Quem é
Carlos Alberto Videira?
Acima de tudo, é um
estudante como qualquer outro, ainda que neste momento seja
Presidente da Associação Académica. Tenho 21 anos e sou natural
de Vila Praia de Âncora. Ingressei na Universidade do Minho em
2009, no curso de Relações Internacionais que conclui no passado
mês de Julho. Neste momento, frequento o 1º ano do Mestrado em
Direitos Humanos. Paralelamente, tive a oportunidade de
desenvolver um percurso associativo, quer no Centro de Estudos do
Curso de Relações Internacionais (CECRI) do qual fiz parte entre
2010 e 2012, quer na Associação Académica da Universidade do
Minho, cuja direcção integro desde o ano de
2011.
Ser
presidente da AAUM era um sonho ou algo que aconteceu por
acaso?
Quando, em Novembro
de 2010, o Luís Rodrigues me convidou a integrar a direcção de
2011, como director do Departamento Social & Relações
Internacionais, aceitei o desafio motivado pela oportunidade de
poder representar os meus colegas e dar uma resposta aos
problemas com que eles se batem no seu dia-a-dia. Desde então,
fui desenvolvendo o meu trabalho em prol dos estudantes e da
Associação Académica que foi reconhecido e valorizado pelos meus
pares. Tendo isso em conta, e estando reunidas todas as condições
pessoais, familiares e académicas para avançar para uma
candidatura, tomei a decisão de encabeçar uma lista, que
felizmente mereceu o voto de confiança da grande maioria dos meus
colegas no passado dia 4 de dezembro.
O que te
levou a apresentar a candidatura à Direção da
AAUM?
No seguimento do que
referi anteriormente, apresentei a minha candidatura motivado
pela vontade de servir e representar os estudantes, bem como de
contribuir para o crescimento que a Associação Académica tem
percorrido ao longo dos últimos anos. O forte incentivo que
recebi dos meus pares e também ex-dirigentes de grande prestígio
foram também determinantes.
O que
significa para ti ser Presidente da
AAUM?
Ser presidente de
uma instituição como a Associação Académica da Universidade do
Minho é uma grande honra e uma grande responsabilidade.
Representar cerca de 19 mil estudantes, numa das fases mais
difíceis para o Ensino Superior e para o nosso país ao longo das
últimas décadas, é certamente o maior desafio que já abracei ao
longo da minha vida.
Quais as
linhas orientadoras que propões para dirigir a
AAUM?
Será um mandato
muito virado para as questões sociais. Teremos que dar
continuidade às reivindicações ao nível da ação social junto da
tutela e de todas as entidades envolvidas nos processos de acção
social. Estaremos atentos ao Fundo Social de Emergência a ser
criado na Universidade do Minho, procurando contribuir para uma
regulamentação justa e flexível do mesmo, bem como apoiar
financeiramente a sua implementação. Temos ainda a intenção de
avançar com packs de senhas ao nível dos transportes
Braga-Guimarães, bem como baixar o preço dos packs de senhas de
cantina, agindo junto da Reitoria e dos Serviços de Acção Social
nesse sentido. Por fim, procuraremos ainda avançar com um estudo
que ajude a adaptar as infra-estruturas da Universidade do Minho
para alunos com mobilidade reduzida.
Depois, procuraremos
também assegurar uma maior presença da AAUM em Guimarães: com
mais iniciativas no campus, reivindicando melhores condições de
acesso entre as residências universitárias e o campus de Azurém,
trabalhando no estabelecimento efetivo da reprografia da Escola
de Arquitetura e procurando promover a deslocalização de serviços
da AAUM disponibilizados ao aluno, nomeadamente o Liftoff -
Gabinete do Empreendedor e o Gabinete de Inserção
Profissional.
Que
inovações pretendes incutir no seio da
Associação?
Uma das principais
inovações que queremos implementar é ao nível do cartão de sócio
da AAUM. Queremos estender o uso do cartão a um número maior de
utilizadores. Temos que o tornar mais atrativo, aumentando o
número de parcerias e, consequentemente, as vantagens comerciais
e institucionais para os associados da AAUM. Além disso, queremos
estender a utilização do cartão de sócio aos diversos serviços
prestados pela AAUM, como por exemplo nos transportes intercampi
e nas reprografias. Gostaríamos de ter tudo operacional aquando
do início do próximo ano letivo, em setembro.
Já eras
dirigente associativo. Quais são para ti os prós e contras do
exercício deste papel?
Os prós estão muito
ligados à motivação de construir e transformar coisas. Conceber e
organizar actividades ou iniciativas que marcam o percurso
académico de milhares de alunos (seja a nível desportivo, social,
pedagógico, formativo, cultural, ou outros) é sempre muito
gratificante, e representa um enriquecimento extracurricular que
se revela muito útil no nosso crescimento enquanto estudantes e
cidadãos. Os contras estão muitas vezes relacionados com a
exigência deste papel, que faz com que tenhamos que sacrificar
muito do tempo que gostaríamos de passar junto dos nossos amigos
e familiares mais próximos. Mas acredito que, com esforço e
abnegação, tudo é conciliável.
Quais pensas
que serão as maiores dificuldades com que te vais debater
enquanto Presidente da AAUM?
Acho que nunca como
hoje, em democracia, o Ensino Superior passou por tantas
dificuldades em Portugal. Temos um quadro de subfinanciamento que
coloca a própria sustentabilidade das universidades em risco. Um
nível de propinas absolutamente inaceitável e um sistema de acção
social injusto e insuficiente face às necessidades dos
estudantes. Uma rede de ensino superior confusa e a precisar de
racionalização. Temos, ainda, níveis de desemprego qualificado
assustadores e cada vez mais jovens a optar pela emigração. É um
quadro muito preocupante e que, infelizmente, tende a agravar-se.
Será, certamente, missão da AAUM e do movimento associativo
nacional alertar para este estado de coisas e propor alternativas
para contrariar este paradigma.
Na tua
opinião quais devem ser as atitudes/qualidades fundamentais do
Presidente de uma Associação
Académica?
Em primeiro lugar,
acredito que um presidente nunca se pode esquecer de que antes de
ser dirigente associativo também é estudante. Deve ser
disponível, saber ouvir, ser responsável pelos compromissos que
assume, deve saber trabalhar em equipa e ter uma postura humilde,
ou seja, deve estar sempre disponível para aprender cada vez
mais. Depois, acho que um presidente nunca se deve esquecer de
que está de passagem - pertence a uma instituição que é anterior
a ele e que continuará depois dele. Por fim, acredito que quem
decide abraçar um desafio destes só o deve fazer se tiver a
predisposição para marcar e para ser marcado. A predisposição de
trazer o seu tempo, as suas capacidades e o dinamismo para
construir algo de novo e melhor. A predisposição de aprender com
o que já foi feito, com os valores assimilados e com a herança
recebida. A predisposição de se deixar identificar com uma
história que passa a ser sua e de que passa a fazer parte. É
sobretudo isto que as instituições nos dão se formos capazes de
encontrar no passado a inspiração para um futuro que se quer cada
vez melhor. E esse futuro alcança-se através de muito trabalho,
de uma entrega genuína e altruísta, de uma dedicação voluntária,
mas responsável.
Pensas que
este percurso de dirigente associativo será relevante para a tua
formação enquanto indivíduo e para o teu futuro?
É evidente que sim.
A dimensão associativa ajuda-nos a crescer enquanto cidadãos e
enquanto seres humanos. Aprendemos a ser mais tolerantes e mais
respeitadores para com os nossos colegas e adversários. A lutar
por objectivos e a trabalhar para os atingir. A valorizar o
espírito de equipa como condição essencial do sucesso. A ser
solidário nos bons e maus momentos. A reconhecer o mérito dos
outros e a aprender com eles. São aprendizagens essenciais para a
nossa vida pessoal e profissional e que não cabem em nenhum
curriculum vitae.
Quais são os
projetos mais importantes da AAUM e desta direção a médio/curto
prazo?
Ao nível do
desporto, queremos apostar na promoção do desporto de recreação e
ter uma participação ativa no evento Guimarães 2013: Cidade
Europeia do Desporto, nomeadamente através da organização dos
Campeonatos Nacionais Universitários Individuais Concentrados. Em
termos pedagógicos, queremos ter uma participação ativa na
discussão do Regulamento Académico e na promoção dos processos de
avaliação internos e externos da Universidade do Minho,
continuando a reivindicar salas de estudo e bibliotecas abertas
24 horas por dia. Ao nível do Departamento de Saídas
Profissionais & Empreendorismo, pretendemos intensificar
atividades sectoriais junto das Escolas e Institutos. Daremos uma
atenção especial aos alunos de pós-graduação, tendo em conta as
suas necessidades específicas e criando um Conselho Consultivo do
Departamento de Pós Graduação, composto por membros da direcção e
representantes de diversos órgãos da Universidade que auxilie na
definição e dinamização das suas linhas de ação. Manteremos a
aposta na mobilidade, através da recém-criada Erasmus Students
Network Minho, mas que conta já com um dinamismo assinalável e
resultados muito promissores.
No teu
entender a AAUM deve potenciar uma maior aproximação aos
estudantes? De que forma pretendem fazer
isto?
Sim, temos que
procurar aumentar essa relação de proximidade. Teremos que
estabelecer um contacto permanente com os núcleos de curso,
comissões de residentes, grupos culturais e delegados e alunos
representantes, auscultando as diferentes sensibilidades e
problemas, concertando posições e articulando ações em conjunto.
É fundamental que todos os estudantes vejam em cada dirigente
associativo um aliado.
A anterior
direção criou o Gabinete do Voluntário. Quais têm sido as
mais-valias deste para a AAUM, para a Academia e para as
entidades promotoras das mais variadas
campanhas?
O voluntariado é um
assunto muito querido à Associação Académica e certamente que
esta direcção o procurará promover como exercício de cidadania
essencial que é nos dias que correm. O Gabinete foi uma ideia
lançada no ano passado mas que não chegou a ter uma implementação
plena e terá que ser alvo de reavaliação por parte desta nova
direcção, no sentido de encontrar a solução que melhor potencie o
desenvolvimento do voluntariado na nossa academia.
Qual a tua
opinião sobre o atual regulamento de atribuição de bolsas de
estudo, e qual o teu feedback sobre o processo este ano na
UMinho? A AAUM continua a debater-se por melhorar a situação dos
estudantes? O que tem sido feito ou têm previsto
fazer?
O actual regulamento, continua a ser manifestamente insuficiente face às crescentes necessidades dos estudantes carenciados do Ensino Superior, contendo critérios de atribuição geradores de injustiça e desigualdade de oportunidades. Parece-nos positiva a existência de um prazo de candidaturas mais alargado e não coincidente com o período de exames. No entanto, entendemos que existe ainda uma série de critérios que devem ser revistos ou revogados, sob pena de continuarmos a ter estudantes em grandes dificuldades. Existem princípios que não estão a ser respeitados, como o princípio da garantia de recursos que não é respeitado nas situações em que o aluno é excluído do direito à bolsa de estudo quando a família está numa situação de dívida, algo que não se deveria verificar, visto que a bolsa é um apoio directo do Estado ao estudante e não ao seu agregado familiar, bem como o princípio da boa aplicação dos recursos públicos que é posto em causa quando o regulamento permite que estudantes de agregados familiares com rendimentos elevados provenientes de participação em sociedades recebam bolsa, visto que os mesmos continuam sem ser contabilizados no cálculo de capitação do agregado familiar.
Consideramos ainda que o critério do aproveitamento é susceptívelde distorcer um sistema de acção social para um sistema de mérito, Por fim, a contabilização do património mobiliário continua a ser uma situação muito penalizadora para os estudantes e as suas respectivas famílias, dada a dupla contabilização dos rendimentos, entretanto transformados em poupanças, e a ausência de um escalão isento de taxação no caso das famílias com menores recursos. A AAUM, juntamente com o movimento associativo estudantil nacional, continuará a reivindicar estas e outras alterações junto da tutela de forma a garantir que nenhum estudante deixe o Ensino Superior por dificuldades financeiras.
Que futuro
prevês para o Ensino Superior em
Portugal?
Não prevejo um
futuro risonho se o Estado continuar a cortar o financiamento
público para as Instituições de Ensino Superior, tal como tem
feito ao longo dos últimos anos, nem se as Universidades
continuarem a sobrecarregar os estudantes e as suas respectivas
famílias exigindo-lhe o pagamento da propina máxima, tal como tem
sido hábito. Em 2013, assinalam-se dez anos da entrada em vigor
da Lei de Financiamento do Ensino Superior. Penso que é tempo de
fazer um balanço e admitir que essa mesma lei tem que ser
alterada porque baseia-se numa falácia. Dizia-se que as propinas
iriam ser utilizadas no incremento da qualidade do ensino, mas a
verdade é que as mesmas servem para assegurar o regular
funcionamento das instituições. E entretanto, o valor já subiu
cerca de 200 € relativamente a 2003. Onde estaremos daqui a dez
anos se nada for feito? É a pergunta que gostava de deixar no
ar...
Qual a tua
maior preocupação enquanto representante dos
estudantes?
A minha maior
preocupação será acautelar que não haja estudantes a deixar a
Universidade por falta de verbas. O Fundo Social de Emergência,
que entrará em vigor no segundo semestre, tal como avançou o
Reitor da UMinho, será um instrumento importante para acudir
alunos, comprovadamente, em situações limite que exijam uma
resposta célere e flexível. A AAUM procurará garantir uma
regulamentação adequada, acompanhar todo o processo de
operacionalização do fundo e contribuir, na medida do possível,
para o financiamento do mesmo.
Uma sede
para a AAUM no Campus de Gualtar é um projeto há muito
ambicionado. Quais são as perspetivas de concretização? O que tem
faltado?
A nova sede da AAUM
é um sonho antigo de várias direcções da Associação Académica e
esta equipa procurará dar um novo impulso a este projecto. Muito
sinceramente, acho que o que tem faltado é a vontade política de
vários agentes envolvidos neste processo, que infelizmente têm
menosprezado e menorizado esta necessidade crescente dos
estudantes do Minho. Estou certo de que a crise económica e
financeira que o país atravessa também não ajuda a avançar com um
investimento tão avultado como este, mas há que encontrar
soluções alternativas que desbloqueiem o actual impasse. A AAUM
tem vindo a fazer um enorme esforço no sentido de garantir verbas
para o avanço deste projecto e a mobilizar os diversos agentes
para esta questão. Nesse sentido, mais do que nunca, a AAUM e os
estudantes estarão atentos à sensibilidade dos diversos actores
envolvidos nesta questão ao longo do ano.
A UMinho tem
sido palco de eventos desportivos universitários nacionais e
internacionais de grande relevo, organizados em cooperação com a
AAUM, desde campeonatos mundiais, europeus, Fases Finais CNU´s.
Quais são os objetivos principais destas organizações e o que
pensas desta aposta que tem sido feita há já vários
anos?
Não tenho dúvidas de
que tem sido uma aposta ganha que terá continuidade este ano com
a organização dos Campeonatos Nacionais Universitários
Individuais Concentrados em Guimarães. A organização destes
eventos desportivos tem como objectivo a promoção do desporto
universitário na UMinho, como forma de enriquecimento
extracurricular, bem como forma de fomentar hábitos de vida
saudáveis. Além disso, há sempre uma envolvência que se cria
neste tipo de organizações, com muitos estudantes a colaborar
como voluntários, dando a conhecer a nossa Academia a quem nos
visita e a tomar contacto com as várias modalidades em
competição.
Gata na
Praia. Para quando e onde decorrerá este ano a
atividade?
A previsão é que
decorra entre os dias 23 e 28 de Março, nas férias da Páscoa, tal
como habitual. Quanto ao local, ainda estamos a estudar qual será
a melhor opção.
Enterro da
Gata. Quais as datas para o evento? Quais serão as novidades
preparadas pela AAUM para este ano?
Estamos
condicionados pela calendarização da Liga Portuguesa de Futebol
Profissional, sendo que estamos a articular essa questão com o
Sporting Clube de Braga, no sentido compatibilizar ambas as
actividades. Assim que esta questão estiver resolvida, a direcção
dará essa informação a toda a Academia. Quanto a novidades,
prefiro não desvendar nada por agora. O que posso garantir é que
está tudo está a ser preparado com grande cuidado e sentido de
responsabilidade.
Qual a
relação da AAUM com a atual Reitoria?
É uma relação de
total independência. São duas instituições autónomas que
desenvolvem a sua acção de acordo com aquilo que consideram ser o
melhor para a Universidade e para os estudantes. Nesse sentido,
apesar dessa independência que se assume como basilar, há um
diálogo constante e construtivo entre as mesmas no sentido de
discutir problemas comuns e encontrar quadros de colaboração que
permitam alcançar sinergias que possam levar a melhores soluções.
Que mensagem
gostarias de deixar aos estudantes da
UM?
Gostaria de apelar
à participação dos estudantes na vida da academia,
incentivando-os a assumirem uma postura criativa e empreendedora.
Gostaria de dizer aos estudantes que a AAUM está cá para os
servir e para complementar o seu percurso académico a todos os
níveis - pedagógico, social, lúdico, cultural, desportivo,
formativo, etc. - com as actividades e os projectos feitos a
pensar neles. Porque só assim é que faz
sentido.
Texto: Ana Coimbra
Fotografia: Nuno Gonçalves
(Pub. Jan/2013)