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Academia, 08.10.2021 às 15:47
A importância de contarmos histórias
Artigo de opinião – João Batista, Investigador júnior do Centro de Investigação em Psicologia (CIPsi) da Escola de Psicologia da Universidade do Minho.

Descobrir a Terapia Narrativa da Re-autoria de White e Epston1 foi um ponto importante na minha vida profissional; encontrei nesse modelo terapêutico um foco nas histórias de vida das pessoas em psicoterapia, permitindo-me por um lado adotar uma postura que não as patologiza, e por outro centrar-me em como elas dão sentido às suas experiências de vida. Porque darmos sentido aos eventos que vivemos, sejam eles normativos como a entrada no mercado de trabalho ou inesperados como uma separação ou a perda súbita de alguém próximo, é um aspeto central para sentirmos que temos uma história própria, construirmos a nossa identidade única.

Mais recentemente tenho-me dedicado ao campo da chamada “escrita expressiva”, iniciado por James Pennebaker2. Partindo de uma premissa simples, que escrever sobre eventos de vida difíceis, traumáticos ou stressantes pode ajudar a mitigar o seu impacto no bem-estar psicológico, têm sido implementados vários programas de intervenção para diferentes populações (e.g. cuidadores informais, pessoas com doenças crónicas, estudantes universitários). Apesar de haver estudos em que não houve um efeito significativo das intervenções3, um número considerável mostrou que escrever sobre experiências difíceis diminui sintomas de ansiedade e depressão e aumenta o bem-estar4.

No nosso laboratório de Psicoterapia e Psicopatologia temos desenvolvido estudos em que pedimos aos participantes para escrever sobre dificuldades de vida, mas também sobre os recursos que podem ajudar com as mesmas. Ao darmos atenção, refletirmos sobre o que nos preocupa e sobre o que é difícil, mas gostaríamos de mudar, estamos a fazer um esforço para construir uma narrativa, uma história, que nos pode ajudar a dar sentido às experiências que guardamos para nós ou que são difíceis de assimilar. E eventualmente, ao fazermos esta integração das experiências, estaremos a compreender melhor os nossos problemas, e o que pode contribuir para melhor lidarmos com eles.  Em suma, é importante contarmos as histórias das nossas experiências, seja partilhando-as com outras pessoas seja para nós, escrevendo-as, narrando-as. Porque de certa forma somos as histórias que contamos sobre nós, os outros e o mundo que nos rodeia.

Autor: João Batista

REFERÊNCIAS
1 - White, M. & Epston, D. (1990). Narrative means to therapeutic ends. New York: Norton. 
2 - Pennebaker, J. W., & Beall, S. K. (1986). Confronting a Traumatic Event. Toward an Understanding of Inhibition and Disease. Journal of Abnormal Psychology, 95 (3), 274–281.
3 - Reinhold, M., Bürkner, P. C., & Holling, H. (2018). Effects of expressive writing on depressive symptoms—A meta-analysis. Clinical Psychology: Science and Practice, 25(1), 1–13.
4 - Frattaroli, J. (2006). Experimental disclosure and its moderators: A meta-analysis. Psychological Bulletin, 132(6), 823–865.
Arquivo de 2021