A investigadora Isabel Palmeirim descobriu pela primeira vez, em 1997, um Relógio Molecular Embrionário subjacente ao controlo temporal da formação dos precursores vertebrais. Mais recentemente, a sua equipa desvendou um mecanismo semelhante a operar durante o desenvolvimento dos membros superiores. Neste trabalho, que acaba de ser publicado na conhecida revista internacional PNAS - Proceedings of the National Academy (EUA), as investigadoras Tatiana Resende, Raquel Andrade e Isabel Palmeirim dão mais um passo importante na compreensão daquele relógio celular.
A coluna vertebral é formada durante o desenvolvimento embrionário a partir de estruturas precursoras chamadas sómitos. Estas formam-se progressivamente ao longo do corpo, de cima para baixo, sendo que os sómitos que dão origem às vértebras superiores se formam mais cedo do que os que darão origem às vértebras mais caudais. Assim, o controlo do tempo de formação de cada sómito é um aspecto fundamental para a formação de uma coluna vertebral saudável.
As três cientistas do Instituto de Investigação em Ciências da Vida e da Saúde (ICVS) da Escola de Ciências da Saúde da Universidade do Minho e do Laboratório Associado Instituto de Biotecnologia e Bioengenharia (IBB) do Centro de Biomedicina Molecular e Estrutural da Universidade do Algarve constataram que, ao isolar os tecidos embrionários pré-somíticos da molécula sinalizadora Sonic Hedgehog, produzida pelo gene Shh, aqueles apresentavam um grande atraso no tempo de formação dos sómitos. Este atraso era, no entanto, superado ao fim de nove horas, sendo que outra molécula de sinalização celular era responsável por esta recuperação temporal - o ácido retinóico. Assim, as investigadoras mostraram pela primeira vez que as células embrionárias utilizam a via de sinalização do Shh para controlar o tempo de formação dos sómitos e, ainda, que o ácido retinóico pode compensar situações em que esta molécula sinalizadora possa estar em falta, contribuindo para uma maior robustez do desenvolvimento embrionário da coluna vertebral.
Um relógio molecular semelhante ao embrionário foi também já identificado em células estaminais e em linhas celulares tumorais. As investigadoras acreditam que, se o conhecermos suficientemente e soubermos modular a sua actividade e/ou periodicidade, teremos ferramentas potencialmente cruciais para lidar com dois processos celulares que estão intimamente relacionados e são tão fundamentais, como a diferenciação de tecidos e a transformação oncogénica. Além disso, poder-se-á ainda vir a intervir no sentido de corrigir malformações graves da coluna vertebral, como sejam algumas displasias espondilocostais, muitas vezes associadas a mutações nos genes do relógio embrionário.
Anexos
Foto ? Equipa de investigação
Documento 1 ? Evidências do atraso na formação de sómitos na ausência de Shh.
Documento 2 ? Modelo explicativo das alterações moleculares causadas pela ausência de Shh ao longo do tempo.
Contactos
Escola de Ciências da Saúde da Universidade do Minho
Dra. Tatiana Resende ? 936254011, tatiana@ecsaude.uminho.pt
Doutora Raquel Andrade ? 934204022, rpandrade@ecsaude.uminho.pt
Centro de Biomedicina Molecular e Estrutural da Universidade do Algarve
Isabel Palmeirim ? 965032167, ipalmeirim@gmail.com
(Pub. Jun/2010)