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Academia, 03.09.2012
Ausência de comunicação e amor são os principais motivos para o divórcio
UMinho
Um estudo da Universidade do Minho revela que a maioria das mulheres apontam a "falta de comunicação" como um dos principais motivos para o divórcio, enquanto os homens falam em "ausência de amor". Apesar de existirem estas assimetrias de género na tomada de decisão, a verdade é que as pessoas divorciadas veem a separação como um "alívio" e uma forma de escapar de uma "situação intolerável", explica Manuel Carlos Silva, professor catedrático do Instituto de Ciências Sociais e coordenador do projeto, que incluiu o testemunho de 56 pessoas divorciadas.


As mulheres entrevistadas apontam a insatisfação face à comunicação no casal (44%), a ausência de amor (32%), a infidelidade (26,5%) e a violência física (21%) como fatores estruturantes na hora de tomar a decisão. Para eles, os motivos mais referidos são a falta de amor (32%), os problemas de comunicação (18%) e a violência doméstica, sobretudo de ordem psicológica (4,5%). Os homens sublinham ainda um aspeto nunca indicado pelas ex-companheiras: 9,5 por cento dos inquiridos optaram pelo divórcio para legalizar outra relação já existente, enquanto elas são as únicas a referir a falta de independência (15%) como explicação para a rutura conjugal. Outro aspeto mencionado exclusivamente por 17 por cento do sexo masculino é o facto de o divórcio gerar perdas económicas e financeiras.

O trabalho - intitulado "Divórcio e Assimetrias de Género: Processos, Negociações e Impactos" - teve como objetivo analisar a evolução portuguesa do fenómeno do divórcio, em termos legislativos e estatísticos, comparando-a com a dos restantes países. Mais especificamente, visou averiguar as razões das separações, aferir em que medida se verificam padrões de desvantagem para as mulheres e quais as implicações do divórcio nas responsabilidades parentais e nos próprios divorciados e filhos. Para além dos 56 inquéritos, foram ainda recolhidos e analisados 400 processos de divórcio, os quais permitiram concluir que "a mulher é o elemento mais prejudicado e, por vezes, vítima não só durante o casamento, mas também nos próprios processos de divórcio", afirma o professor, que também é diretor do Centro de Investigação em Ciências Sociais da UMinho.

Taxa de divórcio aumenta nos casais com mais estudos

Apesar de os divórcios terem diminuído ligeiramente em 2011, as separações atingem cada vez mais casamentos. Em 2000, o Instituto Nacional de Estatísticas contava com 63.752 casamentos e 19.104 divórcios. Já em 2002 a taxa de divorcialidade (2,7‰) - proporção entre o número de divórcios decretados e a população residente - colocou Portugal a par dos países da União Europeia que possuíam os indicadores mais elevados, como a Suécia (2,4‰), Finlândia, Dinamarca e Bélgica (2,9‰). Por mais que o aumento dos divórcios seja transversal aos vários grupos sociais, verifica-se uma preponderância de pessoas divorciadas nos grupos de empregados, profissionais liberais e nos quadros médios e superiores, sublinha o sociólogo Manuel Carlos Silva, que contou com a colaboração da doutoranda Ana Jorge e da bolseira Aleksandra Queiroz. A perda de capacidade sancionatória da Igreja e dos seus representantes locais, as mudanças nas práticas e conceções sobre a família, a crescente valorização do bem-estar individual, o impacto dos media na mudança de mentalidades e costumes, os movimentos de emancipação feminina e o aumento exponencial de mulheres diplomadas são alguns dos fatores que explicam esta evolução crescente.

Manuel Carlos Silva é licenciado em Direito pela Universidade de Lisboa e em Sociologia pela Universidade de Amesterdão, onde se doutorou em "Ciências Sociais, Culturais e Políticas". As áreas de investigação e publicação têm incidido sobre o rural-urbano, a política, o desenvolvimento, as desigualdades de classe, étnicas e de género. Tem vindo a (co)organizar vários congressos nacionais e internacionais. Já foi distinguido com o Prémio Sedas Nunes pela obra "Resistir e adaptar-se. Constrangimentos e estratégias camponesas no Noroeste de Portugal", avaliada por um júri internacional como melhor obra em Ciências Sociais entre 1994 e 1996. Foi ainda presidente da Associação Portuguesa de Sociologia durante dois anos.


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