O professor João Cerejeira, da Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho, não comunga da opinião de que baixar os salários seja uma boa medida para relançar a economia de Portugal, crendo mais no aumento da competitividade pela redução de outros custos de produção e uma maior atuação dos reguladores. O académico revela ainda que os recentes indicadores referentes às contas com o exterior transmitem sinais de confiança aos mercados.
Para o investigador do Núcleo de Investigação em Políticas
Económicas da UMinho, o aumento do salário mínimo nacional, nesta
altura, é uma possibilidade "utópica e irreal", considerando que
"o efeito negativo sobre o emprego seria arrasador,
principalmente nos jovens e em alguns grupos vulneráveis". Por
outro lado, e relativamente às considerações recentes do Nobel da
Economia 2008, Paul Krugman, afirmando que para ganhar
competitividade, Portugal deveria baixar os salários, João
Cerejeira entende que "a competitividade deve ser melhorada
através da redução de outros custos produtivos, que não os custos
salariais, nomeadamente as despesas de energia, portagens,
telecomunicações, transportes, que têm importância vital para as
empresas".
Acrescenta ainda que "seria determinante um papel mais
incisivo dos reguladores, para que o mercado do produto também
tivesse medidas que permitissem a competitividade por esta via".
Deste modo, o economista defende que "diminuir os salários
poderia melhorar a competitividade internacional, mas teria
efeitos devastadores na procura interna e em setores dependentes
desta procura, nomeadamente aqueles que são de mão-de-obra
intensiva", como a restauração, o comércio a retalho, a
construção civil, entre outros.
Economia portuguesa mostra alguns sinais de
confiança
O investigador entende os discursos positivos e credíveis
dos políticos e governantes, até porque "o discurso político tem
que fazer a gestão de expectativas perante os mercados", mas
defende contudo a leitura rigorosa dos indicadores, que
normalmente é efetuada pelos economistas. Nesse domínio, avança
que "há indicadores recentes de muito curto prazo que dão sinais
da recuperação da confiança dos investidores, nos fundamentos da
economia portuguesa" como o facto de "no último trimestre de
2011, pela primeira vez desde 1995, a balança de pagamentos
portuguesa estar equilibrada", constituindo-se um sinal positivo
de confiança para os mercados. Para João Cerejeira, este
indicador é fulcral, pois "desde há muitos anos, nomeadamente
desde a adesão ao euro, Portugal acumulou défices sucessivos,
gastando mais do que produzia, acumulando dívida pública e
privada, com recurso ao crédito externo".
Numa perspetiva de recuperação económica e dos seus
timings, o professor considera que "é necessário esperar pela
consolidação destes sinais de equilíbrio", acrescentando que "se
estes indicadores se confirmarem durante este e no próximo ano, e
se não houver nenhum percalço, poderão permitir o início do
crescimento lá para finais de 2013 - mesmo crendo que Portugal
deverá reforçar o plano de ajuda externa, ainda que não necessite
de uma restruturação da dívida".
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(Pub. Abr/2012)