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Entrevista.com, 25.02.2013
“Importa garantir que a Universidade prossiga o seu caminho de afirmação externa e de coesão institucional. Para um projeto com essas caraterísticas estarei naturalmente disponível.”
UMinho
O UMdicas esteve à conversa com o Reitor da Universidade do Minho, Prof. Dr. António Cunha que nos fez um balanço destes 39 anos de vida da Academia, do seu mandato à frente dos destinos da UMinho que termina dentro de 7 meses, falou das dificuldades sentidas, dos projetos concretizados e dos que estão nos seus horizontes, do estado do ensino superior e do que se deve esperar deste no futuro. Revelando ainda encarar uma possível recandidatura "com naturalidade".


A UMinho faz agora o seu 39º aniversário. Que balanço se pode fazer destes 39 anos de existência?

Só se pode fazer um balanço extremamente positivo.

A UMinho cresceu e afirmou-se nacional e internacionalmente como uma das melhores universidades portugueses, o que é evidenciado por diversos indicadores, avaliações independentes e rankings internacionais.

Ao longo deste percurso, tornou-se uma instituição de referência nacional e um pilar da Região, com grande impacto educativo,  social, económico e cultural.

A UMinho foi capaz de inverter um processo de drenagem dos melhores recursos humanos da região, que durou séculos, e de criar condições para fixar e atrair talento. O percurso poderia ter sido diferente? Poderia ter crescido mais?

Certamente que poderia. Foi um caminho complexo e que teve momentos muito difíceis. No entanto, uma análise comparativa com as outras universidades criadas na mesma altura, em regiões economicamente mais fortes, só pode deixar orgulhosos todos aqueles que contribuíram para este sucesso.

Desde 2009 à frente dos destinos da UMinho e com mais um ano pela frente, já nos consegue fazer um balanço deste seu mandato?

De facto, o presente mandato reitoral termina dentro de 7 meses.

O balanço é igualmente muito positivo.

O mandato foi enquadrado por um Plano de Ação para o Quadriénio 2009-13 aprovado pelo Conselho Geral em novembro de 2009. Esse plano proponha 120 medidas que, na sua grande maioria, estão concretizadas.

No entanto, as circunstâncias do país e da europa, bem como o enquadramento do ensino superior alteraram-se significativamente desde 2009, com o aparecimento de constrangimentos que são conhecidos de todos. Esta envolvente trouxe ao mandato diversas dificuldades adicionais, exigindo muito mais de todos nós.

Passados quase três anos e meio, a UMinho cresceu 2300 alunos; reforçou a sua afirmação internacional, nomeadamente do domínio da investigação;  e está mais presente nas diferentes tipologias de interação com a sociedade. Tudo isto só foi possível porque há uma comunidade académica com grande sentido institucional e porque, sem prejuízo dos desejáveis debates internos, há uma grande convergência sobre os elementos estruturantes da Universidade que queremos ser e continuar a construir.

A recandidatura a Reitor está nos seus horizontes?

É algo que encaro com naturalidade. A decisão será tomada dentro de algum tempo, após uma análise cuidada que deverá ponderar a existência de condições objetivas e subjetivas para cumprir um novo mandato, que represente uma mais valia para a Universidade. Importa garantir que a Universidade prossiga o seu caminho de afirmação externa e de coesão institucional. Para um projeto com essas caraterísticas estarei naturalmente disponível.

Perante a conjuntura atual e com tudo o que tem atingido as universidades em algum momento lhe apeteceu desistir?

Nunca se poderá desistir de um projeto chamado Universidade do Minho. Isso seria desistir do futuro. No entanto, devemos sempre questionar-nos, face a circunstâncias que se vão alterando, se a nossa visão e a nossa ação é a que melhor serve a consecução da missão da Universidade e o serviço público com que ela está comprometida.

Tenho o prazer de chefiar uma equipa reitoral muito diversa, como a Universidade, mas muito coesa e que tem encontrado energia para enfrentar essas adversidades.

Tem sido igualmente muito importante a dedicação e o empenhamento da estrutura dirigente da Universidade, ao nível das presidências das unidades orgânicas de ensino e de investigação, bem como das unidades de serviços.

Entendo, por outro lado, que a Universidade vem prosseguindo um percurso de consolidação da sua posição, apesar de todos os obstáculos com que se vem confrontando.

Estes são, com certeza, factores determinantes para que a ideia de desistência nunca tenha cruzado o meu pensamento.


Quais têm sido as maiores dificuldades?

As reduções de financiamento público, que nos obrigaram a adiar projetos e a reduzir o nível das condições de conforto proporcionadas à comunidade académica, p.ex., nos arranjos exteriores ou no horário de funcionamento de serviços.

As limitações à autonomia universitária, que aumentam a carga burocrático-administrativa a que estamos obrigados e que limitam as nossas capacidades, incluindo as associadas à captação de fontes de financiamento alternativas, sem contribuírem para a redução da despesa pública.

A falta de definição estratégica ao nível de grandes objetivos para o ensino superior nacional, que condiciona a nossa capacidade de preparar o nosso futuro.

Termina o mandato este ano. Que projetos ainda gostaria de começar/ou terminar até lá?

Fundamentalmente consolidar, ou fazer avançar, projetos em curso, nomeadamente: nas infraestruturas, o Campus de Couros, o projeto de requalificação do edifício do Largo do Paço, a construção do Instituto de Bio-Sustentabilidade; na oferta educativa, a consolidação dos cursos de licenciatura em teatro e design de produto, bem como o lançamento do novo mestrado integrado em engenharia física, que conta com a colaboração do INL; na investigação, preparar adequadamente a nossa participação no programa Horizonte 2020; na valorização do conhecimento, aumentar a nossa capacidade de incubação de empresas; na internacionalização, lançar o programa de atração de estudantes estrangeiros e alargar significativamente a nossa atividade em Angola e Moçambique; na gestão interna, integrar o sistema de informação, desmaterializando a grande maioria dos nossos processos administrativos.

Um dos grandes projectos da Instituição é o Instituto de Ciência e Inovação para a Bio-Sustentabilidade (IB-S). Em que situação se encontra?

Estamos na fase final de adjudicação das empreitas para Gualtar e Azurém. As obras deverão ser iniciadas brevemente.

Nesta conjuntura e com o avolumar dos cortes, quais têm sido as principais mudanças que a UMinho se viu obrigada a implementar?

Reduzir custos e aumentar receitas. Isto foi conseguido tendo por base uma estratégia de aumento do número de estudantes, mantendo a estrutura de recursos humanos docentes e não docentes.

Reduzimos os gastos com funcionamento e temos vindo a fazer deslizar no tempo as intervenções de manutenção de edifícios, bem como as intervenções nos espaços exteriores.

Entretanto, as receitas aumentaram por via de projetos de investigação internacionais e das propinas.


A Universidade do Minho foi a primeira instituição de ensino superior em Portugal a apresentar o seu Relatório de Sustentabilidade. Qual a mais-valia destes relatórios?

O relatório de sustentabilidade é uma boa prática de pública prestação de contas, quantificando os diferentes tipos de impactos associados à atividade de uma Instituição, nomeadamente, sociais, económicos e ambientais.

A sua elaboração, de acordo com normas de referência internacionais, deve-se a três tipos de razões: prestação de contas, desenvolvimento de informação para gestão e, por fim, uma intenção pedagógica associada à promoção e exemplificação de boas práticas no domínio da sustentabilidade.

As conclusões destes relatórios vão resultar em ações específicas em algumas áreas? Quais têm sido os avanços na sustentabilidade energética da instituição?

Este relatório, se for produzido de forma regular, como se espera, será decisivo para suportar decisões neste domínio.

Atualmente, a UMinho tem duas importantes iniciativas em curso: o programa STOP, para redução e uso racional de energia; e o programa "universidade sem papel" para desmaterialização de processos.

No primeiro, conseguimos uma redução do consumo de energia superior a 20% em dois anos. No segundo, esperamos reduzir significativamente as 55 toneladas de papel que gastamos, por ano.


A Academia é vista como um "motor" da região. Quais têm sido as mais-valias desta em prol do Minho?

A interação com a sociedade é uma marca distintiva da UMinho desde a sua fundação. De facto, a chamada "terceira missão" da Universidade foi sempre assumida como um compromisso integrante do serviço público prestado pela Instituição.

As mais-valias, para além das que resultam do aumento dos níveis educacionais, são a fixação de talento e a criação de novas empresas e de emprego.

Disse recentemente que a UMinho vai chegar ao final do ano com 19000 alunos. Perante as dificuldades com que se deparam os estudantes essa meta será atingida?

Estou convicto que vamos ultrapassar esse número no próximo setembro. Vamos continuar a crescer, na formação de base e na pós-graduação.

Foi aprovado em dezembro último o Plano Estratégico da UMinho, onde o principal objetivo será crescer. O que os levou a apresentar um plano tao otimista?

As metas da União Europeia para 2020 apontam para o crescimento da importância do ensino superior e da percentagem de população com este nível formação. Os desafios do desenvolvimento e da afirmação internacional de Portugal, exigem-no.

Acresce que a nossa região tem um grande potencial de crescimento e as universidades vão ganhar uma grande centralidade nas estratégias de desenvolvimento europeu.

A Universidade do Minho tem obrigação de agarrar estas oportunidades, promovendo o futuro e o desenvolvimento da Região. As novas gerações não perdoariam se tal orientação não fosse assumida pela Universidade.


O Regulamento de atribuição de bolsas de estudo tem deixado cada vez mais estudantes sem bolsa. Tem conhecimentos da percentagem de alunos que na UMinho já desistiram por dificuldades financeiras?

A situação é muito diversa consoante falamos de formação de base (licenciatura ou mestrado integrado) ou de pós-graduação. A quantificação das desistências é difícil porque estas, muitas vezes, são o resultado de múltiplos fatores. Por isso, o CRUP criou um grupo de trabalho que está a desenvolver uma metodologia de trabalho para o efeito.

Os indicadores que temos apontam para um baixo nível de desistências na formação inicial e semelhante ao do ano letivo passado. No entanto, este assunto exige muito mais do que uma abordagem estatística. De facto, preocupa-nos e queremos reagir a cada caso particular que efetivamente corresponda a uma desistência de um estudante com aproveitamento.

Está a ser criado o Fundo Social de Emergência que entrará em funcionamento no início do segundo semestre. Como funcionará?

Esse Fundo estará operacional a partir de 1 de março.

Tem uma capacidade limitada, de cerca de 120.000 Euros, pelo que será usada para situações críticas, em dois tipos de casos: apoio a estudantes cuja situação se altera subitamente, durante o período de resposta da Ação Social Escolar (ASE); responder a situações absolutamente excecionais que não possam ser consideradas pela ASE.

Os pedidos serão apresentados nos Serviços de Ação Social que procederão à sua instrução e análise. As decisões serão tomadas em sede do Conselho de Ação Social, órgão que inclui representantes dos estudantes e que, para o efeito, será alargado ao Provedor do Estudante.

Aquando da Proposta de Orçamento de Estado para 2013, traçou um futuro sombrio para as universidades portuguesas. Como prevê agora esse futuro?

As tomadas de posição conjuntas e públicas efetuadas pelos reitores em novembro passado foram motivados pelo cenário associado à proposta de Lei de Orçamento de Estado para 2013, que consubstanciava um corte global efetivo de 9,5% para as universidades portuguesas.

Esta situação alterou-se positivamente. Neste momento, já conhecemos exatamente o montante da dotação da UMinho para este ano, que se traduzirá numa redução do financiamento público em 3,4%.

Na sua opinião, a soberania nacional, alimentada pela afirmação do conhecimento está a diminuir?

O sistema de ensino superior evoluiu muito positivamente nas duas últimas décadas. Consumou-se a democratização do ensino superior. A sua qualidade vem também aumentando de forma insofismável. Por isso, há efetiva capacidade de resistência do sistema às ameaças que hoje conhece. Vamos esperar que o futuro próximo seja caraterizado por reformas mais coerentes, que tenham em consideração as especificidades e dimensão estratégica das Universidades.

Igualmente grave é a mensagem, profundamente errada, que está a ser transmitida para a sociedade de perda de importância da educação e, principalmente, da educação superior. Só conseguiremos vencer o futuro elevando os níveis educacionais da nossa população.

O último Fórum UMinho analisou o regulamento do serviço dos docentes. O documento está fechado? Quais são as principais novidades deste regulamento?

Não. O documento está em discussão pública, a receber contribuições da comunidade docente. Este regulamento, cuja existência é uma imposição legal, integra um conjunto diverso de normas e vem enquadrar aspetos importantes das atividades dos docentes como, por exemplo, a compensação de cargas letivas entre semestre.

Em 2014 e 2015 vamos receber dois eventos desportivos internacionais ? os Campeonatos, Mundial e Europeu de Andebol respetivamente. O que nos tem a dizer desta cada vez maior relevância internacional do nosso desporto?

Estes campeonatos são um mecanismo muito profícuo de promover a Universidade e de a tornar mais visível em outros setores da sociedade, bem como a nível internacional. São igualmente importantes para mobilizar as nossas equipas das respetivas modalidades.

A UMinho faz uma aposta estratégica no desporto universitário aos níveis da competição e da prática desportiva regular pela comunidade académica. Em resultado de trabalho estruturado realizado pelos SASUM, em articulação com a AAUM, a competitividade internacional das nossas equipas tem vindo a afirmar-se de modo consistente.

O desporto é uma das dimensões complementares à formação curricular pela qual pretendemos atingir uma educação integral dos nossos estudantes. O desenvolvimento pessoal beneficia muito de experiências como o treino, a perseverança e o lutar pela vitória, bem como das dinâmicos de grupo dos desportos coletivos.

Prevê-se a alteração da nomenclatura das, até agora, Universidades Fundação para Universidades de "Autonomia Reforçada". A UMinho ainda pretende e está à espera da decisão do Governo sobre a mudança de estatuto?

A UMinho apresentou ao Governo, nos termos legais, uma proposta para passagem a fundação púbica com regime de direito privado. Fê-lo num quando jurídico específico.

Com a anunciada alteração do quadro jurídico de referência, a UMinho aguardará o conhecimento integral dessas alterações para, nos órgãos próprios, tomar uma nova decisão sobre o assunto.

O Sistema Interno de Garantia da Qualidade da Universidade do Minho (SIGAQ-UM) foi recentemente certificado pela Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior (A3ES). O que significou para a UMinho esta certificação?

Significou o reconhecimento da qualidade das nossas práticas internas e atribuição de um selo de garantia aos processos que adotamos de planeamento, gestão e documentação das nossas atividades.

Este sistema tem como objetivo a melhoria contínua dos diferentes processos que têm lugar na Instituição, através de uma monitorização contínua e do envolvimento efetivo de todos os atores relevantes na avaliação e gestão dos diferentes tipos de atividade que desenvolvemos.

Que melhorias resultarão desta certificação para o sistema e para a própria Universidade?

O reforço das práticas internas de melhoria contínua de qualidade.

Um maior alinhamento das opções de gestão com as opções estratégicas da Universidade.

O aumento dos níveis de confiança por parte das entidades que interatuam connosco.

Por último, e de acordo com o que tem sido anunciado pela A3ES, um sistema simplificado de acreditação dos cursos.

De 26 de fevereiro a 11 de março decorrerá o Período de Campanha Eleitoral para o Conselho Geral da UMinho. O que espera desta campanha?

Espero aquilo que é suposto acontecer numa instituição universitária: um confronto de ideias que permita aprofundar a nossa ideia de universidade e, desse modo, contribuir para estruturar o nosso pensamento futuro, no contexto das nossas diferentes envolventes, regional, nacional, europeia e global.

Como tem sido a convivência com a atual tutela do ensino superior?

A convivência e o relacionamento são muito bons.

Qual o futuro que adivinha para o ensino superior em Portugal?

Um futuro com maior centralidade e importância do ensino superior. No segmento universitário, com crescente exigência, responsabilidade e envolvimento nas opções estratégicas do país.

Este futuro terá de ser encontrado e garantido, sob pena de comprometermos o futuro de Portugal.

Que mensagem gostaria de deixar à Academia nesta altura?

Que importa acreditar no projeto UMinho e no nosso modo de pensar, fazer e sentir a Universidade.

Que temos de acreditar no futuro, acreditando em nós. Saberemos ultrapassar as adversidades porque sabemos o que valemos e o que queremos!


Texto: Ana Coimbra

Fotografia: Nuno Gonçalves


(Pub. Fev/2013)

Arquivo de 2013