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Entrevista.com, 06.05.2016
“Estamos a falar de uma Federação Internacional onde se chega quase a trabalhar 24h por dia”
Mundo
Roque Teixeira, Mestre em Engenharia e Gestão Industrial, é mais um dos casos de sucesso de ex-alunos da Universidade do Minho que tiveram uma forte ligação ao desporto universitário. Enquanto presidente da AAUMinho foi responsável pela organização do Europeu Universitário de Basquetebol em 2006 tendo sido posteriormente em 2008 Presidente do Comité Organizador do Mundial Universitário de Badminton, Secretário-Geral Adjunto dos Mundiais Universitários de Futsal e Xadrez em 2012 e um dos grandes responsáveis pelo sucesso organizativo e desportivo do Mundial Universitário de Andebol em 2014. Após uma passagem pelo Governo e pela Universidade da Beira-Interior, este Engenheiro volta a abraçar um grande projeto desportivo, desta feita na Federação Internacional de Pentatlo Moderno onde é o responsável pelo Marketing e Imagem.


Quem é Roque Teixeira?

O Roque Teixeira é uma pessoa nascida no Peso da Régua há 34 anos que teve a oportunidade de moldar a sua personalidade através do contacto com diversas pessoas, dos mais diversos quadrantes. Esta aprendizagem contínua permitiu-me ter a possibilidade de desenvolver valências, abraçar desafios e obter conhecimento que possibilitaram o meu crescimento não só como pessoa mas também como profissional. Considero-me uma pessoa ativa, interessada e curiosa, sempre pronta a abraçar novas oportunidades e desafios.

Descreve-nos o teu trajeto académico e profissional?

Completei o Mestrado em Engenharia e Gestão Industrial na Universidade do Minho onde entrei inicialmente em Engenharia de Sistemas e Informática (atualmente LEI). Durante a minha passagem pela Universidade do Minho tive a oportunidade e o privilégio de ser Presidente da Associação Académica da Universidade do Minho (2005 e 2006).

Iniciei a minha vida profissional na Administração das Pastelarias e Pão Quente Nobreza em Braga, seguindo-se a oportunidade de ser Assessor do Secretário de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do XVIII Governo Constitucional. Depois voltei à Universidade do Minho, mais especificamente ao Departamento Desportivo e Cultural dos Serviços de Ação Social tendo tido, entre outras, a responsabilidade da organização dos Campeonatos Mundiais Universitários de Futsal e Xadrez em 2012. Posteriormente assumi o cargo de Administrador dos Serviços de Ação Social da Universidade da Beira Interior tendo, no final do mandato voltado ao DDC/SASUM para a organização do Mundial Universitário de Andebol 2014. Desde Agosto desse ano que sou o responsável de Marketing e Media da Federação Internacional de Pentatlo Moderno.

O que significou para ti seres Presidente da Associação Académica da Universidade do Minho (AAUM)?

Tive a oportunidade de até agora ter abraçado projetos fantásticos mas sem dúvida que um dos mais marcantes até ao momento foi o facto de ter tido o privilégio de ser Presidente da AAUM. Não só pela experiência em si mas também pela responsabilidade inerente ao cargo. Uma Universidade jovem que tinha e tem na sua Associação Académica um interlocutor ativo na procura do bem-estar dos seus estudantes obriga ao desenvolvimento pessoal dos seus dirigentes em todos os instantes. E isso, passa não só pela gestão corrente, quer administrativa quer financeira, mas também por coisas simples como a forma de estar, falar ou até escrever. É sem dúvida uma experiência que todos os estudantes deveriam ter.

Esta passagem pela AAUM moldou o teu futuro enquanto pessoa e profissional?

Sem dúvida. Como disse anteriormente, coisas simples como a forma de estar, falar, reagir às contrariedades e ao stress fazem com que a nossa personalidade se adapte. Em todo o meu percurso profissional tentei sempre levar para os locais seguintes algumas das boas experiências que tive. Por exemplo em relação à AAUM, algumas das folhas de cálculo usadas na parte orçamental serviram de base para aquelas que uso ainda hoje.

Fizeste parte do XVIII Governo Constitucional de Portugal. Como descreves essa experiência?

Trabalhar num Governo, seja ele de qualquer País, é sempre uma experiência onde o espírito de missão e de procura pelo bem geral tem de permanecer no nosso dia-a-dia. Juntando a isso o facto de ter tido a oportunidade de trabalhar com o Ministro Prof. Mariano Gago, com o Secretário de Estado (e agora Ministro) Prof. Manuel Heitor e com um conjunto fantástico de pessoas com os mesmos ideais de responsabilidade tornou a experiência ainda mais completa e enriquecedora. Tudo o que é feito num Gabinete Ministerial tem impacto no dia-a-dia de uma sociedade o que só por si torna a experiência única.

Como surgiu a tua ida para a Federação Internacional de Pentatlo Moderno?

Como em tudo na vida é necessária alguma sorte. Na altura em que estávamos a preparar a organização do Mundial Universitário de Andebol, a Federação Internacional de Pentatlo Moderno (UIPM) estava a encetar os contactos para que o Pentatlo Moderno fosse mais uma modalidade no quadro dos desportos dos Mundiais Universitários, através do contacto com o Paulo Ferreira (ex-aluno da Universidade do Minho e Diretor dos Campeonatos Mundiais da FISU). No meio de algumas conversas foi-lhe falada da necessidade da UIPM encontrar uma pessoa jovem para tratar de toda a área de marketing e de uma nova imagem do desporto. A partir daí foi um processo relativamente rápido com entrevista, alguns projetos onde apresentei as ideias que tinha, até ser aceite. Se essa conversa tivesse sido com outra pessoa, talvez nunca tivesse tido esta oportunidade.


Em que se alterou a tua vida ao abraçares este projeto?

Foi uma volta completa de um dia para o outro. Finalizamos o Mundial Universitário de Andebol num domingo e na 2a feira estava a começar uma vida nova em França (Nice). Tive de mudar de hábitos, horários, passar a ter contacto com família, namorada e amigos através da internet e abraçar os poucos fins-de-semana que tenho oportunidade de ir a Portugal como se fossem as férias do ano.

De todas estas experiências profissionais até ao momento, qual foi para ti o maior desafio?

Como já referi, tive a oportunidade de passar por diferentes responsabilidades e trabalhos até aos 34 anos. Todas elas enriquecedoras e de todas trouxe um conjunto de experiências e amigos que ficarão para a vida. Mas sem dúvida que a experiência atual é a mais exigente, não só pela distância de casa mas também por todas as diferenças em relação aos trabalhos anteriores. Estamos a falar de uma Federação Internacional onde se chega quase a trabalhar 24h por dia devido aos diferentes fusos horários das Federações Nacionais. Junta-se a isso o contacto com pessoas de todo o mundo com diferentes personalidades e o facto de, sendo uma modalidade Olímpica desde 1912, ser pouco conhecida. O trabalho de melhorar essa imagem neste desporto é muito exigente mas também desafiante e cativante.

O que é o Pentatlo Moderno?

O Pentatlo Moderno é um desporto criado pelo fundador dos Jogos Olímpicos Modernos, Barão Pierre de Coubertin, com o objetivo de encontrar o atleta mais completo dos Jogos Olímpicos. Faz parte do programa olímpico desde 1912 e conjuga 5 modalidades completamente distintas que são praticadas por cada atleta durante um dia. Começam o dia com 200m livres de natação, passando depois para a esgrima onde combatem entre todos num toque único e depois entram no percurso da equitação onde encontram 12 saltos. Um dado curioso é que, ao contrario das provas normais de equitação, os atletas só conhecem e têm contacto com o cavalo com que saltarão 20 minutos antes de entrarem na arena.

Por fim os atletas fazem um evento combinado onde correm 800m e têm de atingir um alvo de 6cm a 10m de distância. Este procedimento é repetido 4x e o primeiro a cruzar a linha de meta é o vencedor.

Qual a tua função e o que fazes exatamente?

Sou o responsável de Marketing e Media da Federação com a responsabilidade de toda a imagem e apresentação da Federação. Para além de todo o contacto com organizadores e responsabilidade pela imagem diária da Federação, em todas as provas é necessária a preparação da imagem do evento que passam por banners , pódio, medalhas, música e apresentação dos atletas. Para além disto é necessário todo o contacto com as equipas de televisão, acordando desde a posição câmaras até ao contacto com atletas. Por fim, todas as redes sociais e informações que a federação transmite é também da responsabilidade deste departamento que tem mais 1 pessoa.

Relativamente à tua experiencia atual, que balanço fazes até ao momento?

O balanço só poderá ser feito depois dos Jogos Olímpicos. Tem sido muito exigente e interessante tentar adaptar a realidade de uma Federação que tem os hábitos muito enraizados. A imagem da Federação e dos eventos tinha de ser uniformizada e esse tem sido a base do trabalho que tem sido feito. Em conjugação com isso toda a apresentação do evento desde a entrada dos atletas, passando pelas câmaras de televisão e fotógrafos até às músicas tocadas foi revisto e está a começar a ter um feedback bastante positivo. No entanto trabalhar com diferentes organizadores, diferentes países e diferentes culturas torna tudo mais difícil mas também mais desafiante.

Estudaste e trabalhaste na UMinho. Mantens alguma ligação à Universidade?

A UMinho continua ligada ao meu dia-a-dia como continuará sempre. Foi onde tive a minha formação, é a Universidade da cidade onde tenho a minha casa e onde tenho a maior parte dos meus amigos. Embora à distância, tento sempre estar a par do que se vai passando e continuo a sofrer com os resultados das equipas da UMinho e com a equipa de Futsal do SCBraga/AAUM.


Que memórias guardas da tua passagem por esta academia?

Diz-se que a melhor fase da vida de qualquer pessoa é a vida Universitária. Eu afirmo, sublinho e ponho aboldessa afirmação. Tive a oportunidade de estar numa Universidade jovem, dinâmica e acima de tudo uma Universidade de Futuro. Poderia enumerar imensas memórias boas que partilho com tantas pessoas quando estamos juntos mas escolhendo um momento terá de ser obrigatoriamente o discurso de fim do meu segundo mandato como Presidente da AAUM. Por tudo... pelo fim de um ciclo na minha vida, pela emoção, pelo sentido de dever cumprido, por todos os que me acompanharam naquele percurso, pelo grupo fantástico de pessoas que fez parte das direções das quais fiz parte e acima de tudo pelos estudantes que tive a honra de representar.

Sempre ambicionaste ter este tipo de experiência no estrangeiro? O que mais te fascina?

Com a oportunidade que tive de fazer parte da organização de vários eventos internacionais, começas obrigatoriamente a imaginar que poderias e gostarias de ter uma experiência no estrangeiro. Se estava à espera que acontecesse como aconteceu, não estava! Mas sair da zona de conforto, para um País e cultura diferentes e acima de tudo para um desporto que me poderia dar uma abrangência enorme era um desafio que não poderia recusar.

Quais as principais exigências deste tipo trabalho?

Acima de tudo é muito exigente a nível pessoal. Estar longe da família, da namorada, dos amigos é algo muito difícil. Tudo o resto é uma questão de hábito que nos fortalece.

A nível profissional uma das maiores exigências é o facto de contactar com diferentes formas de trabalhar e diferentes culturas. É necessária muita adaptação na forma de apresentar os desafios dependendo de quem está à nossa frente. Tudo o resto, com dedicação e empenho é conseguido.

Gostarias de voltar a Portugal?

Sem dúvida que é o meu objetivo. Nunca deixou de o ser desde o dia em que saí do País. É o meu País e por mais dificuldades que Portugal tenha é a minha casa e o que quero levar desta experiência é a possibilidade de voltar e trazer algo de bom para o que seja o meu futuro.

Queres transmitir alguma mensagem aos alunos e futuros graduados da UMinho?

Gostaria de lhes garantir que estão na realidade numa fantástica Universidade de onde sairão com valências que lhes serão essenciais para o futuro. Nos dias de hoje, o quadro da formação de base não é tão essencial como no passado mas a adaptabilidade da formação ajuda a que os desafios do mercado de trabalho sejam abraçados de forma mais simples. A UMinho, por tudo o que tem no seu quotidiano permite isso. Seja através do tipo de formação, seja através de atividades extracurriculares como o desporto ou através das atividades da Associação Académica. Aproveitem os anos na Universidade. São sem dúvida os melhores anos da nossa vida!


Texto: Ana Coimbra

Fotografia: Nuno Gonçalves


(Pub. Mai/2016)

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