Rui Bragança, aluno do 1º ano de medicina e atleta TUTORUM, é aos 18 anos de idade uma certeza do taekwondo nacional. Este futuro médico tem já no seu currículo um 3º lugar num Europeu de Juniores, cinco 1º lugares no nacional de taekwondo e uma vitória na taça de Portugal. Vamos então agora conhecer um pouco melhor este jovem lutador que irá representar a UMinho no I Campeonato Europeu Universitário de Taekwondo que a UMinho vai organizar nos próximos dias 11 e 12 de Dezembro.
Com que idade iniciaste a prática competitiva do
Taekwondo e onde?
Entrei com 13 anos, mas só passado cerca de 2 anos é que comecei
a competir. O local onde conheci e comecei a praticar Taekwondo
foi o ginásio Koryo, em Guimarães que ficava a mais ou menos 5
minutos a pé de minha casa, o que facilitou imenso a iniciação
porque podia ir sozinho e não tinha de apanhar nenhum transporte.
Achas que o taekwondo ajudou no teu desenvolvimento
enquanto indivíduo?
Eu acho que sim. E posso dizer com quase toda a certeza que
é por causa dele que estou em Medicina, porque me ?obrigou? a
organizar a minha vida, e a ser mais aplicado/organizar melhor os
meus estudos, já que se não tivesse relativamente boas notas, os
meus pais não me iriam apoiar tanto, nem permitir que eu
despendesse tanto tempo com os treinos. Além disso, o Taekwondo
ajudou também na minha formação como pessoa, pelos sacrifícios
que exige, por todas as pessoas com quem convivo e que já conheci
através dele, e pelo controlo emocional que é necessário ter
quando se está a treinar e a combater.
Qual foi o papel da tua família no teu percurso enquanto
atleta de alta competição?
Sendo que foram eles que me puseram no Taekwondo quando eu nem
sabia que ele existia, foi muito importante. E mesmo depois de me
terem "posto" lá, sempre me apoiaram bastante e fizeram tudo o
que estava ao alcance deles para que eu não faltasse a treinos ou
competições (o que nem sempre foi fácil) e para que estivesse nas
melhores condições possíveis, tanto emocional como fisicamente.
Quantas vezes treinas por semana, e quanto
tempo?
Treino 11 vezes por semana, cerca de duas horas por treino,
e ao domingo é dia de descanso.
Algumas pessoas associam as artes marciais a
comportamentos violentos. O que tens a dizer a essas
pessoas?
Que se estão a seguir por um estereótipo criado à bastante
tempo com base numa percentagem muito pequena, que é a que sai
nas noticias e nos filmes. Porque passa-se precisamente o
contrário, a maior parte das pessoas que pratica artes marciais
controla-se mais, tentando nunca levar as coisas para a
violência.
A maneira como tu lidas com a pressão e a ansiedade antes
dos combates é algo que tu consegues trabalhar e treinar, ou
simplesmente é algo com que apenas lidas na hora em que entras no
tatami?
É algo que se consegue trabalhar e treinar, embora seja um bocado
difícil. Mas a experiência que se ganha com cada competição e com
cada combate ajuda bastante, principalmente a lidar com a
ansiedade.
No último Campeonato Nacional Universitário, apesar de
ainda não estares na UMinho, acompanhaste a equipa e chegaste
mesmo a fazer um combate treino. Qual é para ti a grande
diferença entre a competição federada e a competição
universitária?
Eu penso que a grande diferença entre a competição federada e a
competição universitária no taekwondo português é as pessoas
ainda não a levarem tão a sério quanto a competição federada,
embora isso tenha vindo a mudar com os resultados obtidos nas
competições internacionais nas quais a selecção universitária
participou.
Recentemente participaste no Campeonato da Europa de
Sub-21 que se realizou na cidade espanhola de Vigo. Que balanço
fazes da tua performance nesta prova?
Sinto que poderia ter estado melhor, e que ainda tenho muito para
aprender, mas ainda assim foi uma boa prestação, quanto mais não
seja porque tentei virar o resultado a meu favor até ao último
segundo. E também, porque deu para perceber o que tenho de
treinar para estar melhor da próxima vez, ou pelo menos para não
voltar a cometer os mesmos erros.
O Europeu Universitário de Taekwondo está ai à porta.
Como está a decorrer a tua preparação?
Está a correr bem. Agora que os treinos e as aulas estão quase em
perfeita harmonia dá para me concentrar melhor tanto nos estudos
como nos treinos. E as condições que a Universidade do Minho me
tem dado são sem duvida uma grande ajuda.
Os jogos Olímpicos de 2012 em Londres são um sonho ou uma
meta?
Um sonho, quanto mais não seja pela sua magnitude, mas
também é uma meta. Ainda falta algum tempo, mas treino para
conseguir lá chegar.
O facto de competires pelo teu actual clube condicionou a
tua escolha de Universidades quando concorreste? Porque?
Condicionou bastante porque é cá que está o grupo com que sempre
treinei, que por sinal é um grupo bastante bom (um grupo onde são
todos campeões nacionais mais do que uma vez, onde se pode
encontrar um atleta olímpico, um campeão europeu universitário
entre outros). Além disso em nenhum outro clube em Portugal eu
teria condições para treinar desta maneira.
Para muitos atletas de alta competição torna-se difícil
conciliar os estudos com a prática desportiva. Como é que tu
consegues gerir esta nem sempre fácil "relação"?
Com muita organização. De outra forma seria impossível conciliar
tudo, já que ambas ocupam bastante tempo e têm uma exigência tão
grande. E como estudar à noite, depois de um dia sem parar com
aulas e treinos é muito complicado, é preciso também ter muita
força de vontade e acima de tudo, gostar do que se faz.
A UMinho iniciou em Portugal um programa pioneiro no que
diz respeito ao apoio aos atletas de alta competição, o TUTORUM.
O que pensas desta iniciativa e do programa em si?
É uma iniciativa muito boa porque vem ajudar bastante a
conciliação entre vida académica e vida desportiva. Com este
programa temos a possibilidade de ajustar o horário escolar aos
treinos, um tutor que nos pode ajudar na comunicação entre o
aluno e professor, entre outras coisas o que traz muitas
vantagens, principalmente a parte de poder ajustar (em certa
medida) os horários das aulas, pois mesmo o Taekwondo sendo um
desporto individual, nós treinamos numa equipa o que torna
impossível fazer um horário de treinos perfeito para todos.
Em áreas já recebeste apoio através do Tutorum?
Como já tive exames a coincidir com competições, através do
TUTORUM e da nova legislação, pude faltar aos exames e fazê-los
noutra altura. Além disso como os treinos da tarde várias vezes
coincidem com aulas, posso sair das aulas mais cedo.
Os teus objectivos pessoais passam por uma carreira
profissional no taekwondo ou os estudos vêm em primeiro
lugar?
Os meus objectivos passam por uma carreira profissional no
Taekwondo, mas é claro que os estudos também são importantes pois
não dá para competir até aos 60 anos, nem nada que se pareça
infelizmente, e é sempre bom ter um plano de recurso caso alguma
coisa dê para o torto. E como dá para conciliar tudo, porque não
fazer as duas coisas?
Texto e Fotografia: Nuno Gonçalves
(Pub. Dez./2009)