Qual a sua formação e trajeto académico?
Entrada na UM em 1985. Licenciado em engenharia de produção - Ramo Plásticos. Entrada para o DEP em 1992. Provas de Aptidão pedagógica e Capacidade Cientifica em 1994. Doutoramento em Ciência e Engenharia de Polímeros em 2003.
Como caracteriza a sua função de diretor de curso?
É um misto. Resulta de algo que é gratificante, o poder contribuir de maneira mais intensa, quer para o sucesso dos alunos, quer para o ultrapassar das dificuldades dos futuros profissionais, e, simultaneamente, algo menos agradável, que resulta da substancial carga burocrática que nos é acometida Na prática somos confrontados com um conjunto de atividades que não deixam de ser relevantes mas que vão tirar-nos tempo para algo que era mais importante como um acompanhamento mais próximo dos alunos de forma a poder motiva-los e para estar atento às muitas pequenas dificuldades com que se deparam. No entanto é com esta realidade que temos de conviver e no meio das condicionantes fazer o nosso melhor.
O que o motivou a aceitar "comandar" este curso?
O cargo de diretor de curso é um cargo de nomeação. Como tinha sido diretor adjunto durante 4 anos, a sucessão para Diretor de curso surgiu naturalmente. É algo que faz parte dos nossos deveres enquanto docentes e é um cargo que aceitei com muito gosto no sentido de poder contribuir de forma mais intensa para que o curso funcione da forma mais adequada.
As experiencias anteriores têm-no ajudado no cumprimento da sua função de diretor de curso?
Todas as experiências anteriores, tanto como docente e como orientador de trabalhos de investigação e industriais, contribuem de forma positiva para a cumprir esta missão. O saber ouvir, o saber as regras de funcionamento da instituição, tudo que se vai aprendendo ao longo dos anos são informações uteis e que são aproveitadas para poder desempenhar da melhor maneira este cargo.
Quais são as maiores dificuldades no cumprimento da sua função?
Entre as dificuldades está o facto de a esta função estar associada a um conjunto de atividades burocráticas que têm de ser realizadas para que o curso funcione, e que consomem demasiado tempo. Depois é a questão da capacidade de ação que se pode atribuir ao diretor. Se por um lado é atribuído o poder de propor ações, depois temos o reverso da moeda em que existe por vezes grandes dificuldades para as executar. No entanto, e sabendo que é possível melhorar, tentamos cumprir a missão da melhor forma possível dentro das condicionantes que existem.
No seu entender, porque é que um futuro universitário deve concorrer ao Mestrado Integrado em Engenharia de Polímeros?
A escolha de um curso é sempre algo complicado. No entanto há algumas particularidades que este curso oferece, que infelizmente muitos dos alunos ainda não estão conscientes disso, e que poderiam contribuir de forma positiva para a escolha deste curso. Primeiro, é o único curso em Portugal com uma estrutura, mais dedicada para o projeto e conceção de peças em plástico. Depois, algo extremamente relevante, é o fato de Portugal ser um dos grandes produtores do mundo de moldes para injeção de plásticos (com falta de pessoas com estas competências, como foi noticiado na comunicação social este fim de semana). Finalmente, temos uma indústria de plásticos muito forte, que exporta (direta e indiretamente) e contribuem de forma positiva para o PIB. Há aqui boas razoes para que os alunos escolham este curso.
Quais são na sua opinião os pontos fortes deste curso? E os pontos fracos?
Um dos pontos fortes é obviamente ser o único curso do género em Portugal, ou seja, um projeto de ensino pensado de raiz para a conceção de peças em plástico e de ferramentas produtivas. Outro dos pontos fortes está relacionado com o corpo docente, onde todos os docentes são doutorados e integram dois laboratórios associados. A forte ligação à indústria, tanto através da interface que constitui o PIEP (que acrescenta a valência mais prática aos docentes envolvidos em projectos de investigação industriais) quer com contactos diretos com os industriais do sector que é quase única na Universidade e que também não é muito comum nas outras instituições, é também um dos pontos fortes. Finalmente, a forte taxa de empregabilidade do curso. A título de exemplo posso referir que o ano passado, divulguei 35 propostas de emprego e os alunos que acabaram o curso foram 25,..
Quanto aos pontos fracos, diria que temos essencialmente dois pontos fracos, relacionados com a palavra ?Polímero?. Uma vez que há muitas pessoas que não conhecem o seu significado, e consequentemente não sabem o que se faz ou para que serve este curso. Este desconhecimento conduz ao outro ponto fraco do curso, que é fato de os alunos que se candidatam terem uma nota inferior quando comparada a outros cursos que até têm uma taxa de empregabilidade inferior.
A este propósito gostaria de dizer que há cerca de 10 anos o departamento de engenharia de polímeros promove acções de divulgação do curso junto das escolas secundárias através da realização do Dia Aberto DEP, onde durante dois dias convidamos os alunos das escolas secundárias a visitar-nos e a ver o que se faz e para que serve o curso.
O que caracteriza este curso da UMinho relativamente aos cursos do Mestrado Integrado em Engenharia de Polímeros de outras universidades?
Existem outros cursos em outras instituições que tentam ensinar algo sobre os plásticos, os polímeros e os moldes. Nós aqui fazemos um ensino integrado, desde os conceitos sobre os materiais polimericos, conceitos de projeto de peças em plástico, técnicas de fabricação usadas para obter as peças e sobre as ferramentas produtivas, como os moldes. Lecionamos uma visão integrada, desde o conceito até ao produto final, e isso é algo que na prática é único no nosso país. Uma outra característica deste curso é permitir a realização de um projeto individual em ambiente industrial, permitindo aos alunos ter um contacto muito próximo com a indústria.
Existem hoje em dia excesso de profissionais em determinadas áreas. O que podem esperar os alunos do Mestrado Integrado em Engenharia de Polímeros quanto ao mercado de trabalho?
O que é relevante é que este é um curso com um número de vagas reduzido, que varia entre as 30 e as 35 vagas por ano, e, tal como já referi, é até à data um curso que oferece aos alunos que o concluem uma oportunidade de emprego. Depois, e como é óbvio, cada um faz o seu caminho juntando um pouco de sorte, competência, ousadia e uma postura que envolva tudo isso com a formação técnica, com o saber pensar e com o saber resolver dificuldades usando os recursos disponíveis apreendidos durante o curso.
Acompanhou o período das reformas de Bolonha, marcado por uma profunda alteração do modelo de ensino. Como o avalia?
Havia uma ideia muito interessante por trás deste modelo de ensino, que seria um ensino por projetos. Na minha opinião creio que a maneira como está implementado não é a melhor, isto é, o ensino por projetos não funciona da melhor maneira. Para isso contribuíram vários fatores, como as dificuldades por parte dos professores em conseguirem enquadrar e pensar um curso para ser ensinado por projetos, até restrições institucionais. Durante o processo de transição houve algumas coisas que não funcionaram/correrem da melhor maneira mas penso que ainda há espaço para dentro da estrutura que temos otimizar o ensino e acima de tudo potenciar o ensino por projetos que é extremamente vantajoso se for bem pensado e se do outro lado houver alunos suficientemente motivados.
A este propósito, é importante referir que com a implementação de Bolonha, o processo de aprendizagem inverteu-se, isto é, os alunos deixaram de ir para a sala de aula ouvir o professor e passaram a ter de ir à procura de informação para resolverem as suas dificuldades. Na prática passaram de agentes passivos a ativos, e temos de compreender que andar 12 anos aprender de uma maneira e de repente inverter-se o processo de aprendizagem acarreta alguma confusão/dificuldade, sendo no meu entender uma das grandes dificuldades que os alunos do 1º ano encontram.
Quais são as suas prioridades para o curso nos próximos tempos?
O curso em si tem uma prioridade que é tentar ser mais conhecido. Temos feito o nosso esforço de divulgação tanto através da realização do dia aberto DEP como através da escola de engenharia que todos os anos recebe a visita de alunos do secundário integrada na semana da escola. Como temos a noção que mais de 70% dos nossos alunos são oriundo da região do Minho, é nas escolas da região que temos tido um papel mais ativo na divulgação. Temos ainda uma ideia que está a ser implementada, que é a de estabelecer um protocolo com a indústria de modo a facilitar todas as actividades de formação em ambiente industrial, como os estágios, dissertação ou visitas de estudo, potenciando ainda aos nossos alunos contacto com a indústria o mais cedo possível. Temos obtido algumas reuniões com parceiros industriais estando neste momento a ultimar o protocolo que penso que vai ser uma mais-valia para os alunos.
Quais são para si os principais desafios?
O principal desafio é sem dúvida a divulgação do curso, mas temos a noção de que nem sempre é fácil fazer chegar a mensagem ao destinatário. Temos também consciência de que com uma boa divulgação, para além de contribuir para que os candidatos façam uma escolha mais informada e consequentemente mais acertada, teremos mais e melhores alunos. Tal como já foi dito, há cerca de 10 anos que realizamos atividades de divulgação no final do 2º semestre onde durante dois dias os alunos do secundário são convidados a visitar o departamento e a ver os equipamentos a funcionar, explicamos o que fazemos e para que serve o curso. Dependendo muito também das escolas e da sua disponibilidade financeira, houve anos em que nos dois dias tivemos mais de oitocentos alunos a visitar-nos!
Texto: Ana Coimbra
Fotografia: Nuno Gonçalves
(Pub. Fev/2013)