Os militares de abril consideraram que a situação atual que o país está a viver é pior que na primeira república, devido aos interesses instalados, dos quais é impossível fugir de forma tranquila. Consideraram que a sociedade está descrente, que é preciso que as pessoas votem. "A democracia triunfa se os cidadãos participarem" disse o Almirante Martins Guerreiro. O coronel Rui de Castro Guimarães afirmou que está "farto da falta se vergonha e complacência do povo". Concordando com o que foi dito, o general Alfredo Assunção defendeu que nos partidos já não se discute a ideologia e os interesses do país mas os seus interesses. Apesar de tudo os militares de abril continuam a acreditar na democracia.
"Há quem ache que os
gráficos podem prever o futuro" disse Pacheco Pereira
referindo-se ao facto de a revolução dos cravos ter sido um
surpresa, de ninguém prever tal acontecimento. Referiu ainda que
na altura as pessoas "pensavam que estavam comprometidas com
aquele regime para toda a vida". Segundo Pacheco Pereira a
Revolução de Abril tinha tudo para correr mal, uma vez que os
militares "cometeram os erros todos", porque os militares usaram
telefones, encontraram-se em sítios públicos, falaram com pessoas
sobre fenómenos conspirativos sem a mínima ideia da resposta que
poderiam ter do outro lado.
O golpe levado a
cabo no dia 25 de Abril de 1974 foi o único golpe bem-sucedido ao
fim de mais de 40 anos a tentar derrubar o regime. As tentativas
militares e civis sucediam-se periodicamente sem sucesso. "As
pessoas passavam a vida a conspirar", disse Pacheco Pereira,
sendo que a principal lição que se pode tirar é que "há momentos
em que é preciso sermos intransigentes".
Os grandes riscos de
hoje para a Democracia portuguesa são a perda de independência e
soberania nacional. "Mesmo que os mais pobres não sejam usados, é
certo que o mecanismo que permite tirá-los da pobreza acabou"
disse Pacheco Pereira. Acrescentando ainda que o que é preciso
não é austeridade mas tempo, e que o pior vem nos anos seguintes,
mesmo que não se tome nenhuma medida. "Há uma máquina destinada a
pôr as pessoas na lama, dão-se ordenados como se fossem benesses"
e não como reconhecimento do seu trabalho,
finalizou.
O almirante Martins
Guerreiro é da opinião que os riscos para a democracia são o
empobrecimento da população e o radicalismo. "Hoje vivemos numa
situação de indignidade" se Portugal quer afirmar a sua
"dignidade, identidade e soberania tem de exigir ser "igual" aos
outros países.
Esta conferência foi
principiada com uma conversa entre militares do 25 de abril.
Neste diálogo, fez-se uma resenha histórica dos acontecimentos
que antecederam a revolução dos Cravos e sobre a situação das
colónias. A conferência terminou com a apresentação do livro "Os
rapazes do tanque", de Adelino Gomes e Alfredo Cunha e, nas
palavras dos seus autores, esta obra pretende "a partir dos que
estão vivos fazer uma homenagem aos 5000" militares que
participaram no golpe militar. "O livro não é nosso é dos 40 aos
do 25 de abril", finalizaram.
Texto: Ana
Teixeira
(Pub. Abr/2014)