A UMinho faz agora o seu 39º aniversário. Que balanço se pode fazer destes 39 anos de existência?
Só se pode fazer um
balanço extremamente positivo.
A UMinho cresceu e
afirmou-se nacional e internacionalmente como uma das melhores
universidades portugueses, o que é evidenciado por diversos
indicadores, avaliações independentes e rankings
internacionais.
Ao longo deste
percurso, tornou-se uma instituição de referência nacional e um
pilar da Região, com grande impacto educativo, social,
económico e cultural.
A UMinho foi capaz de inverter um processo de drenagem dos melhores recursos humanos da região, que durou séculos, e de criar condições para fixar e atrair talento. O percurso poderia ter sido diferente? Poderia ter crescido mais?
Certamente que
poderia. Foi um caminho complexo e que teve momentos muito
difíceis. No entanto, uma análise comparativa com as outras
universidades criadas na mesma altura, em regiões economicamente
mais fortes, só pode deixar orgulhosos todos aqueles que
contribuíram para este sucesso.
Desde 2009 à
frente dos destinos da UMinho e com mais um ano pela frente, já
nos consegue fazer um balanço deste seu
mandato?
De facto, o presente
mandato reitoral termina dentro de 7 meses.
O balanço é
igualmente muito positivo.
O mandato foi
enquadrado por um Plano de Ação para o Quadriénio 2009-13
aprovado pelo Conselho Geral em novembro de 2009. Esse plano
proponha 120 medidas que, na sua grande maioria, estão
concretizadas.
No entanto, as
circunstâncias do país e da europa, bem como o enquadramento do
ensino superior alteraram-se significativamente desde 2009, com o
aparecimento de constrangimentos que são conhecidos de todos.
Esta envolvente trouxe ao mandato diversas dificuldades
adicionais, exigindo muito mais de todos nós.
Passados quase três
anos e meio, a UMinho cresceu 2300 alunos; reforçou a sua
afirmação internacional, nomeadamente do domínio da
investigação; e está mais presente nas diferentes
tipologias de interação com a sociedade. Tudo isto só foi
possível porque há uma comunidade académica com grande sentido
institucional e porque, sem prejuízo dos desejáveis debates
internos, há uma grande convergência sobre os elementos
estruturantes da Universidade que queremos ser e continuar a
construir.
A
recandidatura a Reitor está nos seus
horizontes?
É algo que encaro
com naturalidade. A decisão será tomada dentro de algum tempo,
após uma análise cuidada que deverá ponderar a existência de
condições objetivas e subjetivas para cumprir um novo mandato,
que represente uma mais valia para a Universidade. Importa
garantir que a Universidade prossiga o seu caminho de afirmação
externa e de coesão institucional. Para um projeto com essas
caraterísticas estarei naturalmente disponível.
Perante a conjuntura atual e com tudo o que tem atingido as universidades em algum momento lhe apeteceu desistir?
Nunca se poderá
desistir de um projeto chamado Universidade do Minho. Isso seria
desistir do futuro. No entanto, devemos sempre questionar-nos,
face a circunstâncias que se vão alterando, se a nossa visão e a
nossa ação é a que melhor serve a consecução da missão da
Universidade e o serviço público com que ela está
comprometida.
Tenho o prazer de
chefiar uma equipa reitoral muito diversa, como a Universidade,
mas muito coesa e que tem encontrado energia para enfrentar essas
adversidades.
Tem sido igualmente
muito importante a dedicação e o empenhamento da estrutura
dirigente da Universidade, ao nível das presidências das unidades
orgânicas de ensino e de investigação, bem como das unidades de
serviços.
Entendo, por outro
lado, que a Universidade vem prosseguindo um percurso de
consolidação da sua posição, apesar de todos os obstáculos com
que se vem confrontando.
Estes são, com certeza, factores determinantes para que a ideia de desistência nunca tenha cruzado o meu pensamento.
Quais têm
sido as maiores dificuldades?
As reduções de
financiamento público, que nos obrigaram a adiar projetos e a
reduzir o nível das condições de conforto proporcionadas à
comunidade académica, p.ex., nos arranjos exteriores ou no
horário de funcionamento de serviços.
As limitações à
autonomia universitária, que aumentam a carga
burocrático-administrativa a que estamos obrigados e que limitam
as nossas capacidades, incluindo as associadas à captação de
fontes de financiamento alternativas, sem contribuírem para a
redução da despesa pública.
A falta de definição
estratégica ao nível de grandes objetivos para o ensino superior
nacional, que condiciona a nossa capacidade de preparar o nosso
futuro.
Termina o
mandato este ano. Que projetos ainda gostaria de começar/ou
terminar até lá?
Fundamentalmente
consolidar, ou fazer avançar, projetos em curso, nomeadamente:
nas infraestruturas, o Campus de Couros, o projeto de
requalificação do edifício do Largo do Paço, a construção do
Instituto de Bio-Sustentabilidade; na oferta educativa, a
consolidação dos cursos de licenciatura em teatro e design de
produto, bem como o lançamento do novo mestrado integrado em
engenharia física, que conta com a colaboração do INL; na
investigação, preparar adequadamente a nossa participação no
programa Horizonte 2020; na valorização do conhecimento, aumentar
a nossa capacidade de incubação de empresas; na
internacionalização, lançar o programa de atração de estudantes
estrangeiros e alargar significativamente a nossa atividade em
Angola e Moçambique; na gestão interna, integrar o sistema de
informação, desmaterializando a grande maioria dos nossos
processos administrativos.
Um dos
grandes projectos da Instituição é o Instituto de Ciência e
Inovação para a Bio-Sustentabilidade (IB-S). Em que situação se
encontra?
Estamos na fase
final de adjudicação das empreitas para Gualtar e Azurém. As
obras deverão ser iniciadas brevemente.
Nesta
conjuntura e com o avolumar dos cortes, quais têm sido as
principais mudanças que a UMinho se viu obrigada a implementar?
Reduzir custos e
aumentar receitas. Isto foi conseguido tendo por base uma
estratégia de aumento do número de estudantes, mantendo a
estrutura de recursos humanos docentes e não
docentes.
Reduzimos os gastos
com funcionamento e temos vindo a fazer deslizar no tempo as
intervenções de manutenção de edifícios, bem como as intervenções
nos espaços exteriores.
Entretanto, as
receitas aumentaram por via de projetos de investigação
internacionais e das propinas.
A
Universidade do Minho foi a primeira instituição de ensino
superior em Portugal a apresentar o seu Relatório de
Sustentabilidade. Qual a mais-valia destes
relatórios?
O relatório de
sustentabilidade é uma boa prática de pública prestação de
contas, quantificando os diferentes tipos de impactos associados
à atividade de uma Instituição, nomeadamente, sociais, económicos
e ambientais.
A sua elaboração, de
acordo com normas de referência internacionais, deve-se a três
tipos de razões: prestação de contas, desenvolvimento de
informação para gestão e, por fim, uma intenção pedagógica
associada à promoção e exemplificação de boas práticas no domínio
da sustentabilidade.
As
conclusões destes relatórios vão resultar em ações específicas em
algumas áreas? Quais têm sido os avanços na sustentabilidade
energética da instituição?
Este relatório, se
for produzido de forma regular, como se espera, será decisivo
para suportar decisões neste domínio.
Atualmente, a UMinho
tem duas importantes iniciativas em curso: o programa STOP, para
redução e uso racional de energia; e o programa "universidade sem
papel" para desmaterialização de processos.
No primeiro, conseguimos uma redução do consumo de energia superior a 20% em dois anos. No segundo, esperamos reduzir significativamente as 55 toneladas de papel que gastamos, por ano.
A Academia é vista como um "motor" da região. Quais têm sido as mais-valias desta em prol do Minho?
A interação com a
sociedade é uma marca distintiva da UMinho desde a sua fundação.
De facto, a chamada "terceira missão" da Universidade foi sempre
assumida como um compromisso integrante do serviço público
prestado pela Instituição.
As mais-valias, para
além das que resultam do aumento dos níveis educacionais, são a
fixação de talento e a criação de novas empresas e de
emprego.
Disse
recentemente que a UMinho vai chegar ao final do ano com 19000
alunos. Perante as dificuldades com que se deparam os estudantes
essa meta será atingida?
Estou convicto que
vamos ultrapassar esse número no próximo setembro. Vamos
continuar a crescer, na formação de base e na pós-graduação.
Foi aprovado
em dezembro último o Plano Estratégico da UMinho, onde o
principal objetivo será crescer. O que os levou a apresentar um
plano tao otimista?
As metas da União
Europeia para 2020 apontam para o crescimento da importância do
ensino superior e da percentagem de população com este nível
formação. Os desafios do desenvolvimento e da afirmação
internacional de Portugal, exigem-no.
Acresce que a nossa
região tem um grande potencial de crescimento e as universidades
vão ganhar uma grande centralidade nas estratégias de
desenvolvimento europeu.
A Universidade do
Minho tem obrigação de agarrar estas oportunidades, promovendo o
futuro e o desenvolvimento da Região. As novas gerações não
perdoariam se tal orientação não fosse assumida pela
Universidade.
O
Regulamento de atribuição de bolsas de estudo tem deixado cada
vez mais estudantes sem bolsa. Tem conhecimentos da percentagem
de alunos que na UMinho já desistiram por dificuldades
financeiras?
A situação é muito
diversa consoante falamos de formação de base (licenciatura ou
mestrado integrado) ou de pós-graduação. A quantificação das
desistências é difícil porque estas, muitas vezes, são o
resultado de múltiplos fatores. Por isso, o CRUP criou um grupo
de trabalho que está a desenvolver uma metodologia de trabalho
para o efeito.
Os indicadores que
temos apontam para um baixo nível de desistências na formação
inicial e semelhante ao do ano letivo passado. No entanto, este
assunto exige muito mais do que uma abordagem estatística. De
facto, preocupa-nos e queremos reagir a cada caso particular que
efetivamente corresponda a uma desistência de um estudante com
aproveitamento.
Está a ser
criado o Fundo Social de Emergência que entrará em funcionamento
no início do segundo semestre. Como
funcionará?
Esse Fundo estará
operacional a partir de 1 de março.
Tem uma capacidade
limitada, de cerca de 120.000 Euros, pelo que será usada para
situações críticas, em dois tipos de casos: apoio a estudantes
cuja situação se altera subitamente, durante o período de
resposta da Ação Social Escolar (ASE); responder a situações
absolutamente excecionais que não possam ser consideradas pela
ASE.
Os pedidos serão apresentados nos Serviços de Ação Social que procederão à sua instrução e análise. As decisões serão tomadas em sede do Conselho de Ação Social, órgão que inclui representantes dos estudantes e que, para o efeito, será alargado ao Provedor do Estudante.
Aquando da
Proposta de Orçamento de Estado para 2013, traçou um futuro
sombrio para as universidades portuguesas. Como prevê agora esse
futuro?
As tomadas de
posição conjuntas e públicas efetuadas pelos reitores em novembro
passado foram motivados pelo cenário associado à proposta de Lei
de Orçamento de Estado para 2013, que consubstanciava um corte
global efetivo de 9,5% para as universidades portuguesas.
Esta situação
alterou-se positivamente. Neste momento, já conhecemos exatamente
o montante da dotação da UMinho para este ano, que se traduzirá
numa redução do financiamento público em 3,4%.
Na sua
opinião, a soberania nacional, alimentada pela afirmação do
conhecimento está a diminuir?
O sistema de ensino
superior evoluiu muito positivamente nas duas últimas décadas.
Consumou-se a democratização do ensino superior. A sua qualidade
vem também aumentando de forma insofismável. Por isso, há efetiva
capacidade de resistência do sistema às ameaças que hoje conhece.
Vamos esperar que o futuro próximo seja caraterizado por reformas
mais coerentes, que tenham em consideração as especificidades e
dimensão estratégica das Universidades.
Igualmente grave é a
mensagem, profundamente errada, que está a ser transmitida para a
sociedade de perda de importância da educação e, principalmente,
da educação superior. Só conseguiremos vencer o futuro elevando
os níveis educacionais da nossa população.
O último
Fórum UMinho analisou o regulamento do serviço dos docentes. O
documento está fechado? Quais são as principais novidades deste
regulamento?
Não. O documento
está em discussão pública, a receber contribuições da comunidade
docente. Este regulamento, cuja existência é uma imposição legal,
integra um conjunto diverso de normas e vem enquadrar aspetos
importantes das atividades dos docentes como, por exemplo, a
compensação de cargas letivas entre semestre.
Em 2014 e
2015 vamos receber dois eventos desportivos internacionais ? os
Campeonatos, Mundial e Europeu de Andebol respetivamente. O que
nos tem a dizer desta cada vez maior relevância internacional do
nosso desporto?
Estes campeonatos
são um mecanismo muito profícuo de promover a Universidade e de a
tornar mais visível em outros setores da sociedade, bem como a
nível internacional. São igualmente importantes para mobilizar as
nossas equipas das respetivas modalidades.
A UMinho faz uma
aposta estratégica no desporto universitário aos níveis da
competição e da prática desportiva regular pela comunidade
académica. Em resultado de trabalho estruturado realizado pelos
SASUM, em articulação com a AAUM, a competitividade internacional
das nossas equipas tem vindo a afirmar-se de modo
consistente.
O desporto é uma das
dimensões complementares à formação curricular pela qual
pretendemos atingir uma educação integral dos nossos estudantes.
O desenvolvimento pessoal beneficia muito de experiências como o
treino, a perseverança e o lutar pela vitória, bem como das
dinâmicos de grupo dos desportos coletivos.
Prevê-se a alteração da nomenclatura das, até agora, Universidades Fundação para Universidades de "Autonomia Reforçada". A UMinho ainda pretende e está à espera da decisão do Governo sobre a mudança de estatuto?
A UMinho apresentou
ao Governo, nos termos legais, uma proposta para passagem a
fundação púbica com regime de direito privado. Fê-lo num quando
jurídico específico.
Com a anunciada
alteração do quadro jurídico de referência, a UMinho aguardará o
conhecimento integral dessas alterações para, nos órgãos
próprios, tomar uma nova decisão sobre o
assunto.
O Sistema
Interno de Garantia da Qualidade da Universidade do Minho
(SIGAQ-UM) foi recentemente certificado pela Agência de Avaliação
e Acreditação do Ensino Superior (A3ES). O que significou para a
UMinho esta certificação?
Significou o
reconhecimento da qualidade das nossas práticas internas e
atribuição de um selo de garantia aos processos que adotamos de
planeamento, gestão e documentação das nossas
atividades.
Este sistema tem
como objetivo a melhoria contínua dos diferentes processos que
têm lugar na Instituição, através de uma monitorização contínua e
do envolvimento efetivo de todos os atores relevantes na
avaliação e gestão dos diferentes tipos de atividade que
desenvolvemos.
Que
melhorias resultarão desta certificação para o sistema e para a
própria Universidade?
O reforço das
práticas internas de melhoria contínua de
qualidade.
Um maior alinhamento
das opções de gestão com as opções estratégicas da
Universidade.
O aumento dos níveis
de confiança por parte das entidades que interatuam
connosco.
Por último, e de
acordo com o que tem sido anunciado pela A3ES, um sistema
simplificado de acreditação dos cursos.
De 26 de
fevereiro a 11 de março decorrerá o Período de Campanha Eleitoral
para o Conselho Geral da UMinho. O que espera desta
campanha?
Espero aquilo que é
suposto acontecer numa instituição universitária: um confronto de
ideias que permita aprofundar a nossa ideia de universidade e,
desse modo, contribuir para estruturar o nosso pensamento futuro,
no contexto das nossas diferentes envolventes, regional,
nacional, europeia e global.
Como tem
sido a convivência com a atual tutela do ensino superior?
A convivência e o
relacionamento são muito bons.
Qual o
futuro que adivinha para o ensino superior em Portugal?
Um futuro com maior
centralidade e importância do ensino superior. No segmento
universitário, com crescente exigência, responsabilidade e
envolvimento nas opções estratégicas do país.
Este futuro terá de
ser encontrado e garantido, sob pena de comprometermos o futuro
de Portugal.
Que mensagem
gostaria de deixar à Academia nesta altura?
Que importa
acreditar no projeto UMinho e no nosso modo de pensar, fazer e
sentir a Universidade.
Que temos de
acreditar no futuro, acreditando em nós. Saberemos ultrapassar as
adversidades porque sabemos o que valemos e o que
queremos!
Texto: Ana Coimbra
Fotografia: Nuno Gonçalves
(Pub. Fev/2013)