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Academia, 19.04.2014
UM Futuro para a Democracia portuguesa em debate na UMinho
UMinho
A Conferência "UM Futuro para a democracia" decorreu no passado dia 10 de abril, na reitoria da Universidade do Minho. O evento fez parte do ciclo de conferências organizadas pela UMinho, no âmbito da comemoração dos 40 anos da universidade, a qual juntou em volta do mesmo tema, políticos da atualidade, académicos e militares responsáveis pelo golpe de Estado que derrubou a ditadura em 1974.


Os militares de abril consideraram que a situação atual que o país está a viver é pior que na primeira república, devido aos interesses instalados, dos quais é impossível fugir de forma tranquila. Consideraram que a sociedade está descrente, que é preciso que as pessoas votem. "A democracia triunfa se os cidadãos participarem" disse o Almirante Martins Guerreiro. O coronel Rui de Castro Guimarães afirmou que está "farto da falta se vergonha e complacência do povo". Concordando com o que foi dito, o general Alfredo Assunção defendeu que nos partidos já não se discute a ideologia e os interesses do país mas os seus interesses. Apesar de tudo os militares de abril continuam a acreditar na democracia.

"Há quem ache que os gráficos podem prever o futuro" disse Pacheco Pereira referindo-se ao facto de a revolução dos cravos ter sido um surpresa, de ninguém prever tal acontecimento. Referiu ainda que na altura as pessoas "pensavam que estavam comprometidas com aquele regime para toda a vida". Segundo Pacheco Pereira a Revolução de Abril tinha tudo para correr mal, uma vez que os militares "cometeram os erros todos", porque os militares usaram telefones, encontraram-se em sítios públicos, falaram com pessoas sobre fenómenos conspirativos sem a mínima ideia da resposta que poderiam ter do outro lado.

O golpe levado a cabo no dia 25 de Abril de 1974 foi o único golpe bem-sucedido ao fim de mais de 40 anos a tentar derrubar o regime. As tentativas militares e civis sucediam-se periodicamente sem sucesso. "As pessoas passavam a vida a conspirar", disse Pacheco Pereira, sendo que a principal lição que se pode tirar é que "há momentos em que é preciso sermos intransigentes". 

Os grandes riscos de hoje para a Democracia portuguesa são a perda de independência e soberania nacional. "Mesmo que os mais pobres não sejam usados, é certo que o mecanismo que permite tirá-los da pobreza acabou" disse Pacheco Pereira. Acrescentando ainda que o que é preciso não é austeridade mas tempo, e que o pior vem nos anos seguintes, mesmo que não se tome nenhuma medida. "Há uma máquina destinada a pôr as pessoas na lama, dão-se ordenados como se fossem benesses" e não como reconhecimento do seu trabalho, finalizou. 

O almirante Martins Guerreiro é da opinião que os riscos para a democracia são o empobrecimento da população e o radicalismo. "Hoje vivemos numa situação de indignidade" se Portugal quer afirmar a sua "dignidade, identidade e soberania tem de exigir ser "igual" aos outros países. 

Esta conferência foi principiada com uma conversa entre militares do 25 de abril. Neste diálogo, fez-se uma resenha histórica dos acontecimentos que antecederam a revolução dos Cravos e sobre a situação das colónias. A conferência terminou com a apresentação do livro "Os rapazes do tanque", de Adelino Gomes e Alfredo Cunha e, nas palavras dos seus autores, esta obra pretende "a partir dos que estão vivos fazer uma homenagem aos 5000" militares que participaram no golpe militar. "O livro não é nosso é dos 40 aos do 25 de abril", finalizaram.

Texto: Ana Teixeira


(Pub. Abr/2014)

Arquivo de 2014