Qual a sua formação e trajeto académico?
Os meus interesses
sempre foram mais ou menos ziguezagueantes; na época em que
estudei, havia, no 10º e 11º ano, algo denominado por área B e
que tinha a variante Informática. Nessa altura já brincava com
Basic e Pascal, e experimentava o Tex para escrever textos. A
escolha que tomei para o 10º ano era mais ou menos natural face
aos meus interesses e passatempos. Estudei em Coimbra, e nessa
altura tive conhecimento da Licenciatura em Matemática e Ciências
Computação (LMCC). Esta informação serve para mostrar que a boa
publicidade desse curso não se limitava ao Minho. Mas no 12º fiz
mais um ziguezague e os interesses alteraram-se. No último
momento, acabei por escolher o curso de Matemática, na
Universidade de Coimbra. No 3º ano enveredei pelo Ramo de
Matemática Pura. Terminado o curso, ingressei no então
Departamento de Matemática da Universidade do Minho. Fiz o
mestrado onde me licenciei, e o doutoramento na Universidade do
Minho, orientado pelo Prof. Roland Puystjens da Universiteit
Gent. Quis o destino que mais de duas décadas depois fosse
convidado para ser Diretor de Curso da herança da bem afamada
LMCC.
Como caracteriza a sua função de diretor de
curso?
Como diretor de
curso compete-me zelar pelo funcionamento regular das atividades
letivas, nomeadamente pelo cumprimento das normas de
funcionamento de cada semestre (calendário e metodologias de
avaliação), articulado com os responsáveis de cada UC.
Em particular existe um acompanhamento de cada semestre em sede
de comissão de curso por forma a identificar práticas de mérito e
aspetos a melhorar nas diferentes UCs.
A Universidade do Minho adotou um sistema integrado de qualidade
que implica o levantamento sistemático de feedback por alunos e
pelos docentes.
O que o motivou a aceitar "comandar" este
curso?
O convite foi-me
endereçado pelo Diretor do Departamento de Matemática e
Aplicações, Doutor Rui Ralha. Não posso afirmar que aceitei
prontamente, já que considero um cargo com responsabilidades
acrescidas aos que tenho desempenhado em direções de curso, e
como tal merece uma cuidada reflexão. Os anos que lecionei uma
disciplina optativa no 4º ano da extinta LMCC e uma outra de 3º
ano da atual licenciatura ficaram gravados na minha memória como
positivamente inesquecíveis. Esses anos fizeram pender a minha
decisão.
As experiencias anteriores têm-no ajudado no cumprimento
da sua função de diretor de curso?
Tenho pertencido a
Comissões de Curso ao longo destes últimos anos e portanto fui
tomando consciência dos problemas trazidos às Comissões de Curso
e da carga burocrática que as afetam.
Quais são as maiores dificuldades no cumprimento da sua
função?
Este ano letivo está
a ser particularmente trabalhoso. Em 2012 a Licenciatura em
Ciências da Computação (LCC) foi alvo de uma reestruturação e na
sequência o ano letivo iniciou-se com 3 planos de estudo em
simultâneo e com muitos processos de equivalência pendentes. A
elaboração do relatório a ser submetido à A3ES foi outro momento
de intenso trabalho e de grande responsabilidade. Contei e conto
com a ajuda preciosa e incansável dos restantes elementos da
Direção de Curso.
No seu entender, porque é que um futuro universitário
deve concorrer à Licenciatura em Ciências da
Computação?
Vou ser franco: a
LCC não é um curso fácil. O grau de exigência é compatível com o
que consideramos ser imprescindível num licenciado em LCC que
queira ingressar no mercado de trabalho ou que queira prosseguir
uma formação complementar profissionalizante. Os licenciados em
LCC estão habilitados a concorrer e frequentar um leque alargado
de cursos de 2º Ciclo quer da Universidade do Minho, como o
Mestrado em Matemática e Computação, o Mestrado de Informática e
o Mestrado em Engenharia Informática, quer em qualquer local na
UE. O mercado de trabalho acaba por servir de barómetro do
sucesso do curso: apesar dos tempos difíceis que atravessamos, os
licenciados de LCC têm conseguido vingar. As taxas de
empregabilidade, que rondam os 99%, são extraordinárias nos dias
que correm.
Quais são na sua opinião os pontos fortes deste curso? E
os pontos fracos?
O plano de estudos
de LCC é coerente e está dotado de um carácter experimental muito
necessário nestas áreas. O corpo docente que leciona as UCs do
curso de LCC é constituído integralmente por investigadores
doutorados, em grande percentagem membros de centros de
investigação sediados na Universidade do Minho e financiados pela
FCT.
A qualidade dos
licenciados neste curso está refletida nas taxas de
empregabilidade. Ou seja, o mercado reconhece as mais-valias
decorrentes em ter como colaborador um licenciado de LCC.
A pouca divulgação da área junto dos alunos
pré-universitários leva a que a LCC seja, para alguns
alunos, uma segunda opção após Engenharia Informática. Este é um
ponto fraco que pretendemos contornar.
O que caracteriza este curso da UMinho relativamente aos
cursos da Licenciatura em Ciências da Computação de outras
universidades?
As áreas científicas
que suportam LCC são a Matemática, as Ciências da Computação e as
Tecnologias da Computação. Estas complementam-se, dando aos
licenciados conhecimentos sólidos e extensos dos problemas
relacionados com a eficaz e correta utilização dos métodos e
técnicas computacionais. A formação matemática ministrada, por um
lado, torna os alunos capazes de desenvolver e verificar
rigorosamente soluções corretas e eficientes. Por outro lado,
esta formação deverá desenvolver nos alunos uma grande
flexibilidade e uma grande adaptabilidade na resolução de novos
problemas, levando-os a desenvolver os seus próprios modelos,
métodos, técnicas ou ferramentas
computacionais.
Este equilíbrio de
forças é apenas comparável à formação oferecida pela Faculdade de
Ciências do Porto. Os alunos que se inscrevem em LCC contam com
instalações e equipamentos afetos aos departamentos envolvidos
adequados à lecionação de turnos laboratoriais e à execução dos
projetos das diferentes UCs. A formação dos alunos
complementa-se, por exemplo, com a participação nas Jornadas de
Informática JOIN e na ISci Interface Ciência que visam promover a
interação entre os alunos e o tecido
empresarial.
Existem hoje em dia excesso de profissionais em
determinadas áreas. O que podem esperar os alunos da Licenciatura
em Ciências da Computação quanto ao mercado de
trabalho?
São cada vez mais
importantes e necessários cientistas na área da computação quando
nos vemos cada vez mais confrontados com software em todas as
áreas. Torna-se imperativo observar a qualidade do software
desenvolvido, sobretudo em áreas críticas.
O reconhecimento, pelas entidades empregadoras, da mais-valia de
um licenciado em LCC está patente nos índices de
empregabilidade.
De acordo com
http://www.dges.mctes.pt/DGES/pt/Estudantes/Acesso/Genericos/IndicedeCursos,
a empregabilidade dos licenciados em LCC ronda os 99%. Tal não
obsta a que os licenciados de LCC possam prosseguir os seus
estudos em cursos de 2º e 3º Ciclos.
Acompanhou o período das reformas de Bolonha, marcado por
uma profunda alteração do modelo de ensino. Como o
avalia?
A adoção das normas
decorrentes do Processo de Bolonha afetou de forma mais ou menos
semelhante todas as licenciaturas. Gosto de destacar a
implementação dos ECTS em substituição das Unidades de Crédito:
estas últimas apenas levavam em linha de conta o número de horas
de aulas, enquanto que no novo modelo são contabilizadas as horas
de contacto, de trabalho e de avaliação. Vimos uma redução do
número de horas de contacto, e uma contabilização do número de
horas de trabalho autónomo por parte dos alunos. No entanto, e
fazendo fé no que os alunos indicam nos inquéritos que preenchem,
os hábitos de trabalho independente não são o ponto forte dos
nossos alunos. Os hábitos vão-se alterando e moldando; quem sabe
se no futuro próximo o discurso será diferente?
Bolonha trouxe
novidades também na denominação do curso. A Licenciatura em
Matemática e Ciências da Computação era uma referência a nível
nacional que produziu excelentes profissionais e investigadores -
algo que foi recordado em 2012, nas comemorações dos 25 anos de
L(M)CC. A qualidade e a exigência na formação
mantêm-se.
Quais são as suas prioridades para o curso nos próximos
tempos?
Pretendemos
desenvolver ações de divulgação sobre a área e o curso na
comunidade por forma aumentar o número de candidatos à
Universidade do Minho que escolhem LCC como primeira opção. Por
exemplo, a realização atividades que envolvam a visita de alunos
pré-universitários ao Campus sob a temática das Ciências da
Computação fará alguma da divulgação desejada.
Quais são para si os principais
desafios?
Um tipo de desafios
com que me deparo quase diariamente é o da operacionalização da
licenciatura: recolher sensibilidades de colegas e dos alunos,
tratar de assuntos burocráticos associados ao curso, resolver o
melhor possível os problemas que surgem no dia-a-dia.
Um segundo tipo de desafios enquadra-se numa perspetiva a médio e
longo prazo: é necessário o reforço na divulgação da LCC por
forma a podermos aumentar o número de bons alunos que escolhem
LCC.
Texto: Ana Coimbra
Fotografia: Nuno Gonçalves