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Academia, 22.02.2022 às 13:02
UMinho comemorou os 48 anos, pela primeira vez em Guimarães
A Universidade do Minho (UMinho) comemorou no passado dia 17 de fevereiro, o seu 48.º aniversário, que pela primeira vez teve como palco a cidade de Guimarães, no recém-inaugurado Teatro Jordão. Com reivindicações de maior financiamento público, críticas ao governo e indicação dos grandes desafios da instituição até 2025, a cerimónia patenteou a vontade de construir “uma Universidade para o futuro”.

A sessão solene contou com as intervenções do reitor da UMinho, Rui Vieira de Castro, do presidente da Associação Académica da UMinho (AAUM), Duarte Lopes, do presidente do Município de Guimarães, Domingos Bragança, e da presidente do Conselho Geral da UMinho, Joana Marques Vidal. 

Numa síntese sobre o ano transato, o reitor da UMinho destacou diversos aspetos da vida da Universidade, afirmando que foi “um ano muito rico, estimulante, apesar das dificuldades com que nos confrontámos”, apontando ser “sobre esta história e este presente que a UMinho deve projetar o seu futuro”.   

Elencando diversos aspetos como a superação, por parte da Universidade, da barreira dos 20 000 estudantes e a criação de condições para uma reorientação da sua oferta educativa, potenciada pelos programas Impulsos, do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), o qual possibilitou a obtenção de um financiamento da ordem dos 13,5 M€, que vai permitir o desenvolvimento de formações de curta duração dirigidas a públicos adultos e na criação das novas licenciaturas em engenharia aeroespacial e ciência de dados, e terá ainda como destino a renovação de infraestruturas físicas, tecnológicas e pedagógicas, os 150 novos projetos de investigação, dos quais 22 europeus e 14 internacionais, a que correspondeu um financiamento global de 36,5 M€, e ainda os atuais 642 projetos em curso, no valor global de cerca de 171 M€, a consolidação da instalação de um novo polo da UMinho em Famalicão e o projeto de instalação do Instituto Multidisciplinar de Ciência e Tecnologia Marinha, na Estação Radionaval de Apúlia, para o qual já foi aberto o concurso público para a elaboração do projeto de conceção, entre muitas outras iniciativas e atividades da Academia, o Reitor da UMinho afirma que a atividade da Academia não tem “a necessária correspondência no financiamento à Instituição". 

Neste sentido, Rui Vieira de Castro refere ainda que “existem hoje, em Portugal, vários bloqueios nos sistemas de ensino superior e de investigação que afetam o desenvolvimento da UMinho”, sublinhando “debilidades sistémicas” que não têm sido “suficientemente valorizadas nas suas implicações e têm tido uma insuficiente resposta nas políticas públicas, descuidando as necessidades das IES nos planos da renovação dos recursos humanos, da modernização das infraestruturas físicas e tecnológicas e da atualização de equipamentos e infraestruturas pedagógicas”, lamentou. Além disso, o responsável da UMinho revelou que em 2021 a UMinho foi financiada “por receitas oriundas de impostos no valor de 67,5 M€, representando aproximadamente 41% do orçamento de receita da Universidade”. Recordando que a “não aplicação da fórmula de financiamento coloca a UMinho sob contínua pressão orçamental e financeira, com efeitos na renovação geracional do corpo docente e da sua progressão, na contratação de trabalhadores técnicos, administrativos e de gestão e na requalificação das suas infraestruturas tecnológicas e físicas”, quadro que é agravado pelas dificuldades da Universidade em ver satisfeitos, em tempo útil, os reembolsos devidos pelas entidades financiadoras. 

Apesar do "quadro complexo em que a Universidade se inscreve, abrem-se importantes oportunidades", indicando o PRR, o futuro Programa Operacional Regional, o Acordo de Parceria Portugal 2030 e diversos programas europeus, “cabe à UMinho perspetivar estas e outras oportunidades e encará-las como contextos de concretização da sua missão e dos seus objetivos, delas beneficiando também para se transformar”, afirmou. 

Continuando, apontou como resposta aos desafios da Academia minhota, as iniciativas previstas no Plano de Ação para o Quadriénio 2021-25, recentemente aprovado pelo Conselho Geral, o qual aponta como focos a transformação da educação; a qualidade da investigação e da inovação; a promoção da cultura e desenvolvimento do território; o reforço da internacionalização; a qualidade institucional e simplificação administrativa; a qualidade de vida nos campi e bem-estar; a estabilidade e autonomia financeiras; e reforma institucional. 

Em resposta aos casos de violência sobre mulheres e de assédio sexual nos campi da UMinho, o Reitor anunciou o desenvolvimento de uma Estratégia para a Prevenção e Combate ao Assédio, elaborada pelo Grupo de Missão para a Elaboração de Orientações de Prevenção e Combate ao Assédio na Universidade do Minho, coordenado pela Prof. Marlene Matos, da Escola de Psicologia da Universidade do Minho (EPsi). Um documento de orientações divulgado à comunidade académica e que elucida os tipos de comportamentos de assédio e as orientações para a sua prevenção a diferentes níveis. Foi ainda estabelecida, em articulação com a Associação de Psicologia da EPsi, a prestação de um serviço especializado de apoio a pessoas que na comunidade universitária sejam vítimas de violência, assegurando rapidez na resposta e sigilo absoluto, garantindo, ainda, o envolvimento de profissionais qualificados na resposta a situações de assédio. 

Terminando, Rui Vieira de Castro declarou que o processo de construção de uma Universidade para o futuro, “requererá o compromisso e a convergência dos órgãos, das unidades e dos corpos da Universidade do Minho, convergência que não pode, no entanto, colocar em causa a necessária e produtiva coexistência de visões e projetos concorrenciais dentro da Instituição”.

 No seu discurso, o presidente da AAUM mostrou-se contra a fusão entre o Ministério da Educação e o do Ensino Superior num único ministério, afirmando que este é “um erro e um enorme retrocesso nas políticas públicas no Ensino Superior”, sublinhando que o ensino superior “tem que ser uma prioridade do país”, pelo que a sua redução a uma mera secretaria de estado “será inquestionavelmente um sinal claro que não o é”, disse. 

Duarte Lopes aproveitou ainda as comemorações do 48.º aniversário da UMinho para exigir à Universidade que transite de um modelo em que os estudantes são “meramente auscultados nas decisões” e passe a um em que “fazem parte da sua construção”, pedindo que “deem responsabilidades aos estudantes”. E uma vez que a Academia minhota pretende levar a cabo, em breve, uma revisão dos seus Estatutos, o líder dos estudantes afirma que é uma oportunidade de “pôr à prova se discursos institucionais sobre a importância e relevância da participação estudantil se refletem em mudanças palpáveis”, deixando o apelo de uma maior representatividade dos estudantes no Conselho Geral. 

O dirigente associativo apelou ainda à “adoção de modelos de ensino que promovam o trabalho autónomo e maximizem o rendimento das aulas através de aprendizagem ativa”, isto no sentido de se reduzirem o n.º de horas em sala de aula e de aulas efetivamente, “num caminho de convergência com a Europa, e aí sim, seremos capazes de nos afirmar como uma Universidade de futuro e que tem futuro”, expôs.

Focando-se na ação social e realçando o papel dos Serviços de Acção Social (SASUM) nas respostas a nível das cantinas, alojamento, instalações desportivas e a bolsas de estudo, o estudante afirmou que apesar das “enormes dificuldades, impostas pelo encerramento forçado das suas instalações” e consequente paralisação de grande parte das receitas que gera, “genericamente as necessidades dos estudantes receberam resposta”, afirmando que os SASUM devem continuar a ter “autonomia administrativa e financeira”.

Pela primeira vez, um presidente de Câmara discursou no Dia da Universidade, Domingos Bragança patenteou que a relação de cooperação institucional entre o Município de Guimarães e a UMinho “tem permitido que Guimarães se afirme, cada vez mais, como Cidade Universitária, como Cidade de Ciência, Educação e Cultura”. Neste sentido, propôs a duplicação da capacidade instalada da Escola de Engenharia (EEUM), “a duplicação da sua capacidade instalada se apresente como um ousado, mas sábio investimento. Esta é uma ambição que humildemente proponho, e para a qual o Município de Guimarães se dispõe a trabalhar”, declarou. 

Como referiu o Edil de Guimarães, a EEUM será “enriquecida com a entrada em funcionamento do curso de Engenharia Aeroespacial”, para o qual a Fábrica do Arquinho será reabilitada e reconvertida, edifício que será também a futura sede da Associação Fibrenamics. "Se a reconversão da Fábrica do Arquinho é um exemplo de como, em Guimarães, recuperamos património, dando-lhe funções de futuro, a da Fábrica do Alto, em Pevidém, é o reforço dessa política", acrescentou, expondo que ali nascerá a Academia de Transformação Digital, "importante núcleo de transição digital e de transferência de conhecimento para as empresas, e um centro de empoderamento do cidadão através da formação tecnológica aplicada às necessidades reais do nosso tecido económico”. 

Recordando o percurso de crescimento da UMinho em Guimarães, Domingos Bragança lembrou a requalificação do Teatro Jordão e da Garagem Avenida, neste dia inaugurados, o Palácio Vila Flor, o Campus de Azurém, o Avepark e o Campus de Couros. “Acrescentamos agora a Escola de Artes Visuais e a Escola de Artes Performativas, consolidando Guimarães como cidade que produz cultura, e dando um passo decisivo para o reforço da componente cultural na educação dos cidadãos do futuro", asseverou.Para a presidente do Conselho Geral da UMinho, o PRR irá ajudar a responder aos desafios do futuro, mas apesar disso, chama a atenção para a necessidade de a Instituição ter a “capacidade de se recriar constantemente”, de forma a dar resposta a esses desafios.

Joana Marques Vidal revelou que Conselho Geral decidiu elaborar um plano de atividades para 2022, focado na auscultação de toda a comunidade académica, mediante encontros e audições, promoção de estudos relativos à situação financeira dos estudantes da UMinho, ao bem-estar e saúde mental dos membros da Comunidade Académica e ainda um inquérito sobre a perceção dos investigadores sobre a estrutura da carreira de investigação em regime de direito privado na UMinho, bem como uma reflexão sobre as questões que se colocam ao ensino superior. 

Para a ex-PGR, a UMinho “vive em fase de começos e recomeços, em fase de transição, em fase de mudança”, apontando que é cada vez mais premente “a interrogação sobre a Universidade que queremos”.


UMinho atribui Prémio de Mérito Científico a Helena Machado e Fernando Alexandre 

A Universidade do Minho entregou, na cerimónia do seu 48.º aniversário, o Prémio de Mérito Científico 2022 a Helena Machado, investigadora do Instituto de Ciências Sociais, e a Fernando Alexandre, do Núcleo de Investigação de Políticas Económicas (NIPE) e professor da Escola de Economia e Gestão. A distinção anual da Reitoria foi entregue pela primeira vez ex-aequo.

Texto: Ana Marques

Fotos: Nuno Gonçalves 

Arquivo de 2022