jantar-sensorial--2-
Academia, 06.11.2009
“Jantar Multissensorial” onde a visão não entrou
UMinho
De olhos vendados, os participantes do "Jantar Multissensorial", organizado pelo Departamento Alimentar dos SASUM em cooperação com o Gabinete de Apoio ao Estudante com Deficiência (GAED), foram desafiados a distinguir sabores, objectos, reconhecer cheiros e superar dificuldades como, conseguir pegar num copo, levar um garfo à boca ou distinguir vinho tinto de branco.

O "Jantar Multissensorial" foi uma experiência alimentar inédita na UMinho que explorou todos os canais sensoriais excepto a visão.
A ideia desta acção surgiu da parte do GAED na pessoa da Dr.ª Sandra Rodrigues, invisual, Sandra refere que "ser cego nunca é fácil, exige adaptação a várias situações que estão pensadas para serem feitas com a visão (...) falta algum trabalho de inclusão". Na UMinho, o GAED onde trabalha, "promove o acesso dos nossos estudantes com deficiências visuais a materiais de estudo e a tecnologias que lhes permita possuir condições de sucesso académico".
Decorrido no passado dia 6 de Novembro no Restaurante Panorâmico da UMinho, o evento teve como objectivo, segundo uma das responsáveis do DA, Lídia Parente "a sensibilização para a exploração dos sentidos (olfacto, do tacto e do paladar) excepto a visão, como forma de perceber o seu valor, para além dos participantes poderem percepcionar a realidade de uma pessoa invisual". As dificuldades de uma pessoa com deficiência visual são muitas no dia-a-dia e durante as refeições elas são também claras, sendo outro dos objectivos "perceber as dificuldades de uma pessoa com deficiência visual numa refeição, bem como as estratégias de as ultrapassar". O evento foi sobretudo uma oportunidade para aqueles que têm visão perceberem como muitas vezes se esquecem de potenciar todos os seus outros sentidos, pelo que, e para uma maior vivencia da realidade invisual os participantes utilizaram uma venda nos olhos, tendo o auxílio de um guia, que garantiu a mobilidade e a orientação de todos.
A ideia e segundo a sua obreira "não foi uma iniciativa de todo inovadora (...) pensei que seria interessante voltar a pegar nesta ideia e torná-la mais desmistificadora, ao mesmo tempo informativa e divertida". Apesar da seriedade do tema, o ambiente foi de total descontracção e divertimento. Desmistificou-se um pouco a dificuldade permanente em que vivem os cegos, tendo-se alcançado uma compreensão acerca da qualidade de vida que é possível ter, sendo que esta depende também do espírito e da forma de encarar a vida da parte de cada um.
Presentes estiveram cerca de 30 pessoas, dos 16 participantes ninguém era invisual, pois segundo Lídia Parente "o objectivo era precisamente ter a experiência da cegueira para melhor perceber e poder ajudar os invisuais."
A curiosidade, a vontade de aprendizagem do "outro mundo", o experienciar o mundo dos invisuais e a descoberta do potencial dos nossos sentidos aquando da inibição de um deles (visão) foi o principal motivo que levou as pessoas a aderir ao evento. Segundo uma das participantes, Lurdes Conceição "foi uma experiencia muito enriquecedora, é como caminhar no vazio (...) deu para ter uma percepção da realidade dos invisuais e aprender algumas técnicas por eles utilizadas".
Para Sandra Rodrigues a iniciativa não podia ter corrido melhor, "estavam todos extremamente empenhados em descobrir esta experiência e foi com entusiasmo que enfrentaram o desafio".
O evento englobou para além de conversas sobre o tema, provas com os olhos vendados, tais como distinguir uma lata de cerveja de uma lata de sumo, uma garrafa de vinho branco de uma garrafa de vinho tinto ou uma lata de atum de uma lata de sardinha em conserva, etc. Sendo ainda abrilhantado com uma reflexão (feita pela Dr.ª Sandra Rodrigues) e música.
Uma das conclusões que se puderam retirar é que "a visão é um sentido muito redutor que nos faz esquecer os outros sentidos".
No final já se perguntava "para quando uma 2º edição?" e segundo a Directora do DA, Celeste Pereira "este tipo de eventos será certamente para repetir. Todas as iniciativas que envolvam temas tão interessantes, social e culturalmente como este, o DA estará sempre disponível".
Para qualquer esclarecimento adicional, por favor contactar:
Ana Marques
tel.: 253604122;
(Pub. Nov/2009)
Arquivo de 2009