Qual a sua formação e trajeto académico?
Sou Licenciado em Física pela Universidade de Aveiro (1990) e
Doutorado em Física pela Universidade do Minho (2001). Entre o
final da Licenciatura e o meu ingresso na UMinho, tive uma
experiência profissional de curta duração, mas sempre ligado à
Física.
Como caracteriza a sua função de diretor de
curso?
É um trabalho muito exigente se o quisermos fazer bem. Existem
várias áreas de atuação bastante diferenciadas, mas que exigem
uma atenção e disponibilidade permanente. No caso da Licenciatura
em Física, pela singularidade de estarmos a lançar um novo
percurso, em Física Médica, há todo um trabalho intenso de
preparação, que está a ser feito agora, para que tudo esteja em
condições ótimas de funcionamento no início do próximo ano.
Tirando este aspeto mais complexo, mas também mais estimulante,
há o trabalho contínuo de gestão corrente, analisando e
resolvendo todas as solicitações e pedidos que vão surgindo, há a
questão fundamental da divulgação e da interação com a academia e
com a sociedade (incluindo entrevistas ao UMDicas?), e a atenção
permanente que é necessário dispensar aos alunos do curso,
tentando estar atento aos problemas de modo a conseguir antecipar
soluções.
O que o motivou a aceitar "comandar" este curso?
Conheço bastante bem o Curso. Lecionei durante vários anos
diferentes UCs em diferentes anos letivos. Participei como membro
em várias Comissões deste Curso e quando, no ano passado, surgiu
o convite para assumir a direção, aceitei-o com normalidade.
Tinha participado ativamente na elaboração do processo de
reestruturação do curso e senti também alguma ?obrigação? em dar
continuidade a todo um trabalho anterior em que também fui
estando envolvido. O facto de saber à partida que poderia contar
com os outros membros que compõe a atual direção foi também
bastante importante na decisão.
As experiencias anteriores têm-no ajudado no cumprimento
da sua função de diretor de curso?
Certamente. E acima de todas as outras uma que já referi no ponto
anterior relacionada com o contacto próximo que fui tendo com os
alunos ao longo dos anos.
Quais são as maiores dificuldades no cumprimento da sua
função?
Na conjuntura atual à Comissão de Curso pede-se a quadratura do
círculo. Numa altura em que é necessário lançar um "produto novo"
para o mercado, os recursos que temos para o fazer são
extremamente limitados, quando existem. Há todo um trabalho de
organização e divulgação do curso, na sua nova forma, que está
seriamente ameaçado por essa escassez de recursos. O estado de
debilidade financeira do departamento do qual dependemos
condiciona fortemente a nossa ação. Tentamos recorrer à
imaginação, mas não chega para podermos fazer um trabalho
"profissional" nessa vertente.
Um outro aspeto que condiciona recorrentemente a nossa ação é a
burocracia, ainda demasiado pesada. Embora agora numa forma mais
"eletrónica", continua a ter o mesmo efeito paralisante. São
precisos demasiados passos e autorizações para resolver o que
quer que seja e por mais simples que seja.
No seu entender, porque é que um futuro universitário
deve concorrer à Licenciatura em Física?
Porque vai escolher uma Licenciatura que lhe vai proporcionar um
conjunto de conhecimentos e de instrumentos que o vão preparar
solidamente para os embates de uma futura vida profissional. Um
curso que lhe vai dar opções de escolha, não o confinando à
partida a uma profissão específica e que lhe vai permitir aceder
a um mundo novo no que concerne ao seu entendimento da Natureza e
do seu funcionamento.
A Física, na sua abrangência, é uma ciência integradora do
conhecimento científico e tecnológico, intimamente ligada a
outros domínios do saber como são a Matemática, a Química, a
Biologia, as Ciências de Computação, as Engenharias e
outras.
Quais são na sua opinião os pontos fortes deste curso? E
os pontos fracos?
A qualidade dos alunos que temos formado ao longo dos anos é o nosso ponto mais forte. Temos um número significativo de antigos alunos espalhados pelo mundo, a trabalhar em ambientes muito competitivos e com resultados assinaláveis. Esse é o melhor indicador do trabalho que tem sido feito, assente num corpo docente estabilizado e com grande competência.
O ponto mais fraco reside na nossa crónica incapacidade de
mostrarmos e valorizarmos o trabalho que fazemos. Um Licenciado
em Física ainda continua a ser visto pela sociedade como ?uma ave
rara?. A Física sempre foi vista pela comunidade como um edifício
fechado. Algo demasiado esotérico, só ao alcance de alguns. E não
tem de ser assim, porque isto nos limita na nossa capacidade de
atrairmos os melhores.
O que caracteriza este curso da UMinho relativamente aos
cursos de Física de outras universidades?
Há algumas marcas distintivas, embora assumamos uma postura cautelosa uma vez que pretendemos Licenciados em Física e não em qualquer outra área. Temos uma identidade forte nesse aspeto. Isso não nos impede de abrir outros caminhos. Ainda a recente remodelação do curso teve como objetivo a introdução de um novo percurso em Física Médica. É uma opção inovadora a nível de Licenciaturas em Portugal. Um outro fator que cremos ser distintivo é a grande componente laboratorial associada à Licenciatura. Os nossos alunos "mexem na Física", o que introduz na sua formação uma mais-valia assinalável que podem explorar em contexto profissional.
Existem hoje em dia excesso de profissionais em
determinadas áreas. O que podem esperar os alunos da Licenciatura
em Física quanto ao mercado de trabalho?
Este não é, manifestamente, o caso. O número de licenciados em
Física é relativamente baixo e têm sido absorvidos pelo mercado
de trabalho sem grande dificuldade. Além disso, a formação de um
Licenciado em Física não o limita a uma área específica, antes
lhe fornece um conjunto de conhecimentos e instrumentos que lhe
permitem facilmente a adaptação a diferentes realidades. A
capacidade de equacionar e resolver problemas, partindo de uma
formação sólida de Física e Matemática, acaba por se tornar, com
frequência, um valor acrescentado para os licenciados em Física.
As carreiras seguidas pelos antigos alunos da Licenciatura
mostram um espetro largo de saídas profissionais, que vão desde
laboratórios de investigação em instituições públicas e privadas,
empresas, industrias, hospitais.
Quais são os maiores desafios de um recém-formado da
Licenciatura em Física?
O maior desafio é o de se afirmar perante um mercado de trabalho
que, em grande medida, desconhece o que é o trabalho de um físico
e qual o potencial e a capacidade destes licenciados. É frequente
percebermos que muitos dos ?empregadores? com quem contactamos
tem uma grande falta de informação a este respeito, muitas vezes
na fronteira da ignorância, achando que estes jovens "cientistas"
não cabem nos perfis que entendem adequados para as suas empresas
ou instituições. Há ainda a ideia que os cientistas são para as
Universidades, e que nas empresas não se pode perder tempo a
pensar, num contraponto errado entre o pensar e o executar. Mudar
esta mentalidade é fundamental para o próprio país, mas é um
processo geracional complexo.
Obviamente que há já empresas que reconhecem e procuram os jovens
físicos. No entanto, num contexto do crescimento do número de
licenciados nesta área, esse número tem necessariamente de
crescer.
Quais são as prioridades do curso nos próximos
tempos?
No muito curto prazo, a divulgação do novo percurso em Física Médica. Sendo um novo "produto" precisa de ser divulgado e dado a conhecer aos potenciais interessados e à sociedade em geral. Num contexto que ainda é de grandes restrições e dificuldades, esta não é uma tarefa menor.
Independentemente desse aspeto, há a necessidade permanente de captar novos e bons alunos, tentando sempre chegar aos potenciais candidatos mostrando-lhes as boas razões para virem para este curso e para esta Universidade.
Quais os principais desafios desta
licenciatura?
Dar-se a conhecer, abrir-se para o exterior. O de tentarmos ver e
ser vistos para além do horizonte que tem sido o nosso. O esforço
que temos feito para concretizar este objetivo tem sido
enorme.
Estarmos sempre atentos aos novos desafios. Hoje, tudo muda muito
rapidamente e a Universidade, onde a Licenciatura se inclui, tem
que ser capaz de acompanhar estes novos ritmos.
O maior desafio de todos será certamente o de conciliar a
resposta a esses novos desafios com uma marca distintiva de
qualidade e rigor que cremos já ser nossa. Só esses atributos,
comprovados pela alta qualidade dos nossos licenciados, nos
permitirão cimentar a nossa credibilidade perante a
comunidade.
Com a descoberta das "Ondas gravitacionais", o mundo foi ainda
agora confrontado com mais um extraordinário avanço no
conhecimento, com consequências ainda difíceis de imaginar. Mais
uma vez a Física estava lá. É essa a mensagem que temos de
passar. A Licenciatura tem de se assumir como parte deste
processo de evolução do conhecimento, para que quem pensa vir
estudar Física também possa sentir que faz parte e que pode ser
ator desse mesmo processo.
Texto: Ana Coimbra
Fotografia: Nuno Gonçalves
(Pub. Mai/2016)