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Entrevista.com, 07.07.2015
“Sinto que este desafio me fez crescer muito como pessoa e como profissional.”
Portugal
Filipa Godinho assumiu a presidência da Federação Académica de Desporto Universitário (FADU) há quase dois anos, sendo este o seu segundo mandato à frente dos destinos da federação que gere o desporto universitário nacional. A jovem estudante assume que atualmente e depois deste trajeto, é alguém mais completa, mais confiante e mais capaz, deixando o desafio para os que possam que "são oportunidades únicas". O UMdicas conversou com a dirigente que nos fez um balanço da sua experiência, falou do seu futuro e da FADU, dos desafios e vitórias do desporto universitário entre muitas outras coisas.

Quem é Filipa Godinho?

É uma jovem estudante, que teve a oportunidade de liderar um grande projeto à frente do desporto universitário português. Hoje, tenho a certeza que sou uma pessoa com mais valências, mais conhecimento, mais capacidade de trabalho. Sinto que este desafio me fez crescer muito como pessoa e como profissional. Neste momento é uma pessoa com o desejo de que possa ter mais oportunidades de se desafiar e desafiar as suas capacidades.

O que te levou a assumir a presidência da FADU?

A experiência que tinha adquirido no mandato anterior foi sem dúvida o que me deu segurança para agarrar o desafio. Para além disso, o "amor à camisola", torna-se essencial para olhar para o desporto universitário com a ambição de querer mais e de nos dedicarmos diariamente. Claro que, também o apoio daqueles que nos rodeiam, se torna essencial para ganhar forças para a tarefa.

O que significa para ti ser presidente da FADU?

Significa pensar diferente, significa estar constantemente a encontrar soluções e querer elevar a causa para a qual estamos dedicados. Significa ter a confiança daqueles que trabalham na nossa equipa e buscar muito pela ponderação e pela convergência de objetivos. O Presidente acaba por ser o principal responsável por fazer passar as mensagens que o universo do desporto universitário quer passar e prestigiá-lo.

Que diferença notaste na tua passagem de Vice-Presidente para Presidente?

São papéis bastante diferentes, na posição de Vice-Presidente foquei-me sobretudo na área para a qual estava responsável, como Presidente é preciso ver a FADU como um todo e conseguir dedicar-me a todas as partes. Pensar a instituição interna e externamente.

Quais foram as grandes metas desta direção?

Sobretudo, as metas foram aumentar o número de estudantes-atletas no ensino superior, tornar o desporto universitário mais atrativo e com um acesso mais fácil. Esse é um trabalho que tem vindo a ser feito com as várias Instituições de Ensino Superior (IES) e com as Associações Académicas e de Estudantes e Estruturas Estudantis (AAEE). O estatuto estudante-atleta foi desde início uma prioridade para esta direção. Tentar encontrar soluções para que cada vez mais IES sejam sensíveis à existência de enquadramento regulamentar para os estudantes que passam grande parte do seu tempo dedicados, não apenas ao estudo, mas também a uma prática desportiva. É importante não esquecer que também neste papel o estudante adquire valências que completam e complementam a sua formação como individuo e profissional, afinal é uma das grandes tarefas da passagem pelo ensino superior, criar cidadãos ativos.

Após quase dois anos à frente dos destinos da FADU, que balanço fazes desta experiencia?

Para mim pessoalmente, posso dizer que ainda bem que agarrei esta oportunidade e que a estou a aproveitar da melhor forma. Para o desporto universitário e para a FADU, penso que estou a ajudar a que esta grande estrutura possa continuar a crescer e a ganhar cada vez mais o seu espaço. Acredito que contribuí para o seu crescimento e deixo muitos mais desafios em cima da mesa para serem continuados, um legado de crescimento e melhoria.

As tuas expectativas têm sido correspondidas?

Penso que é sempre difícil corresponder totalmente a todas as expetativas. Idealizamos as coisas de uma forma e ao longo do "percurso" percebemos que temos de fazer vários "desvios" para chegar ao "destino"final que poderá nessa altura já nem ser o mesmo. Por isso, posso dizer que de uma ou outra maneira tenho conseguido alcançar algumas das minhas expectativas. Podem ficar algumas por cumprir porque, apesar de inicialmente parecer que dois anos de mandato é muito tempo, a verdade é que passa tão rápido que parece que não dá tempo para fazer tudo, mas ainda assim posso dizer que em equipa conseguimos chegar a bom porto.


Quais foram as grandes mudanças/alterações implementadas na FADU durante a tua direção?

Não sou da opinião que grandes mudanças sejam benéficas para as estruturas e por isso não sou da opinião que tenham havido grandes mudanças, até porque os tempos passam e os desafios vão sendo diferentes, logo, podem haver adaptações quando as tarefas também são diferentes. A nível nacional temos sido mais exigentes com as organizações, que é imprescindível para que queiramos credibilizar a participação e a competição. Temos, deste modo, trabalhado com as federações das modalidades no sentido de articular pequenas coisas que podem ser fundamentais no sucesso destas modalidades, pelo know-how que nos podem transmitir, tornando as adaptações mais eficazes quando existe esta sinergia. A procura de novas soluções e tendências é também essencial para motivar mais pessoas a envolverem-se no desporto universitário e temos procurado isso. A nível internacional penso que estamos a "viver"muitos bons momentos. Tanto a FADU como os seus clubes têm tido um enorme sucesso a nível internacional, tanto na participação como na organização, neste campo penso mesmo que temos também conseguido participações internacionais bem enquadradas. Nos tempos que correm fazer isto tudo só tem impacto se for bem comunicado e também nessa área temos tentado crescer com suportes que tornem a informação mais fluida e mais atrativa.

Com este mandato a terminar em outubro,pensas continuar ou o ciclo Filipa Godinho na FADU termina no fim deste mandato?

Acho que a FADU é uma grande oportunidade para aqueles que têm a ousadia de a agarrar, parece-me que esta experiência deve ser vivida por um maior número de estudantes possível e só quem passa por ela, percebe como é viver esta experiência, acho que por isso está na hora de dar lugar a outros estudantes que possam continuar este trabalho.

Quando deixares a FADU, quais serão as maiores aprendizagens que levas na bagagem?

Certamente sairá alguém mais completa, mais confiante e mais capaz. Aprendi muito ao longo da minha passagem pela FADU, com as direções, com os elementos da FADU, mas também com todo o universo FADU. É, sem dúvida, o período da minha vida que mais me formou, abriu os horizontes e que me deu a oportunidade de saber o que é gerir "uma casa" com um quarto de século de vida. Tenho a certeza que num percurso normal de estudante e posteriormente profissional, seria impossível ter uma experiência destas tão cedo. Sei o que é liderar uma equipa, mas ao mesmo tempo saber trabalhar em equipa. São oportunidades únicas e eu sinto que soube aproveitá-la.

Como gostarias de ser lembrada enquanto presidente da FADU?

Tenho a sorte de comemorar no meu mandato os 25 anos da FADU e penso que esta é uma marca importante para a estrutura pela qual serei lembrada. Nesta comemoração acabamos por recordar todos os que por aqui passaram, presidentes, membros dos órgãos sociais e pessoas que mesmo sem passarem na FADU, com o seu papel, contribuíram à sua maneira para que a FADU seja aquilo que é hoje, sinto que no fundo somos uma família e gostaria de ser recordada assim mesmo, que fiz parte desta família e que tive a capacidade de também contribuir para a engradecer.

Quais devem ser para ti as grandes opções da FADU para os próximos anos?

Sem dúvida que estamos num momento em que é necessário crescer e alargar horizontes, é preciso encontrar novas soluções para envolver cada vez mais estudantes nas várias possibilidades que o desporto pode proporcionar. Num momento em que falamos frequentemente da saúde e dos hábitos de vida saudável, infelizmente falamos também das taxas de obesidade infantil e nos jovens, a crescerem muito rapidamente. Temos de conseguir dar resposta e estimular os estudantes a praticarem algum tipo de atividade física. Apesar do estatuto estudante-atleta ter vindo a dar grandes passos, falta a parte da sensibilização, mostrando aos professores universitários as vantagens do desporto ao contrário da ideia que possa estar criada de que o desporto não deve retirar as atenções do estudo. A verdade é que é um complemento que pode ser muito importante para a formação do estudante e deve ser encarado dessa forma. Se queremos dar acesso a mais estudantes temos de lhes dar as condições para conciliarem ambas as tarefas, de estudar e de praticar algum desporto ou qualquer outra atividade que o complete. Claro que os níveis de envolvimento são diferentes e também isso deve ser refletido e adaptado, mas é possível e com boa vontade chegaremos certamente longe.

No teu entender o desporto universitário já tem a visibilidade e o reconhecimento pretendido?

No meu entender pode ter mais visibilidade e mais reconhecimento quando conseguirmos equilibrar as desigualdades entre IES de todo o país e quando o sistema desportivo em geral perceber os benefícios de trabalhar lado a lado com o desporto universitário e com o desporto escolar. Hoje em dia, a formação académica de qualquer atleta é essencial e tem de haver um trabalho conjunto entre as federações das modalidades desportivas e o ensino para que a prática desportiva, que exige muitas horas de treino e competição, seja compatível com os estudos. No final da carreira desportiva de um atleta ele terá de entrar no mercado de trabalho e com a exigência profissional dos dias de hoje, isso só é possível com formação superior. Já várias federações perceberam e têm vindo a enquadrar os seus atletas e dar-lhes apoio neste campo, mas ainda há um grande caminho a percorrer.


As Universíadas são sempre um dos momentos em que mais se fala da FADU nos media, mas também é um dos momentos, sobretudo na preparação, que costuma ser mais complicado para vocês. Quais são as maiores dificuldades em termos organizativos e financeiros?

Para uma federação que não trabalha numa lógica de seleções permanentes e que é multidesportiva, o grande desafio é trabalhar com as federações de cada uma das modalidades para a seleção dos estudantes-atletas e para a sua preparação. Para além disso, habitualmente as datas são também coincidentes com épocas de exames o que exige uma grande articulação com as IES para que os estudantes possam repor este período mais tarde. Para além disso, é um enquadramento financeiro fora do normal, com gastos bastante elevados e que têm de ser controlados ao milímetro para que tudo corra dentro do normal.Depois de todo este trabalho institucional e burocrático, o importante é proporcionar as melhores condições aos estudantes-atletas para que representem o país e o desporto universitário português ao mais alto nível e apesar de continuar a ser um grande desafio é o que dá mais gosto.

Em que sentidos a crise económica tem afetado a atividades da FADU?

A redução no financiamento de qualquer estrutura mexe sempre com o seu funcionamento, visto que, temos um determinado valor enquadrado para os gastos necessários e quando isto acontece temos de readapta-lo. No entanto, e com um empenho forte de todos, procuramos novas soluções para que a qualidade dos nossos eventos não fosse comprometida. Ainda assim sente-se que, num momento de crescimento e com novas ideias e projetos a surgirem, por vezes temos de fazer opções, visto que a falta de mais investimento condiciona essas opções.

Há algum patamar onde gostasses de ver a FADU?

A FADU e o desporto universitário têm de ser um grande alicerce e apoio ao sistema desportivo. É um momento essencial de formação do indivíduo e uma fase de transição do estudante e do atleta. Através do local onde esse indivíduo estuda é possível oferecer-lhe soluções mais compatíveis com o dia-a-dia dele. Quando o Ensino Superior estiver totalmente preparado para dar respostas a estas necessidades e o sistema desportivo perceber que estas sinergias são um apoio fundamental para o desenvolvimento do atleta e que permitem que ele tenha um futuro para além da carreira desportiva, a FADU e o desporto universitário terão o reconhecimento, que na minha opinião merecem.

Portugal venceu no ano passado o Mundial Universitário de Andebol. O que significou para ti esta vitória enquanto líder do desporto universitário em Portugal?

Apesar de a prioridade da FADU ser a de envolver o maior número de estudantes na prática da atividade física e do desporto, bem como criar as condições para que isso seja possível, como sabemos as medalhas são muito importantes, são o significado de um bom trabalho e envolvem mais pessoas à volta de uma vontade. Penso que não só para todos os que tiveram envolvidos neste projeto e que viram o seu esforço reconhecido, como também para muitos dos estudantes que gostam de andebol ou que praticam, veem nestes acontecimentos uma maior motivação para continuarem a fazer os possíveis para conciliar a carreira académica com a desportiva. Sem dúvida que estes são exemplo do que é possível quando há dedicação e empenho.

A FADU será coorganizadora, juntamente com a AAUM e a UMinho do Europeu Universitário de Andebol 2015 que decorrerá em agosto. Como está a preparação e o que esperas deste?

Esta é uma organização com uma vasta experiência, por todos os eventos universitários que já têm vindo a ser organizados por estas entidades. Temos sempre muito bons feedbacks das pessoas, tanto dentro como fora do país. Tenho acompanhado a evolução da organização e tenho a certeza que uma vez mais vão "brilhar" e surpreender, pelo legado que têm nesta área, incluindo o Mundial Universitário desta mesma modalidade há apenas um ano. O desporto universitário português tem ganho muito com esta dedicação e qualidade que os clubes da FADU colocam naquilo que fazem, só assim, em conjunto é que iremos conseguir alcançar objetivos mais altos, isso tem sido visível e parece-me que temos muito boas condições para assim continuar.

A UMinho em conjunto com a AAUM foi eleita a melhor da Europa em desporto universitário em 2013. De que forma viste este reconhecimento?

É fruto desta dedicação e trabalho e de procurarem encontrar as melhores soluções para os seus estudantes-atletas. Há um empenho grande na competição nacional e posteriormente isso reflete-se nas participações europeias. Este tipo de prémios que têm sido atribuídos são, na minha opinião importantes, porque se há mérito e boas práticas, há que reconhecer.

A FADU já foi eleita por duas vezes a Federação Europeia mais ativa no desporto universitário. Como viste esta eleição, já que estiveste em ambas?

É o resultado do trabalho que tem vindo a ser realizado, não só pela FADU, mas também pelos seus clubes, colocando todos os esforços nas organizações que recebemos e nas participações internacionais que se concretizam. Eu vejo como um reconhecimento merecido e que só pode servir para querermos ambicionar mais e fazer cada vez melhor.

Como estão os preparativos para os EUSA Games de 2018 que se vão realizar em Coimbra?

Desde o momento em que a candidatura é ganha até receber os Jogos o trabalho é continuo, tem havido um contato regular da Comissão Organizadora local e da FADU com a EUSA, para que se consiga realizar um evento à imagem daquilo que é pretendido, ao mesmo tempo que se prepara a cidade para a dimensão do evento e, parece-me, que o trabalho está bem encaminhado. Apesar do trabalho neste momento ser sobretudo de "bastidores" e estrutural, estou certa de que mais próximo do evento será necessário o envolvimento de todo o universo do desporto universitário, dadas as dimensões do evento.

Que mensagem gostarias de deixar aos universitários?

Para aqueles que já contataram com o desporto universitário que o continuem a fazer e que exijam cada vez mais de nós, para também nós podermos exigir mais de vocês. Para aqueles que ainda não tiveram essa oportunidade, mas gostavam, há desafios à vossa espera, independentemente da forma que for, como atleta, como voluntário, como dirigente ou treinador. São todos muito bem-vindos!


Texto: Ana Coimbra

(Pub. Jul/2015)

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