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Academia, 27.01.2012
Investigadora da UMinho cria programa para agressores conjugais em grupo
UMinho
Olga Cunha, doutoranda da Escola de Psicologia da Universidade do Minho, acaba de desenvolver um programa nacional inédito e multidisciplinar para agressores conjugais em grupo. O plano de intervenção já foi aplicado em vários indivíduos encaminhados por entidades judiciais e instituições de apoio e vai ser testado numa cadeia portuguesa já este mês. O objetivo é implementá-lo em todas as instituições prisionais. A investigação foi recentemente publicada na Revista do Ministério Público.

Os resultados do plano de intervenção foram bastante satisfatórios, uma vez que durante o período da sua aplicação cessaram os comportamentos abusivos para com as companheiras e, ao nível das competências trabalhadas, verificou-se uma redução significativa das crenças legitimadoras do uso de violência em relações íntimas e um incremento relativamente às estratégias de resolução de problemas e da autoestima. "Os participantes identificaram a intervenção como fundamental na sua mudança", esclarece a investigadora, acrescentando que serão em breve obtidas novas conclusões, nomeadamente no que diz respeito à reincidência dos atos de violência a médio e longo prazo. O plano está a funcionar na Unidade de Consulta em Psicologia da Justiça da UMinho, em Braga, tem uma duração de um semestre e uma frequência semanal, isto é, seis sessões individuais e dezoito reuniões em grupo.

O Programa de Promoção e Intervenção com Agressores Conjugais (PPRIAC) distingue-se dos planos já existentes pelo facto de ser constituído por diferentes modos de atuação: entrevista motivacional, terapia cognitivo-comportamental e intervenção psico-educativa em grupo. A entrevista motivacional visa principalmente a alteração comportamental do paciente, ajudando-o a explorar e resolver a "sua ambivalência em relação à mudança". A terapia cognitivo-comportamental em grupo tem vindo a ser referenciada como a forma mais eficaz para tratar esta população. O objetivo é ajudar os indivíduos a "funcionar melhor", alterando a forma como refletem e atuam em diversas situações do quotidiano. "Pretende-se ensinar estratégias e competências de não-violência e a modificação de atitudes e comportamentos rígidos em relação aos papéis de género e ao uso da violência mas, acima de tudo, procura-se a cessação dos comportamentos abusivos em relação à parceria", explica a doutoranda.

Os participantes serão levados também a identificar os fatores ou situações que os podem conduzir à violência e, consequentemente, levá-los a avaliar os pensamentos subjacentes à agressão e aprender novas formas de compreender e lidar com as situações que conduzem a cenários abusivos. O último método de intervenção será dedicado ao ensino de "competências específicas ao nível da comunicação, assertividade, gestão da raiva, entre outras", adianta Olga Cunha, que está a desenvolver a tese de doutoramento "Violent men: Validation and implementation of an intervention program for batterers", sob a orientação do professor Rui Abrunhosa, da UMinho.

Terapia multidisciplinar para evitar reincidência

O plano propõe uma intervenção no âmbito das competências pessoais, sociais e  comunicacionais e na esfera comunitária ao nível da prevenção e redução da reincidência. Assume uma abordagem multidisciplinar, que permite analisar os vários fatores de ordem sociológica, psicológica, cultural, social e situacional ou conjetural associados ao fenómeno da violência doméstica, proporcionando desta forma uma intervenção completa. "O programa abandona a visão redutora da violência ligada a estereótipos de género, compreendendo a violência conjugal como um fenómeno complexo onde os estereótipos se assumem como um entre um conjunto amplo de fatores", explica a investigadora.

A existência de determinadas características pessoais do agressor (défices no controlo dos impulsos, impulsividade, pobres competências pessoais, baixa assertividade comportamental e verbal), a presença de alguma perturbação psicológica, o consumo de substâncias e as dificuldades comunicacionais existentes na relação surgem como "ativadores de episódios abusivos", refere. Além disso, as crenças culturais e patriarcais, as experiências de vitimação precoces e a exposição a violência inter-parental também podem ter influencia no aparecimento de comportamentos abusivos.

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(Pub. Jan/2012)

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