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Academia, 21.11.2013
Discurso do Reitor marcado pela crítica ao Governo, exigiu maior autonomia e menos cortes para as universidades
UMinho
O passado dia 18 de novembro ficará marcado no calendário da UMinho como o início de uma nova etapa, não que as mudanças sejam significativas, uma vez que Antonio Cunha tomou posse para um segundo mandato, juntamente com a grande maioria dos elementos da anterior equipa reitoral, mas o tom crítico do seu discurso adivinha que se chegou aos limites dos cortes e da limitação da autonomia das universidades.


Decorrida noSalão Medieval da Reitoria, pelas 18h00, a cerimónia de investidura do Reitor da UMinho contou com a presença doministro da Educação e Ciência, Nuno Crato,do Presidente do Conselho Geral da UMinho, Álvaro Laborinho Lúcio, e do Presidente da Associação Académica, Carlos Videira, para além de representantes de outras instituições académicas, membros do Governo e deputados, autarcas da região e várias centenas de convidados que não quiseram deixar de estar presentes na sessão solene que marca o início de mais um ciclo para o qual se pede muito trabalho às universidades e onde as dificuldades continuarão a ser uma realidade.

António Cunha começou por referir, que face ao programa que trouxe para a Universidade há quatro anos atrás, e citando Cesare "...a cor do mundo mudou!", mas chamando a atenção que perante todas as dificuldades "...temos respondido com grande sentido de responsabilidade", esperando que os sacrifícios não sejam em vão.

Numa crítica mais aberta ao Governo, o reitor citou Daniel Innerarity "O futuro tem maus advogados no presente", referindo-se às reduções das dotações do Estado com que as universidades têm sido "sistematicamente" confrontadas.

Antonio Cunha disse ser tempo de o Governo "libertar" as universidades dos "espartilhos" que limitam a sua atividade, realçando que "aqui... no Minho, tudo foi sempre difícil, mas apesar das circunstâncias adversas cumprimos o nosso projeto protagonizando 4 anos de afirmação e crescimento."


António Cunha criticou a proposta do Regime Jurídico das instituições do Ensino Superior (RJIES), que apelidou de "documento remendado", "incoerente e redutor da autonomia universitária", desejando que esta proposta acabe no "arquivo morto" do Ministério da Educação.

Com 2013 a chegar ao fim, o Reitor da UMinho aproveitou a presença de Nuno Crato para dizer que "O fecho de 2013 é problemático (...as cativações são injustas) e o exercício de 2014, nas condições propostas, é impossível" (...porque alguém, no ministério das contas, não sabe fazer contas!), referindo-se aqui à "escassez das dotações, à falta de transparência dos critérios e à ausência de conhecimento atempado das regras do jogo", aludindo aos cortes que, nos últimos quatro anos foram de 24%.

Face à proposta de reorganização do ensino superior, António Cunha realçou que "importa
resistir à tentação de uma reorganização feita a compasso e esquadro a partir do Terreiro do Paço, para realidades regionais muito diversas".

Para o novo mandato, o reitor empossado afirma que "neste quadro de dificuldades e oportunidades", a UMinho quer atingir em 2020, 25000 estudantes e ser a universidade portuguesa com maior impacto no desenvolvimento socioeconómico. Prosseguindo até 2017 com os objetivos de crescer e diferenciar a oferta educativa, reforçando a investigação, valorizando o conhecimento produzido, modernizando, requalificando e ampliando infraestruturas e serviços, para os quais mobilizarão a Comunidade Académica e os ex-estudantes e diversificando fontes de financiamento, isto a nível regional e internacional.

Na sua resposta, Nuno Crato, tentou "tranquilizar" o Reitor, referindo que "Nós temos bons advogados a tratar do futuro, a universidade tem bons advogados em todos os membros do Governo; mas não bastam advogados para o progresso do país, nós temos todos de trabalhar e as dificuldades têm de ser ultrapassadas", disse. Reiterando ainda que as instituições do ensino superior "fizeram muito, mas sabemos que, sabendo fazer muito, saberão fazer melhor", disse. 

Estando a reorganização do ensino superior na ordem do dia, o ministro referiu ainda que "Para melhorar o ensino superior público, é fundamental repensar a oferta efetiva e a rede institucional do Ensino Superior, através da constituição urgente de órgãos regionais de gestão da rede, e repensai o modelo de financiamento, tendo em conta as instituições", não esquecendo o papel de "vanguarda" das universidades na preparação de um "pais competitivo".

Também Laborinho Lúcio, reclamou mais autonomia para as universidades, requerendo neste capítulo, uma "eventual revisão da legislação dos RJIES". Destacando o bom trabalho que tem vindo a ser feito pela UMinho, mesmo com todas as limitações a têm sido sujeitas as universidades, o presidente do Conselho Geral da UMinho chama a atenção para a "ultrapassagem dos limites razoáveis" seja em relação aos cortes no financiamento, seja em relação à "imprevisibilidade" sobre as disponibilidades financeiras, que refere "vêm comprometer, quer no imediato, quer a prazo, a possibilidade de responder pela qualidade que se reclama do ensino superior universitário".

Texto: Ana Marques

Fotografia: Nuno Gonçalves

(Pub. Nov/2013)

Arquivo de 2013