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Entrevista.com, 03.04.2013
"As taxas de empregabilidade, que rondam os 99%, são extraordinárias nos dias que correm."
UMinho
O UMdicas esteve à conversa com o diretor de curso, Pedro Patrício para quem a Licenciatura em Ciências da Computação (LCC) é, apesar dos tempos difíceis, uma boa opção, não só pelas competências que fornece aos seus licenciados, mas também pelas perspetivas em relação ao mercado de trabalho, com uma taxa de empregabilidade, que rondam os 99%. Apesar disso o diretor afirma ser necessário o reforço na divulgação da LCC de forma a aumentar o número de bons alunos que escolhem LCC como primeira opção.

Qual a sua formação e trajeto académico?

Os meus interesses sempre foram mais ou menos ziguezagueantes; na época em que estudei, havia, no 10º e 11º ano, algo denominado por área B e que tinha a variante Informática. Nessa altura já brincava com Basic e Pascal, e experimentava o Tex para escrever textos. A escolha que tomei para o 10º ano era mais ou menos natural face aos meus interesses e passatempos. Estudei em Coimbra, e nessa altura tive conhecimento da Licenciatura em Matemática e Ciências Computação (LMCC). Esta informação serve para mostrar que a boa publicidade desse curso não se limitava ao Minho. Mas no 12º fiz mais um ziguezague e os interesses alteraram-se. No último momento, acabei por escolher o curso de Matemática, na Universidade de Coimbra. No 3º ano enveredei pelo Ramo de Matemática Pura. Terminado o curso, ingressei no então Departamento de Matemática da Universidade do Minho. Fiz o mestrado onde me licenciei, e o doutoramento na Universidade do Minho, orientado pelo Prof. Roland Puystjens da Universiteit Gent. Quis o destino que mais de duas décadas depois fosse convidado para ser Diretor de Curso da herança da bem afamada LMCC.


Como caracteriza a sua função de diretor de curso?

Como diretor de curso compete-me zelar pelo funcionamento regular das atividades letivas, nomeadamente pelo cumprimento das normas de funcionamento de cada semestre (calendário e metodologias de avaliação), articulado com os responsáveis de cada UC.
Em particular existe um acompanhamento de cada semestre em sede de comissão de curso por forma a identificar práticas de mérito e aspetos a melhorar nas diferentes UCs.
A Universidade do Minho adotou um sistema integrado de qualidade que implica o levantamento sistemático de feedback por alunos e pelos docentes.


O que o motivou a aceitar "comandar" este curso?

O convite foi-me endereçado pelo Diretor do Departamento de Matemática e Aplicações, Doutor Rui Ralha. Não posso afirmar que aceitei prontamente, já que considero um cargo com responsabilidades acrescidas aos que tenho desempenhado em direções de curso, e como tal merece uma cuidada reflexão. Os anos que lecionei uma disciplina optativa no 4º ano da extinta LMCC e uma outra de 3º ano da atual licenciatura ficaram gravados na minha memória como positivamente inesquecíveis. Esses anos fizeram pender a minha decisão.


As experiencias anteriores têm-no ajudado no cumprimento da sua função de diretor de curso?

Tenho pertencido a Comissões de Curso ao longo destes últimos anos e portanto fui tomando consciência dos problemas trazidos às Comissões de Curso e da carga burocrática que as afetam.

Quais são as maiores dificuldades no cumprimento da sua função?

Este ano letivo está a ser particularmente trabalhoso. Em 2012 a Licenciatura em Ciências da Computação (LCC) foi alvo de uma reestruturação e na sequência o ano letivo iniciou-se com 3 planos de estudo em simultâneo e com muitos processos de equivalência pendentes. A elaboração do relatório a ser submetido à A3ES foi outro momento de intenso trabalho e de grande responsabilidade. Contei e conto com a ajuda preciosa e incansável dos restantes elementos da Direção de Curso.



No seu entender, porque é que um futuro universitário deve concorrer à Licenciatura em Ciências da Computação?

Vou ser franco: a LCC não é um curso fácil. O grau de exigência é compatível com o que consideramos ser imprescindível num licenciado em LCC que queira ingressar no mercado de trabalho ou que queira prosseguir uma formação complementar profissionalizante. Os licenciados em LCC estão habilitados a concorrer e frequentar um leque alargado de cursos de 2º Ciclo quer da Universidade do Minho, como o Mestrado em Matemática e Computação, o Mestrado de Informática e o Mestrado em Engenharia Informática, quer em qualquer local na UE. O mercado de trabalho acaba por servir de barómetro do sucesso do curso: apesar dos tempos difíceis que atravessamos, os licenciados de LCC têm conseguido vingar. As taxas de empregabilidade, que rondam os 99%, são extraordinárias nos dias que correm.


Quais são na sua opinião os pontos fortes deste curso? E os pontos fracos?

O plano de estudos de LCC é coerente e está dotado de um carácter experimental muito necessário nestas áreas.­ O corpo docente que leciona as UCs do curso de LCC é constituído integralmente por investigadores doutorados, em grande percentagem membros de centros de investigação sediados na Universidade do Minho e financiados pela FCT.

A qualidade dos licenciados neste curso está refletida nas taxas de empregabilidade. Ou seja, o mercado reconhece as mais-valias decorrentes em ter como colaborador um licenciado de LCC.
A pouca divulgação da área junto dos alunos pré-­universitários  leva a que a LCC seja, para alguns alunos, uma segunda opção após Engenharia Informática. Este é um ponto fraco que pretendemos contornar.


O que caracteriza este curso da UMinho relativamente aos cursos da Licenciatura em Ciências da Computação de outras universidades?

As áreas científicas que suportam LCC são a Matemática, as Ciências da Computação e as Tecnologias da Computação. Estas complementam-se, dando aos licenciados conhecimentos sólidos e extensos dos problemas relacionados com a eficaz e correta utilização dos métodos e técnicas computacionais. A formação matemática ministrada, por um lado, torna os alunos capazes de desenvolver e verificar rigorosamente soluções corretas e eficientes. Por outro lado, esta formação deverá desenvolver nos alunos uma grande flexibilidade e uma grande adaptabilidade na resolução de novos problemas, levando­-os a desenvolver os seus próprios modelos, métodos, técnicas ou ferramentas computacionais.

Este equilíbrio de forças é apenas comparável à formação oferecida pela Faculdade de Ciências do Porto. Os alunos que se inscrevem em LCC contam com instalações e equipamentos afetos aos departamentos envolvidos adequados à lecionação de turnos laboratoriais e à execução dos projetos das diferentes UCs. A formação dos alunos complementa-se, por exemplo, com a participação nas Jornadas de Informática JOIN e na ISci Interface Ciência que visam promover a interação entre os alunos e o tecido empresarial.


Existem hoje em dia excesso de profissionais em determinadas áreas. O que podem esperar os alunos da Licenciatura em Ciências da Computação quanto ao mercado de trabalho?

São cada vez mais importantes e necessários cientistas na área da computação quando nos vemos cada vez mais confrontados com software em todas as áreas. Torna-­se imperativo observar a qualidade do software desenvolvido, sobretudo em áreas críticas.
­O reconhecimento, pelas entidades empregadoras, da mais-valia de um licenciado em LCC está patente nos índices de empregabilidade.

De acordo com http://www.dges.mctes.pt/DGES/pt/Estudantes/Acesso/Genericos/IndicedeCursos, a empregabilidade dos licenciados em LCC ronda os 99%. Tal não obsta a que os licenciados de LCC possam prosseguir os seus estudos em cursos de 2º e 3º Ciclos.



Acompanhou o período das reformas de Bolonha, marcado por uma profunda alteração do modelo de ensino. Como o avalia?

A adoção das normas decorrentes do Processo de Bolonha afetou de forma mais ou menos semelhante todas as licenciaturas. Gosto de destacar a implementação dos ECTS em substituição das Unidades de Crédito: estas últimas apenas levavam em linha de conta o número de horas de aulas, enquanto que no novo modelo são contabilizadas as horas de contacto, de trabalho e de avaliação. Vimos uma redução do número de horas de contacto, e uma contabilização do número de horas de trabalho autónomo por parte dos alunos. No entanto, e fazendo fé no que os alunos indicam nos inquéritos que preenchem, os hábitos de trabalho independente não são o ponto forte dos nossos alunos. Os hábitos vão-se alterando e moldando; quem sabe se no futuro próximo o discurso será diferente?

Bolonha trouxe novidades também na denominação do curso. A Licenciatura em Matemática e Ciências da Computação era uma referência a nível nacional que produziu excelentes profissionais e investigadores - algo que foi recordado em 2012, nas comemorações dos 25 anos de L(M)CC. A qualidade e a exigência na formação mantêm-se.


Quais são as suas prioridades para o curso nos próximos tempos?

Pretendemos desenvolver ações de divulgação sobre a área e o curso na comunidade por forma aumentar o número de candidatos à Universidade do Minho que escolhem LCC como primeira opção. Por exemplo, a realização atividades que envolvam a visita de alunos pré-­universitários ao Campus sob a temática das Ciências da Computação fará alguma da divulgação desejada.

Quais são para si os principais desafios?

Um tipo de desafios com que me deparo quase diariamente é o da operacionalização da licenciatura: recolher sensibilidades de colegas e dos alunos, tratar de assuntos burocráticos associados ao curso, resolver o melhor possível os problemas que surgem no dia-a-dia.
Um segundo tipo de desafios enquadra-se numa perspetiva a médio e longo prazo: é necessário o reforço na divulgação da LCC por forma a podermos aumentar o número de bons alunos que escolhem LCC. 


Texto: Ana Coimbra

Fotografia: Nuno Gonçalves

Arquivo de 2013