O abuso mais prevalente foi o emocional ou psicológico (32,9%), seguido do abuso financeiro (16,5%), violação de direitos pessoais (12,8%), negligência (9,9%), abuso sexual (3,6%) e abuso físico (2,8%). A pesquisa enquadra-se no projecto europeu AVOW ? Violence and Abuse Against Older Women, que junta ainda o Instituto Nacional para o Bem-estar e Saúde (Finlândia), Instituto de Investigação da Cruz Vermelha (Áustria), Universidade Livre de Bruxelas (Bélgica) e a Universidade Vytautas Magnus (Lituânia). O consórcio é financiado pelo Daphne III da União Europeia, do qual faz parte o programa "Direitos Fundamentais e Justiça".
Esta equipa internacional decidiu fazer a primeira divulgação dos dados aproveitando a visibilidade do Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra a Mulher, celebrado a 25 de Novembro e instituído desde 1999. Em Portugal, a pesquisa foi desenvolvida na UMinho pelo professor José Ferreira-Alves e pela investigadora Ana João Santos. O objectivo foi obter informação mais precisa da dimensão e tipologia do abuso e negligência relatado pelas próprias mulheres idosas à escala nacional. Compreendeu uma amostra de 649 mulheres com 60 anos ou mais a viver em domicílios particulares. Os dados foram colectados através de um questionário criado pelo AVOW e enviado por correio para 1700 moradas previamente seleccionadas.
Parceiro/esposo é o perpetrador mais referido
Mais de metade das situações relatadas correspondem à incidência de um único tipo de abuso. A severidade do mesmo, calculada segundo o número de episódios experienciados e sua frequência, revela que uma em cada quatro mulheres o viveu na sua forma mais severa. O parceiro/esposo foi o perpetrador mais referido nos abusos emocional, financeiro, sexual e de violação de direitos pessoais. A filha foi o principal perpetrador na negligência e abuso físico. Do total de mulheres abusadas, só um terço reportou ou contou o incidente mais sério que viveu e fê-lo sobretudo na sua rede social informal (a um membro da família e/ou amigo). Das que contactaram serviços, instituições ou organizações, a maioria reportou o caso a um profissional de saúde, seguido de um padre e de um assistente social ou profissional do apoio domiciliário. Só 1.4% das vítimas recorreram à PSP ou GNR.
As mulheres indicaram consequências emocionais e psicológicas de sua experiência abusiva, particularmente tensão, sentimentos de impotência, depressão e dificuldades em dormir ou pesadelos. Além disso, avaliaram menos positivamente a sua qualidade de vida do que as mulheres que dizem não ter sido vítimas. Aliás, quanto mais severos foram os maus-tratos mais negativamente foi percepcionada a qualidade de vida. As consequências mais apontadas à saúde da vítima sugerem danos psicofisiológicos no presente ou a curto prazo. Os investigadores sublinham, por isso, que importa prosseguir a investigação sobre a dinâmica e a ?carreira? do abuso ao longo do ciclo de vida, com especial destaque para o que ocorre em idade avançada.
Mais
informações em: http://www.thl.fi/en_US/web/
(Pub. Nov/2010)