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Academia, 05.09.2011
Crianças brincam cada vez mais fechadas no quarto
UMinho
As correrias das crianças pelos montes, as aventuras com vizinhos e os brinquedos artesanais foram substituídos por quartos plenos de tecnologia, escolas a tempo inteiro e brinquedos industriais. O investigador Alberto Nídio Silva, da UMinho, alerta que o encanto do brincar e a transmissão geracional das artes lúdicas estão em risco, por isso as famílias, instituições de ensino e políticos precisam de reconquistar o tempo lúdico dos mais novos e a partilha do espaço público.

Nídio Silva é doutorado em Estudos da Criança, ramo de Sociologia da Infância, com a tese "Jogos, Brinquedos e Brincadeiras - Trajectos Intergeracionais", que acaba de ser aprovada por unanimidade. A investigação apoiou-se em cem testemunhos orais de dez famílias, abarcando quatro gerações vivas (filhos, pais, avós, bisavós ), dos 5 aos 100 anos. Recorreu ainda a imagens da Fototeca do Museu Nogueira da Silva e do Museu da Imagem, em Braga.

As brincadeiras mudaram com a rapidez da sociedade e individualizaram-se. "Há uma espécie de regresso às cavernas, as crianças fecham-se num refúgio de luxo conectado com o mundo - o virtual em vez do real, o site em vez do sítio. É certo que elas continuam num mundo lúdico de encanto, mas fazem-no sem irmãos, nem vizinhos, nem amigos informais", nota Nídio Silva. Para o investigador, "empobreceu a socialização, a compreensão da diferença, a solidariedade, o convívio".

Por outro lado, "engaveta-se os mais novos em instituições de toda a espécie", com actividades curriculares sucessivas e coincidentes com a longa jornada laboral dos pais. O monitor do ATL recebe os petizes antes das 8h e o docente de turma ensina-os das 9h às 16h, com pausa para almoço. Segue-se o professor das actividades de enriquecimento curricular e até às 19h volta o monitor do ATL. "A vida destas crianças infernizou-se, está seriamente amputada do quotidiano com a dimensão plena da brincadeira e das suas 1001 confabulações", insiste.

Reconciliar velhos e novos padrões lúdicos

O sociólogo considera que, mesmo tendo menos tempo de qualidade para estar com os mais próximos, os menores nunca deixarão de brincar, pois é inato: "As novas tecnologias estão a mudar as suas brincadeiras e o acto de brincar, logo a sua imaginação e criatividade, embora tenham também incontáveis potencialidades", continua.

No seu entender, a sociedade deve rapidamente reconquistar o espaço público perdido, criar espaços-tempo na escola de vocação exclusivamente lúdica e trazer ao interior da família a obrigação de abrir as portas para que, lá fora, as crianças se possam encontrar e brincar - tal como antes se reuniam no largo, adro ou campo os vizinhos e colegas da escola, catequese ou escutismo. "É urgente reconciliar velhos e novos padrões lúdicos, para equilibrar uma balança que parece pender para a perda do sentido de autonomia do movimento, da criatividade e do próprio corpo da criança e à subordinação a formas estandardizadas e mercantis do brincar", refere Nídio Silva. Acentua ainda que, pela demora, o testemunho intergeracional arrisca-se a não passar para as gerações vindouras.

Alberto Nídio Silva, de 57 anos e natural de Barbudo, Vila Verde, fez o mestrado e o doutoramento em Sociologia da Infância na UMinho. No ensino básico exerceu funções de professor, gestor, administrador, delegado concelhio e presidente do agrupamento escolar de Vila Verde. Centra os estudos nas culturas da infância, com foco na cultura lúdica e no folclore infantil. É co-autor do livro "Estudo de caracterização dos recreios escolares com vista à sua requalificação" (2008).

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(Pub. Set/2011)

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