No âmbito da distinção com Doutoramento Honóris Causa da Professora Madalena Alves, docente do departamento de Engenharia Biológica da Universidade do Minho (UM), o UMDicas procurou saber mais sobre a sua carreira e interesses.
Licenciada em Engenharia Química pela Universidade do Porto, em
1987, iniciou a sua carreira como docente na Universidade do
Minho, em 1988. Retomou os estudos no Instituto Superior Técnico
de Lisboa, onde realizou o mestrado, e mais tarde doutorou-se na
UM. Vários são os prémios que preenchem o currículo da Engenheira
Química, e esta recente distinção apanhou-a "totalmente de
surpresa", revela.
Curiosamente, Madalena Alves começa por confessar que a sua
escolha pela Engenharia Química "não foi muito consciente".
Apesar do seu gosto pela Química e Matemática, muitas foram as
dúvidas que a assaltaram quando terminou o ensino secundário, e
esteve a ponto de desistir já depois de iniciar a licenciatura,
contudo acabou por "resistir e prosseguir com o curso".
Com uma base de Engenharia Química, foi na área dos processos
bioquímicos que desenvolveu os seus projectos de mestrado e
doutoramento. A Professora considera que os "processos puramente
químicos" estão a cair em desuso, assim, no seu entender, "a Eng.
Biológica é o futuro da Eng. Química". Explica que com a
diminuição das quantidades de petróleo, a indústria química de
exploração e transformação dos seus derivados está em queda, a
alternativa passa pela "produção de produtos de maior valor
acrescentado, como por exemplo, biocombustiveis, gasosos ou
líquidos", e é nesta área que desenvolve as suas actuais
pesquisas.
Sobre a relação entre o ensino e a investigação, Madalena Alves
entende que, apesar de sempre interligadas, as áreas devem ser
separadas. A professora defende que os alunos devem estar bem
informados e não devem ser influenciados para que não percam a
capacidade de discernimento. Devem encontrar por si a área de
estudo que lhes interessa e não se sentirem pressionados pelos
temas de eleição de um ou outro professor. "O pior que pode
acontecer é o aluno não ter oportunidade de avaliar todos os
trabalhos ou todas as possibilidades que tem em termos de
investigação", acrescenta.

Contando com vários prémios no currículo, atribui especial
importância ao primeiro, Lettinga Award,
prestigiado
prémio internacional que reconheceu o seu trabalho em 2004. Este
é um prémio financiado por três empresas líderes do mercado na
sua área de investigação, o que significa, nas palavras da
investigadora, "o reconhecimento por parte dessas empresas de que
haveria aqui algo de importante e que tinha futuro". Sobre a
sucessiva atribuição de galardões, afirma com modéstia que é o
"efeito bola de neve" porque "quando há que escolher, o mais
fácil é escolher aqueles que já ganharam alguma coisa, porque de
facto devem ser importantes".
Nem sempre os estudos efectuados têm utilidade prática e Madalena
Alves ressalva a importância da TecMinho que ajuda os
investigadores a concretizar os seus projectos. No entanto, no
seu caso surgiu a oportunidade de criar uma empresa na área do
ambiente, ligada ao grupo MonteAdriano e também à Universidade do
Minho. Esta transporta para o mercado os projectos e estudos
desenvolvidos no grupo de trabalho. Esta concretização é, para a
investigadora, "o que dá um gosto especial à investigação (?) e
uma satisfação pessoal enorme".
Quando questionada sobre a sensação de dever cumprido após a
distinção com Doutoramento Honóris Causa, a resposta é: "Não
tenho! Eu pelo menos acho que está sempre tudo por fazer, temos
que ir à procura de novos desafios e sonhar um bocadinho". E
sobre sonhos e desafios, a docente tem uma perspectiva muito
própria, "há muitos desafios na minha cabeça que eu gostava de
perseguir", afirma. Madalena Alves gostaria de realizar um bom
trabalho em África, por intermédio da empresa criada. A
investigadora ressalva a importância que teriam alguns dos seus
projectos numa sociedade "muito subdesenvolvida a nível
ambiental". Um outro desafio a que se propõe é, trazer para a
UMinho, investigadores de renome internacional e "criar um centro
de investigação avançado e desenvolver projectos em colaboração
com outros melhores".
Sobre a distinção, além de ter sido uma surpresa, reforça a ideia
de que "esta é um mecanismo que a Universidade de Lasi (Roménia)
tem de criar laços com grupos e investigadores com quem querem
colaborar no futuro".
O trabalho de Madalena Alves tem sido um meio de promoção da
investigação da UMinho. Sobre este assunto a homenageada acredita
que "há grupos (na UM) que se estão a fazer notar e com imenso
prestigio" e "além do imenso potencial há uma grande excelência a
nível de investigação".
Embora esta distinção com Doutoramento Honóris Causa seja um
reconhecimento por todo o trabalho desenvolvido pela docente,
fica a ideia de que este é apenas o início de um longo caminho a
percorrer na área da investigação, não só na UMinho, mas também
em Portugal.
Texto e Fotografia: Francisca Fidalgo
(Pub. Out./2009)