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Academia, 30.11.2010
Quatro em cada dez mulheres com mais de 60 anos referem ter sofrido algum tipo de abuso
Quatro em cada dez mulheres portuguesas com mais de 60 anos relataram ter experienciado algum tipo de abuso nos últimos 12 meses por alguém que lhes é próximo, conclui um estudo da Escola de Psicologia da Universidade do Minho.

O abuso mais prevalente foi o emocional ou psicológico (32,9%), seguido do abuso financeiro (16,5%), violação de direitos pessoais (12,8%), negligência (9,9%), abuso sexual (3,6%) e abuso físico (2,8%). A pesquisa enquadra-se no projecto europeu AVOW ? Violence and Abuse Against Older Women, que junta ainda o Instituto Nacional para o Bem-estar e Saúde (Finlândia), Instituto de Investigação da Cruz Vermelha (Áustria), Universidade Livre de Bruxelas (Bélgica) e a Universidade Vytautas Magnus (Lituânia). O consórcio é financiado pelo Daphne III da União Europeia, do qual faz parte o programa "Direitos Fundamentais e Justiça".

Esta equipa internacional decidiu fazer a primeira divulgação dos dados aproveitando a visibilidade do Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra a Mulher, celebrado a 25 de Novembro e instituído desde 1999. Em Portugal, a pesquisa foi desenvolvida na UMinho pelo professor José Ferreira-Alves e pela investigadora Ana João Santos. O objectivo foi obter informação mais precisa da dimensão e tipologia do abuso e negligência relatado pelas próprias mulheres idosas à escala nacional. Compreendeu uma amostra de 649 mulheres com 60 anos ou mais a viver em domicílios particulares. Os dados foram colectados através de um questionário criado pelo AVOW e enviado por correio para 1700 moradas previamente seleccionadas.

Parceiro/esposo é o perpetrador mais referido

Mais de metade das situações relatadas correspondem à incidência de um único tipo de abuso. A severidade do mesmo, calculada segundo o número de episódios experienciados e sua frequência, revela que uma em cada quatro mulheres o viveu na sua forma mais severa. O parceiro/esposo foi o perpetrador mais referido nos abusos emocional, financeiro, sexual e de violação de direitos pessoais. A filha foi o principal perpetrador na negligência e abuso físico. Do total de mulheres abusadas, só um terço reportou ou contou o incidente mais sério que viveu e fê-lo sobretudo na sua rede social informal (a um membro da família e/ou amigo). Das que contactaram serviços, instituições ou organizações, a maioria reportou o caso a um profissional de saúde, seguido de um padre e de um assistente social ou profissional do apoio domiciliário. Só 1.4% das vítimas recorreram à PSP ou GNR.

As mulheres indicaram consequências emocionais e psicológicas de sua experiência abusiva, particularmente tensão, sentimentos de impotência, depressão e dificuldades em dormir ou pesadelos. Além disso, avaliaram menos positivamente a sua qualidade de vida do que as mulheres que dizem não ter sido vítimas. Aliás, quanto mais severos foram os maus-tratos mais negativamente foi percepcionada a qualidade de vida. As consequências mais apontadas à saúde da vítima sugerem danos psicofisiológicos no presente ou a curto prazo. Os investigadores sublinham, por isso, que importa prosseguir a investigação sobre a dinâmica e a ?carreira? do abuso ao longo do ciclo de vida, com especial destaque para o que ocorre em idade avançada.

Mais informações emhttp://www.thl.fi/en_US/web/ en/research/projects/avow .


(Pub. Nov/2010)

Arquivo de 2010