Pró-reitor para os Assuntos Estudantis e Inovação Pedagógica, Manuel João Costa ingressou na Universidade do Minho em janeiro de 2004, na Escola de Medicina (então designada Escola de Ciências da Saúde) onde é Professor Associado desde maio de 2011. É ainda investigador do Instituto de Investigação de Vida e Saúde (ICVS). O UMdicas esteve à conversa com o Pró-reitor que nos falou de si, da UMinho, do pelouro que lidera, do futuro... garantindo que a área da inovação pedagógica no ensino superior o entusiasma particularmente.
Tomou posse como Pró-Reitor há pouco mais de um ano. Que balanço faz deste desafio?
Tendo em consideração as iniciativas de inovação pedagógica, entretanto desenvolvidas e perante o crescimento das dinâmicas colaborativas entre os vários intervenientes da comunidade educativa da Universidade que podemos constatar, guardo muito boas impressões deste primeiro ano de atividade.
Quais são os principais objetivos da pró-reitoria dos Assuntos Estudantis e Inovação Pedagógica?
A missão desta Pró-reitoria é estimular e protagonizar iniciativas que visem o desenvolvimento do ensino e da aprendizagem na Universidade e criar condições para uma experiência mais plena dos estudantes da UMinho.
A expectativa é de, em cada novo ano letivo, criar condições para que o ensino seja melhor, e para que quem ensina ou aprende o faça, sentindo uma maior realização. Assim, os principais objetivos são abrangentes e têm como focos o corpo docente, os estudantes da Universidade e o público pré-universitário.
No que respeita aos docentes, consistem no fomento e disseminação de práticas contemporâneas inovadoras com provas dadas e na valorização da atividade docente relativamente à da atividade de investigação. Estes objetivos estão no cerne da atividade do Centro IDEA-UMinho e contam ainda com o Ensino à distância da Universidade. No que concerne aos estudantes, destacaria o estímulo à participação na vida universitária, a promoção da equidade no ensino e o desenvolvimento de mecanismos que permitam conhecer com maior efetividade os estudantes e os seus percursos. Estes objetivos estão na esfera de ação do Observatório de Percursos Académicos e do Gabinete para a Inclusão da Universidade. Por último, esta pró-reitoria está envolvida na dinamização de interações com as escolas secundárias, através de vários programas dos quais destaco “o melhor estudante na UMinho”, a “UPA-Universidade de Portas Abertas” ou o “Verão no Campus”.
A UMinho viu recentemente entrar cerca de 2800 novos alunos e cerca de 500 alunos internacionais e em mobilidade. Como recebe a UMinho os seus estudantes e o que mudou no modelo de acolhimento este ano?
Relativamente ao processo de matrículas, vou focar os aspetos que me parecem ser os que mais caraterizaram o acolhimento de 2019. Começo por referir a promoção do acolhimento por pares que ganhou visibilidade com os “embaixadores” sou.uminho. Virtualmente todos os novos estudantes que se deslocaram aos campi da Universidade para se matricularem foram recebidos por colegas do 2.º ou do 3.º ano. Aliás, os embaixadores também receberam as famílias desses estudantes, o que se revelou uma experiência muito gratificante para ambas as partes, famílias e embaixadores. Os embaixadores eram mais de 150 estudantes de todas as escolas ou institutos, que disponibilizam um pouco do seu tempo para acolher os novos estudantes em 1.ºs ciclos da UMinho. Tornaram-se embaixadores após frequentar um programa de formação, desenvolvido em colaboração pela reitoria, pelos conselhos pedagógicos, pela Associação Académica da Universidade do Minho (AAUM) e pelo programa de tutorias por pares. O segundo aspeto a destacar é justamente a conceção colaborativa de todo o programa de acolhimento.
A experiência de todos e a discussão franca e empenhada entre todos foi extremamente valiosa para a seleção das melhores ideias a implementar. Por exemplo, o conceito de embaixadores teve em consideração as experiências anteriores de envolvimento de estudantes no acolhimento (por exemplo, as anteriormente desenvolvidas pela AAUM ou por algumas escolas) e foi possível articular o acolhimento dinamizado pela reitoria com os acolhimentos de cada curso nas Escolas e Institutos. Gostaria ainda de realçar a página “sou.uminho.pt”, que veio para ficar. Ainda hoje, quem quiser encontrar elementos chave sobre em que consiste estudar na UMinho, pode utilizá-la. Mais uma vez, foi um recurso desenvolvido colaborativamente.
Tornou-se um instrumento simples e claro de comunicação com quem pretenda conhecer rapidamente a nossa Universidade. Focaria, ainda, a organização do processo de matrículas, designadamente algumas melhorias que foram introduzidas no próprio processo. As mudanças introduzidas melhoraram os tempos de efetivação da matrícula de muitos estudantes.
Infelizmente, não foi ainda possível garantir celeridade para todos, mas melhorou-se a qualidade da experiência para a grande maioria. Para finalizar referiria mudanças no dia e na cerimónia de boas-vindas. Os novos estudantes almoçaram nas cantinas do seu campus com embaixadores, que os acompanharam à cerimónia de boas-vindas. A cerimónia em Gualtar contou com animação exterior no campus e foi possível melhorar aspetos organizacionais, tornando-a mais acolhedora.
Que balanço faz das atividades de Acolhimento 2019?
Tudo decorreu francamente bem e com muita satisfação para todas as partes. Os novos estudantes puderam conhecer colegas no seu primeiro contacto com a Universidade, e assim obter informações e descobrir alguns rostos que reencontraram nos dias que se seguiram. Os embaixadores viveram estes dias com muito entusiasmo. Sentiram-se úteis e foi com agrado que constatei com todos com quem conversei, que desejaria, ter tido um colhimento como este no seu ano de ingresso. Foi muito gratificante presenciar a forma empenhada e a qualidade com que desempenharam a sua missão. Os conselhos pedagógicos também comungam destas impressões. O balanço é extremamente satisfatório e temos ideias para introduzir melhorias no próximo ano.
O que é que os estudantes podem esperar do Centro IDEA UMinho, coordenado pela sua pró-reitoria, para a melhoria do ensino-aprendizagem que decorra das suas ações de formação?
A visão do Centro para a Inovação e Desenvolvimento do Ensino e Aprendizagem (IDEA) da Universidade do Minho é promover o desenvolvimento dos docentes da Universidade na expetativa de beneficiar a aprendizagem, a motivação e o bem-estar dos estudantes. O IDEA UMinho atua de diferentes formas.
Oferece formação, promove projetos de inovação pedagógica, realiza jornadas de partilha de experiências pedagógicas e dá apoio a docentes interessados em melhorar as práticas nas suas unidades Curriculares. Porventura, entre todas as dimensões da atividade do Centro, estarão a ter maior visibilidade as sessões de formação regulares, disponíveis para qualquer docente ou investigador da Universidade.
Em Portugal, o docente do ensino superior típico ainda dá os primeiros passos no ensino sem nunca ter tido oportunidade de aprender como ensinar melhor. Na UMinho, já não é assim. Entre julho de 2017 e janeiro de 2019, o IDEA-UMinho realizou 54 formações, com um total de 817 participantes, de todas as Escolas e Institutos da Universidade. Este mês, entre os dias 23 e 27 decorrerá mais uma semana de formação, com 12 formações, com um total de 335 vagas.
Estamos já a pensar no programa da semana subsequente, agendada para janeiro de 2020. Adicionalmente o IDEA-UMinho organizou um evento nacional de partilha de práticas pedagógicas no ensino superior e, recentemente, desenvolveu o primeiro retiro de formação destinado a jovens docentes. Este evento de dois dias e meio, gratuito para os participantes, despertou um enorme entusiasmo nos participantes superando as melhores expectativas. Portanto, os estudantes podem esperar docentes mais informados sobre o que podem fazer para melhorar os seus cursos, as atividades letivas e a avaliação.
Mas frequentar formações não garante implementação de práticas no terreno. Por isso, o IDEA-UMinho tem ações complementares. Por um lado, dinamiza grupos permanentes de partilha de experiências, para os quais convida docentes interessados em formas específicas de alterar as suas práticas. Por exemplo, existe um grupo de mais de 20 docentes, que tem vindo a partilhar experiências de utilização de tecnologias móveis em salas de aulas há mais de um ano. Estes grupos são um mecanismo de assegurar apoio a colegas que estão a experimentar inovações e assim conseguir maior implementação das novas práticas.
Uma vez que o Centro mantem esta articulação com os docentes, é possível garantir que os estudantes usufruem destas práticas. Por exemplo, um grupo que surgiu da implementação duma metodologia interativa de ensino designada Team Based Learning, no seu conjunto, entre janeiro e julho de 2019 expôs 304 estudantes de 7 cursos distintos da UMinho a esta forma de aprender e, segundo os questionários aos estudantes, com resultados positivos sobre a sua motivação para assistir às aulas. Por conseguinte, os estudantes podem esperar docentes mais motivados, confiantes e cada vez mais empenhados na lecionação das suas aulas.
Adicionalmente, o IDEA-UMinho abriu a porta à implementação de boas ideias para inovações pedagógicas que necessitem dum pequeno financiamento. Refiro-me ao concurso anual de projetos de inovação pedagógica, realizado em 2018 pela primeira vez. Os projetos são avaliados por um júri maioritariamente externo.
Estão neste momento em curso 10 projetos dos quais aguardamos os resultados de implementação com grande expetativa. Ao apoiar práticas inovadoras, o Centro aumenta a probabilidade dos estudantes beneficiarem de um ensino mais moderno, de maior excelência.
Referiria para concluir que as várias linhas de atuação do Centro IDEA tornam-no único no nosso país. Este é mais um motivo para os estudantes da UMinho se orgulharem da sua Universidade.
A UMinho tem visto crescer o seu número de alunos, não só a nível nacional, mas também a nível internacional. No seu entender, este crescimento tem sido acompanhado do aumento e melhoramento das condições infraestruturais e educativas?
Em primeiro lugar, devo sublinhar que a UMinho oferece condições que comparam bem com qualquer universidade de dimensões ou de história semelhante. Isto significa que possui valências de excelente qualidade, mas também outras que necessitam de claras melhorias.
Tendo em consideração que a melhoria de condições infraestruturais está inevitavelmente associada à realização de investimento e considerando a recente evolução negativa no investimento no Ensino Superior que se verifica no nosso país, julgo que será inevitável concluir que não tem existido as condições necessárias para alimentar a ambição de proporcionar melhorias generalizadas em infraestruturas. Ainda assim, tem sido possível efetuar algumas melhorias e estamos atentos às oportunidades que surjam para fazer ainda mais.
É professor da Escola de Medicina da Universidade do Minho e a sua atividade académica tem incidido, sobretudo, sobre a inovação nas práticas pedagógicas no ensino superior. Porquê este foco?
Este foco não foi intencional, tendo resultado do meu percurso. Após concluir a licenciatura em bioquímica iniciei o doutoramento convicto que me tornaria prioritariamente investigador em áreas biomoleculares. Porém, durante o doutoramento, mudei esta perspetiva e considerei a opção de ser professor. Iniciei atividade no Ensino Superior, como professor de bioquímica na Universidade dos Açores. Paralelamente à atividade de investigação laboratorial que me competia desenvolver, foi-me atribuído serviço letivo em disciplinas que não eram do maior agrado dos estudantes.
Sem ter o intuito à “priori” de investir academicamente na atividade pedagógica, encarei-a como um desafio e procurei estudar para saber como superá-lo. Inadvertidamente, acabei por me entusiasmar e por desenvolver algumas inovações pedagógicas que cheguei a publicar internacionalmente. Mantive atividade de investigação laboratorial até ao momento em que assumi funções na Escola de Medicina da UMinho.
Em 2003, conheci e fiquei fascinado com o projeto educativo daquela escola. Quando tive a boa notícia da minha contratação, fui incumbido de coordenar uma estrutura designada “Unidade de Educação Médica” com a missão de conhecer e de contribuir para o desenvolvimento do curso de medicina. Foi uma oportunidade única que esteve na base da minha decisão de me dedicar exclusivamente à inovação pedagógica no ensino superior como área académica. E espero continuar nos anos vindouros, pois considero esta área crucial para o desenvolvimento do ensino superior e dos seus estudantes. E Portugal tem ainda muito a evoluir nesta área.
Como enquadra/encara a atividade e os serviços prestados pelos Serviços de Ação Social no projeto educativo da UMinho?
A grande qualidade do projeto educativo da UMinho é reconhecida nacional e internacionalmente. Para isso contribui em grande parte a qualidade da sua oferta educativa, mas a mesma não é indissociável das outras dimensões do percurso dos estudantes no Ensino Superior. Para a que a UMinho possa ser estimulante no seu todo, deve sê-lo também ao nível da sua atividade cultural, recreativa e desportiva. Deve ainda ser solidária, sabendo prestar apoio e minorar as dificuldades surgidas no percurso dos seus estudantes. Deve ainda proporcionar serviços de qualidade que os estudantes necessitem no seu dia a dia como sejam a alimentação ou o alojamento. Os SASUM prestam serviços de qualidade aos estudantes nas áreas da atribuição de bolsas, alojamento, apoio médico, bar e restauração, e desporto, criando condições essenciais para o bem-estar dos estudantes.
Considero, portanto, que os SASUM contribuem significativamente para a construção da qualidade do projeto educativo UMinho.
Que mensagem gostaria de deixar à Academia?
Um dos aspetos que mais me impressionou neste primeiro ano de mandato, foi a riqueza e a diversidade de iniciativas desenvolvidas na Universidade com enorme qualidade, das quais não tinha o menor conhecimento. Significativamente, muitas são promovidas por estudantes, por intermédio dos seus núcleos ou de grupos que se constituem propositadamente para as levar a cabo.
A existência de tamanha diversidade de projetos e iniciativas significa que temos uma comunidade criativa e participativa, desde os nossos estudantes (a enorme resposta dos estudantes ao desafio de se tornarem embaixadores no acolhimento aponta no mesmo sentido) até aos departamentos, unidades, centros de investigação e serviços. Isto é um privilégio. Deixaria, por conseguinte, uma mensagem de estímulo a todos, para continuarem a enriquecer a Universidade com participações desta natureza. Acrescentaria um desafio para o futuro próximo: o de conseguirmos comunicar melhor, para darmos a conhecer o que fazemos a toda a Universidade. Teremos mais participação, menos competição inadvertida entre iniciativas e, seguramente, mais estímulos interessantes para sermos UMinho.
Fonte: SASUM