Levados a votação online até ao passado dia 1 de dezembro, os dez jogos mais votados serão consumidos pelo conhecido "youtuber" sueco desta comunidade, Felix Kjellberg, conhecido virtualmente por PewDiePie, que irá fazer vídeos sobre os mesmos. Apesar de ter visto a sua equipa a três lugares do topo, Nuno Ferreira, diretor e designer do jogo, mostra-se satisfeito com o resultado final. "Se tivermos em conta que, entre mais de meio milhar de participantes acabámos em 13º, não podíamos estar mais satisfeitos, mesmo que um pouco de frustração esteja presente. É aquele "feeling" do quase", refere. Joana Teixeira considera que o resultado permite dizer que "Portugal e a UM estiveram bem representados".
A equipa de Nuno e Joana, a UnderWare Bots , participou com o jogo "Rise Of The Valkyrie" , "cuja história se centra numa valquíria robot que rebelou contra o seu criador (Dr. Odin), e que o pretende combater. Dr. Odin não torna o trabalho fácil e coloca robots e outros dispositivos que disparam, impedindo-a de avançar", explica Joana. Dada a falta de dinheiro e experiência, Nuno fala num projeto "simples", em que o jogador tem de descobrir "como avançar nos níveis, que podem ser resolvidos de formas diferentes". O aluno do Mestrado em Media Interativos da UMinho conta que já pôs vários amigos a jogar e "todos resolveram situações idênticas de formas diferentes, muitas vezes bastante criativas".
A criação do jogo teve transmissão na plataforma de vídeo mundial "Twitch", permitindo à comunidade de jogadores conhecer todo o processo de produção. Em três dias, o desenvolvimento do projeto obedeceu a regras muito restritas. "Tudo tinha de ser produzido durante o tempo do evento: código, música e arte. A única coisa que podíamos combinar com antecedência era o jogo que iria ser e podíamos trabalhar em conjunto fisicamente ou à distância", explica Nuno Ferreira.
Depois da classificação no concurso, Joana Teixeira, que deu vida à banda sonora como cantora, fala na necessidade de "correção de bugs" da versão inicial do jogo, bem como da criação do modo "multiplayer" , "que era para ter saído na versão do concurso, mas não conseguimos fazer a tempo", lamenta.
Indie: um movimento em expansão no mundo dos jogos
Lançado pelo site Game Jolt, em associação com o youtuber Felix Kjellberg, o concurso realizado no passado mês de novembro permitiu "mostrar o panorama dos independent game developers (ou indies )", cita Joana Teixeira. Nuno fala num crescimento do movimento, em resposta a dois fatores, como sendo "a indústriamainstream , que cada vez menos se preocupa com a criatividade e originalidade e mais com sequelas que possam dar dinheiro", bem como "ser cada vez mais fácil produzir jogos independentes feitos por equipas de duas a cinco pessoas no mercado, graças às plataformas de distribuição digital".
Da participação a solo, à formação de uma equipa
A separação de um colega com quem tentou criar um jogo nos últimos meses levou Nuno Ferreira a inscrever-se sozinho. Contudo, um encontro no Porto permitiu-lhe formar uma equipa a tempo do concurso. "Nem tinha expetativas de encontrar pessoal que quisesse trabalhar comigo, mas felizmente o Diogo Vasconcelos, cofundador e game designer da Nerd Monkeys , uma equipa independente em Portugal, organizou um "meet" físico para o evento no Porto e juntou-me a outras três pessoas (e mais tarde à minha namorada, a Joana) que não tinham equipa", conta.
O jogo, criado na
loja portuense Press Play
, contou, além da dupla
minhota, com o programador Jorge Pinto, com Francisco Xavier,
compositor do projeto, e ainda com Vítor Rocha, responsável pela
arte. De resto, toda a obra teve a particular curiosidade de
estes dois últimos membros não terem estado fisicamente com Nuno,
Joana e Jorge, nas 72 horas de construção do
jogo.
Um concurso "exaustivo mas recompensador"
Experiência, aprendizagem e satisfação. Terminado o concurso, é o que mais fica da criação do jogo. "Dado que eu não tenho formação, nem sei fazer videojogos por programação, a criação deste jogo proporcionou-me uma grande aprendizagem, como o trabalho e horas que leva e sobre a minha própria capacidade vocal, dado que tive de ensaiar e gravar em poucas horas e num ambiente nada preparado para o efeito", refere Joana. "Imagina o que é gravares um clip áudio e saberes que toda a gente te está a ouvir", conta a estudante minhota.
Por sua vez, Nuno fala na comunicação necessária em todas as peças de criação do "Rise Of The Valkyrie" . "Muito desse papel recaiu em mim como game designer. Era eu que dizia ao músico e ao artista o que é que eu e o programador estávamos à procura e o que precisávamos" diz o estudante. "Foi extremamente exaustivo, mas ao mesmo tempo recompensador, principalmente quando conseguimos entregar o jogo dentro do tempo limite. Foi a primeira vez que estive envolvido num evento de criação de um jogo com uma equipa de mais de duas pessoas fisicamente. Não podia estar mais satisfeito", confessa.
As expetativas para o futuro
Findado este projeto, Nuno Ferreira fala em "expetativas razoavelmente elevadas" para o que pode advir nesta indústria nos próximos tempos. Para isso, o estudante minhoto já trabalha com um grupo internacional para escrever para um novo jogo. "Nesta indústria, o que interessa é conseguir oportunidades e agarrá-las com duas mãos. E neste momento diria que estão finalmente a aparecer".
De modo diferente,
mas com a mesma ambição, Joana espera que lhe sejam abertas
portas para futuras colaborações como vocalista. "Tinha o sonho
de fazer parte de uma banda sonora e agora espero alimentar esse
sonho noutros projetos. Em termos coletivos, todos nós esperamos
que o jogo adquira algum sucesso, que nos dê algo em termos
profissionais. Para o futuro, a estudante do Mestrado em
Património e Turismo Cultural na UMinho dita mais um desejo
particular. Esperamos que o mesmo grupo possa voltar a trabalhar
numa colaboração semelhante e criar mais
videojogos".
Texto: Ricardo
Castro