PTrigueiros
Academia, 05.11.2021 às 10:24
Design antivírus
Artigo de opinião – Paula Trigueiros, Professora Auxiliar da Escola de Arquitetura, Arte e Design da Universidade do Minho.

A pandemia apanhou-nos de surpresa, pouco depois de iniciarmos o segundo semestre de 2019-2020. O planeamento das aulas teve de ser reorganizado num ápice, para encontrarmos nos espaços de interação com os jovens alunos, um “novo normal”. Momentos turbulentos como este ajudam – porque nos obrigam - a questionar muitas coisas que dávamos como certas e bem definidas. Para os designers, este questionamento pode ser o princípio de um (bom) problema: uma boa razão para o empenho do seu talento e conhecimento em novas causas.

“Design em tempo de vírus” foi o (novo) trabalho proposto aos alunos da UC “Design e Serviços para a inclusão”, do Mestrado em Design de Produto e Serviços da EAAD. Organizados em pares e baseados em factos reais do momento, logo identificaram uma grande variedade de exemplos em que pequenas intervenções do design poderiam contribuir para uma sociedade mais inclusiva. As tarefas, síncronas e assíncronas, foram desenvolvidas em torno de uma plataforma digital (PADLET) onde eram partilhadas e comentadas pelos colegas de outros grupos, estimulando a dinâmica de turma.

Alguns grupos procuraram melhorar a comunicação em documentos produzidos por entidades oficiais, como por exemplo, no folheto “O COVID explicado às crianças”[1] fizeram uma intervenção para facilitação da leitura dos “balões” de legendas e sugerindo a ilustração de personagens mais representativos da diversidade étnica das escolas; outro propõe a conversão sonora e a criação de uma versão táctil das ilustrações do livro, editado pela DGS, “A minha avó tem coronavírus”[2] para comunicar com crianças com deficiência visual. Pensando no público isolado e sem a possibilidade de usar smartphones, um dos grupos converteu num kit de ‘post-its’ a sequência de ações necessárias para o protocolo de verificação de sintomas de COVID19 – previsto na “COVIDAPP”[3]. Outros inspiraram-se em iniciativas da sociedade civil, como a organização de voluntariado em condomínios, melhorando aplicações móveis e suportes de comunicação para facilitar serviços de distribuição de bens essenciais, ou até para tratar de animais de estimação.

Em pouco tempo os estudantes fizeram inúmeras propostas oportunas e inclusivas. Estas produziram um sentimento de realização com um retorno positivo nos próprios estudantes. Olharam para o mundo procurando o seu papel e encontraram nele fontes de verdadeira inspiração.  

Alguém dizia que “design é dar sentido à tecnologia”. Em tempos de crise também aprendemos como o design pode dar mais sentido ao talento e ao conhecimento. O design inspira-se no mundo… e também pode ser inspirador, quando demonstra o seu poder para mudar o mundo.

Autor: Paula Trigueiros

REFERÊNCIAS

[1] https://www.inem.pt/wp-content/uploads/2020/03/Flyer-CAPICCOVID-19-O-

COVID-19-Explicado-%C3%A0s-Crian%C3%A7as.pdf

[2] https://covid19.min-saude.pt/wp-content/uploads/2020/03/Livro-a-inha-avo-tem-coronavirus.pdf

[3] https://covidapp.pt/about/home

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