Um estudo realizado por investigadores do Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde (ICVS), da Universidade do Minho, em colaboração com equipas de investigação de outros países como EUA, Itália e Noruega, foi recentemente publicado na revista Cancer Research.
O ensaio em questão, desenvolvido na área da Neoplasia, consistiu
na análise de cerca de 100 tumores e culminou na descoberta de um
novo biomarcador de prognóstico de glioblastoma, que poderá ser
usado na prática clínica. Esta descoberta constitui um avanço na
luta contra o tumor mais maligno e comum do cérebro.
De acordo com a explicação do Doutor Bruno Costa, investigador do
ICVS, que contribuiu para esta descoberta a par do Professor
Doutor Rui Reis, o termo Neoplasia refere-se a uma multiplicação
"anormal e desregulada de algumas células, que excede a
proliferação das células dos tecidos normais envolventes", o que
culmina normalmente na formação de um tumor, benigno ou maligno.
Assim, o glioblastoma é "uma das neoplasias humanas mais
agressiva", explica Rui Reis, acrescentando que, embora se trate
de um tipo de cancro raro, é "o tumor cerebral mais frequente e
maligno". Apesar de todo o avanço na área da oncologia, em
particular no que respeita à neurocirurgia, radioterapia e
quimioterapia, Rui Reis esclarece que "o prognóstico destes
doentes tem evoluído muito pouco nas últimas décadas".
Além de facultar informação sobre a sobrevivência dos pacientes,
após diagnosticado o cancro, o novo biomarcador de prognóstico de
glioblastoma significa um avanço na investigação sobre o cancro,
pois permite prever a resposta do tumor à terapia, podendo
evitar-se que os doentes sejam submetidos a regimes de
quimioterapia sem efeito.
O estudo em causa identificou um gene - Hoxa9 - que,
quando presente nas células cancerígenas do glioblastoma, sugere
um tumor mais agressivo e, consequentemente, mais resistente aos
tratamentos convencionais. O lado positivo desta descoberta,
explica Bruno Costa, é que se identificou "o mecanismo pelo qual
a expressão deste gene é regulada nestes tumores, abrindo a
possibilidade de, no futuro, se desenvolverem novos fármacos
capazes de inibir a sua expressão". O ponto que poderá ser menos
positivo é "o facto de que os nossos resultados deverão ser
validados em estudos independentes, antes de se prosseguir para
uma potencial aplicação clínica", acrescenta o investigador.
A equipa de investigação do ICVS tem desenvolvido estudos na área
da Neuro-Oncologia, tendo estabelecido parcerias com hospitais
nacionais e outros grupos de investigação nacionais e/ou
internacionais. O objectivo destes trabalhos, clarifica Rui Reis,
é "compreender os mecanismos genéticos e biológicos subjacentes
ao desenvolvimento destes tumores, de forma a tentar identificar
biomarcadores de risco, prognóstico e preditivos da resposta ao
tratamento destes doentes".
Os vários estudos publicados em revistas internacionais, têm
contribuído para a consolidação e reconhecimento da investigação
realizada na UM. "Parece-me contribuir para uma maior
credibilidade da investigação desenvolvida na UMinho. Os nossos
resultados foram considerados meritórios e relevantes para a
comunidade científica internacional", acrescenta Bruno Costa.
Texto: Francisca Fidalgo
(Pub. Mar/2010)