A comemoração contou, ainda, com Manuel José Lopes, Coordenador para a reforma do Serviço Nacional de Saúde, na área dos Cuidados Continuados Integradose Professor na Universidade de Évora, que apresentou a palestra subordinada ao tema: "Alguns Desafios da Enfermagem Atual". O Professor e Investigador iniciou a sua intervenção lamentando o facto de existir muita "produção de conhecimento em Portugal que depois não é utilizada", referindo-se ao aumento de jovens enfermeiros que se formam no nosso país, mas que emigram por não encontrarem em Portugal condições de trabalho satisfatórias.
Num segundo momento, Manuel Lopes passou a identificar
aqueles que considera, serem os quatro maiores desafios da
Enfermagem atual: o ético, mostrando ao público, inclusive, a
tabela dos trinta países com o nível de pobreza mais elevado,
referindo que, em Portugal, o número de indivíduos que vivem
abaixo desse limiar tem também aumentado. Outro exemplo foi o da
rapidez com que um doente infectado com Ébola chega, hoje em dia,
a cidades como Lisboa e o quanto é necessário preparar o país
para essa eventualidade.
O segundo desafio é o etnográfico, alertando para o facto de
que a esperança média de vida, em Portugal, aumentou
significativamente desde a criação do SNS e por consequente,
tem-se verificado um enorme aumento, nas palavras do Professor,
"do grupo dos muito idosos", com idades superiores aos oitenta
anos. Portugal, explicou, é um dos países com a maior esperança
média de vida, no entanto, um dos que revela "menor saúde".
Comparativamente a países como a Noruega - no qual 16 em cada 20
idosos têm bons cuidados de saúde - em Portugal, apenas 6 em cada
20 idosos revelam ter ?maior saúde?.
Quanto ao terceiro desafio, Manuel Lopes sugere o
organizacional, fazendo uma crítica construtiva à atual estrutura
do nosso Serviço Nacional de Saúde (Centros de Saúde Primários,
Hospitais, Cuidados Continuados Integrados, Saúde Pública e
Respostas Sociais). Olhando para toda a estrutura que compõe o
SNS, o Coordenador refere que são os Cuidados Continuados
Integrados os que precisam de um maior investimento. De acordo
com Manuel Lopes, "o nosso sistema tem de passar a medir os
resultados em saúde", algo que até agora, não acontece. Aliás, o
Professor revelou mesmo que existe já uma proposta prestes a ser
aprovada politicamente, a qual vai ao encontro, precisamente, da
integração dos Cuidados Continuados. A iniciativa «Cuidar em
Casa», da responsabilidade do Ministério da Saúde, desvenda,
pretende redesenhar tudo o que tem sido feito ao nível desse tipo
de cuidados em Portugal. Segundo o próprio, a integração e a
continuidade destes Cuidados deve passar a ser entendida como um
novo direito.
Por último, a respeito do desafio tecnológico, Manuel Lopes
prevê que a curto prazo, o panorama da saúde, tal como o
conhecemos, ficará "virado de pernas para o ar", tendo em conta
os progressivos avanços na prestação de cuidados de saúde com
recurso à tecnologia. Será, portanto, necessário que os
profissionais de saúde e neste caso, os enfermeiros, saibam lidar
com tais progressos.
Manuel Lopes concluiu a sua apresentação afirmando que
fatores económicos e fatores comportamentais são os que mais
pesam nos resultados em saúde (40% e 30%, respetivamente) e que
as universidades - e outras instituições de ensino - devem
proceder a uma alteração nos perfis de formação. No seu entender,
a investigação não pode ser apenas entendida como uma atividade
da academia, como também, deve estar inserida no contexto
clínico, a fim de ser desenvolvido um plano individual de
Cuidados com sucesso.
Texto: Rita Maia
Fotografia: Nuno Gonçalves
(Pub. Mar/2018)