes da sua organização?
As fases finais dos Campeonatos Nacionais Universitários são o ponto alto da atividade nacional da FADU e são um momento de valorização do desporto universitário. Aveiro foi um anfitrião de excelência destas fases finais, que contaram com a maior cobertura mediática dos últimos anos através das transmissões no Porto Canal e do acompanhamento diário dos nossos parceiros de média, com foco no Jornal Record. O evento em si deu um salto qualitativo face às últimas edições, com um forte comprometimento entre a FADU e as entidades coorganizadoras, a Associação Académica da Universidade de Aveiro, a Universidade de Aveiro e a Câmara Municipal de Aveiro. Uma prova viva de que quando existe vontade em fazer acontecer, a sinergia positiva entre várias entidades para a organização de eventos desportivos acaba por dar os seus frutos. Foi precisamente isso que aconteceu em Aveiro
Estas Fases Finais acabam também por ser marcadas pelos incidentes que ocorreram no jogo da Final do Futebol de 11 e que levaram a FADU a pronunciar-se em comunicado, afirmando que ponderava suspender a modalidade. Essa é uma possibilidade que ainda está em cima da mesa?
Esse é um processo que está a seguir os trâmites disciplinares e judiciais e, tendo em conta isso, não é o momento adequado para acrescentar algo ao comunicado emitido pela FADU aquando do registo dessa ocorrência.
Coimbra recebe de 15 a 28 julho os Jogos Europeus Universitários. Quais são as expectativas para o evento?
São o maior evento multidesportivo alguma vez realizado em Portugal e constituem um marco de mudança no desporto universitário português, não só pelo evento em si, mas sobretudo pelo legado material e imaterial que vão deixar em Coimbra e no país. O estatuto do estudante-atleta é um desses legados, mas também a promoção de uma relação de excelência entre a FADU e o restante sistema desportivo nacional, alavancando o reconhecimento do papel da FADU e do desporto universitário para o desenvolvimento do desporto nacional. Localmente, em Coimbra, a reabilitação do Estádio Universitário de Coimbra será o grande legado deixado por estes Jogos, e que marcará certamente as próximas gerações de estudantes da Universidade de Coimbra.
Como estão os preparativos para o evento? Está tudo a decorrer dentro do planeado?
Qualquer evento de grande dimensão tem sempre detalhes limar, mas neste momento todos os prazos estão a ser cumpridos e a Associação Europeia do Desporto Universitário (EUSA) está inteiramente a par dos desenvolvimentos, tendo vindo a dar o seu aval à calendarização da organização portuguesa. Estamos expectantes por dar o “tiro de partida” e por ter connosco milhares de estudantes-atletas de toda a Europa!
A AAUM/UMinho recebeu recentemente o prémio de Universidade Mais Ativa da Europa em 2017 e a FADU foi distinguida, mais uma vez, como a Federação Desportiva mais Ativa da Europa também. Como presidente da FADU, que significado atribuis a estes prémios?
É um sinal importante que recebemos por parte da EUSA, da qual a FADU é membro fundador, que vem renovar o compromisso português com o projeto desportivo universitário europeu e vem premiar a organização do desporto universitário no nosso país, que proporciona o impressionante número de participações europeias e a elevada qualidade que as nossas organizações têm vindo a apresentar. Tanto a AAUM/UMinho como a FADU já receberam este troféu por mais do que uma vez, o que prova bem o seu dinamismo no contexto europeu, e a capacidade de organização de eventos internacionais universitários. No caso da AAUM/UM, em particular, importa uma vez mais destacar o importante projeto desportivo iniciado há vários anos, que tem sido seguido por sucessivas equipas reitorais e direções da Associação Académica, fazendo da academia minhota uma academia exemplo, no que concerne à organização e números de participações que ano após ano evidencia.
De 28 de julho a 4 de agosto, a FADU será ainda coorganizadora, juntamente com a AAUM e a UMinho, do Campeonato Mundial Universitário de Ciclismo. Como está a preparação e o que esperas deste evento?
O ciclismo é uma modalidade com forte adesão popular em Portugal, em particular na região do Minho. A par disso, a FADU, a AAUM e a Universidade do Minho são instituições com uma grande experiência na organização de eventos internacionais universitários, estando assim reunidos todos os ingredientes para um grande evento, que mais uma vez valorize não só o desporto universitário, como a região e o país, e sirva de montra para o sociedade civil perceber que aqui, no desporto universitário, se organizam eventos de qualidade, capazes de gerar um retorno desportivo e financeiro realmente importantes.
Em 2018, a cidade de Braga é Cidade Europeia do Desporto. Tem havido alguma coordenação com a FADU no sentido de incluir o desporto universitário na sua programação?
A realização do Campeonato do Mundo Universitário de Ciclismo é um dos maiores exemplos dessa coordenação. Tendo em conta a importância da AAUM para o desporto no concelho de Braga, acreditamos que o desporto universitário ocupará um espaço central nesta Cidade Europeia do Desporto. Ao longo dos primeiros meses todos os nossos momentos competitivos disputados em Braga receberam por parte da cidade um excelente acompanhamento e divulgação, e temos recebido por parte da autarquia, estendido naturalmente à academia minhota, um interesse constante em receber mais e mais momentos do desporto universitário português. Seguindo precisamente esse interesse e apoio que a cidade tem vindo a oferecer ao desporto universitário e à FADU, posso desde já adiantar que, até ao final do ano, será organizado mais um grande evento na Cidade Europeia do Desporto, promovido no centro da cidade e aberto a toda a comunidade.
A AAUMinho apresentou também recentemente a sua candidatura às Fases Finais dos Campeonatos Nacionais Universitários de 2019. Já há resposta da parte da FADU?
Existiram duas candidaturas às Fases Finais dos Campeonatos Nacionais Universitários de 2019 e para já a FADU ainda não tomou a sua decisão, a qual será anunciada muito em breve, até para dar possibilidade a todas as entidades de preparar o evento com a maior antecedência possível.
Que mensagem gostarias de deixar aos estudantes do Ensino Superior?
A mensagem que gostaria de deixar vai no sentido de incentivar à prática desportiva no ensino superior. Um estilo de vida saudável é uma condição essencial para uma boa carreira académica e o desporto universitário é um palco privilegiado para tal. A par disso, a prática de desporto no ensino superior é também um veículo social importante, proporcionando experiências únicas de convivência entre estudantes de várias academias do país. Portanto, não se acanhem nem se acomodem, dirijam-se à vossa Associação Académica ou de Estudantes e/ou à vossa Instituição de Ensino Superior e informem-se sobre como se podem manter ativos, sobre como podem praticar desporto e fazer parte desta enorme família que é o desporto universitário português!
Texto: Ana Coimbra