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Academia, 19.10.2009
“Temos que ir à procura de novos desafios e sonhar um bocadinho!”
UMinho
No âmbito da distinção com Doutoramento Honóris Causa da Professora Madalena Alves, docente do departamento de Engenharia Biológica da Universidade do Minho (UM), o UMDicas procurou saber mais sobre a sua carreira e interesses.
Licenciada em Engenharia Química pela Universidade do Porto, em 1987, iniciou a sua carreira como docente na Universidade do Minho, em 1988. Retomou os estudos no Instituto Superior Técnico de Lisboa, onde realizou o mestrado, e mais tarde doutorou-se na UM. Vários são os prémios que preenchem o currículo da Engenheira Química, e esta recente distinção apanhou-a "totalmente de surpresa", revela.
Curiosamente, Madalena Alves começa por confessar que a sua escolha pela Engenharia Química "não foi muito consciente". Apesar do seu gosto pela Química e Matemática, muitas foram as dúvidas que a assaltaram quando terminou o ensino secundário, e esteve a ponto de desistir já depois de iniciar a licenciatura, contudo acabou por "resistir e prosseguir com o curso".
Com uma base de Engenharia Química, foi na área dos processos bioquímicos que desenvolveu os seus projectos de mestrado e doutoramento. A Professora considera que os "processos puramente químicos" estão a cair em desuso, assim, no seu entender, "a Eng. Biológica é o futuro da Eng. Química". Explica que com a diminuição das quantidades de petróleo, a indústria química de exploração e transformação dos seus derivados está em queda, a alternativa passa pela "produção de produtos de maior valor acrescentado, como por exemplo, biocombustiveis, gasosos ou líquidos", e é nesta área que desenvolve as suas actuais pesquisas.
Sobre a relação entre o ensino e a investigação, Madalena Alves entende que, apesar de sempre interligadas, as áreas devem ser separadas. A professora defende que os alunos devem estar bem informados e não devem ser influenciados para que não percam a capacidade de discernimento. Devem encontrar por si a área de estudo que lhes interessa e não se sentirem pressionados pelos temas de eleição de um ou outro professor. "O pior que pode acontecer é o aluno não ter oportunidade de avaliar todos os trabalhos ou todas as possibilidades que tem em termos de investigação", acrescenta.
Contando com vários prémios no currículo, atribui especial importância ao primeiro, Lettinga Award, prestigiado prémio internacional que reconheceu o seu trabalho em 2004. Este é um prémio financiado por três empresas líderes do mercado na sua área de investigação, o que significa, nas palavras da investigadora, "o reconhecimento por parte dessas empresas de que haveria aqui algo de importante e que tinha futuro". Sobre a sucessiva atribuição de galardões, afirma com modéstia que é o "efeito bola de neve" porque "quando há que escolher, o mais fácil é escolher aqueles que já ganharam alguma coisa, porque de facto devem ser importantes".  
Nem sempre os estudos efectuados têm utilidade prática e Madalena Alves ressalva a importância da TecMinho que ajuda os investigadores a concretizar os seus projectos. No entanto, no seu caso surgiu a oportunidade de criar uma empresa na área do ambiente, ligada ao grupo MonteAdriano e também à Universidade do Minho. Esta transporta para o mercado os projectos e estudos desenvolvidos no grupo de trabalho. Esta concretização é, para a investigadora, "o que dá um gosto especial à investigação (?) e uma satisfação pessoal enorme".
Quando questionada sobre a sensação de dever cumprido após a distinção com Doutoramento Honóris Causa, a resposta é: "Não tenho! Eu pelo menos acho que está sempre tudo por fazer, temos que ir à procura de novos desafios e sonhar um bocadinho". E sobre sonhos e desafios, a docente tem uma perspectiva muito própria, "há muitos desafios na minha cabeça que eu gostava de perseguir", afirma. Madalena Alves gostaria de realizar um bom trabalho em África, por intermédio da empresa criada. A investigadora ressalva a importância que teriam alguns dos seus projectos numa sociedade "muito subdesenvolvida a nível ambiental". Um outro desafio a que se propõe é, trazer para a UMinho, investigadores de renome internacional e "criar um centro de investigação avançado e desenvolver projectos em colaboração com outros melhores".
Sobre a distinção, além de ter sido uma surpresa, reforça a ideia de que "esta é um mecanismo que a Universidade de Lasi (Roménia) tem de criar laços com grupos e investigadores com quem querem colaborar no futuro".
O trabalho de Madalena Alves tem sido um meio de promoção da investigação da UMinho. Sobre este assunto a homenageada acredita que "há grupos (na UM) que se estão a fazer notar e com imenso prestigio" e "além do imenso potencial há uma grande excelência a nível de investigação".
Embora esta distinção com Doutoramento Honóris Causa seja um reconhecimento por todo o trabalho desenvolvido pela docente, fica a ideia de que este é apenas o início de um longo caminho a percorrer na área da investigação, não só na UMinho, mas também em Portugal.
Texto e Fotografia: Francisca Fidalgo

(Pub. Out./2009)

Arquivo de 2009