A Revista Science publicou no dia 3 de Setembro, um trabalho
de investigação realizado numa parceria entre o Instituto de
Investigação em Ciências da Vida e da Saúde (ICVS) da UMinho, em
Portugal, e o Netherlands Cancer Institute, na Holanda. Este
trabalho mostra que o sistema imunitário é extremamente eficaz na
sua capacidade de recrutar as células que reconhecem um determinado
vírus ou bactéria durante as fases inicias de uma infecção. Esta
descoberta baseou-se no estabelecimento de uma nova tecnologia que
funciona como um ?teste de paternidade? para estas células do
sistema imunitário, os linfócitos T.
Os linfócitos T são um tipo de células do sistema imunitário
essenciais na defesa contra infecções. Num indivíduo que ainda não
tenha sido exposto a um determinado vírus ou bactéria, o número de
linfócitos T capazes de reconhecer especificamente esse vírus é
muitíssimo baixo. Depois da infecção, essas poucas células são
activadas (um processo conhecido como selecção clonal) e dividem-se
várias vezes para gerarem milhares, ou mesmo milhões, de linfócitos
T capazes de combater a infecção (um processo conhecido por
expansão clonal).
Estes processos de selecção e expansão clonal dos linfócitos T são
essenciais para o estabelecimento de uma resposta imunitária
eficaz. No entanto, até à data não se sabia até que ponto a força
da resposta dos linfócitos T a uma certa infecção era determinada
pela eficiência da selecção clonal ou pela extensão da expansão
clonal subsquente. Ou seja, quando uma infecção viral provocava uma
resposta imunitária mais forte do que outra, não se sabia se isso
acontecia por haver mais linfócitos específicos para este vírus que
eram inicialmente activados, ou porque cada linfócito T activado
dava origem a mais células filhas.
Os resultados obtidos com este trabalho mostram que, em caso de
infecção, o sistema imunitário é extremamente eficaz na
identificação e activação dos poucos linfócitos T que são capazes
de reconhecer um determinado microganismo antes da infecção
(calcula-se que apenas 1 em cada 100.000 linfócitos T é capaz de
reconhecer um determinado vírus antes da expansão em resposta à
infecção). Assim sendo, sugere-se que os estudos que procuram uma
resposta eficaz por vacinação se devem centrar na capacidade de
expansão dos linfócitos T específicos para o microrganismo em
questão.
Por outro lado, o grupo responsável por esta investigação
desenvolveu (inspirado na possibilidade de determinar a paternidade
em humanos pela análise de características do material genético dos
indivíduos) uma técnica de marcação de células com um ?código de
barras? que funciona, após divisão destas, como ?teste de
paternidade?, que será seguramente muitíssimo útil para estudos em
diferentes áreas de investigação.
O ?teste de paternidade? para linfócitos T é baseado na introdução
de marcadores do material genético em linfócitos T (como se fossem
?códigos de barras?), antes de estarem em contacto com o vírus
(linfócitos T ?naives?). Com este sistema, cada célula recebe um
código diferente, que transmite a todas as células filhas.
Comparando mais tarde os códigos genéticos presentes nas células
que estabeleceram uma resposta imunitária eficaz contra um
microrganismo, é possível saber que células originais deram origem
a este conjunto de células, já que todas as filhas de uma mesma
célula original transportam o mesmo código no seu material
genético.
O uso desta técnica de marcação de linfócitos permitiu determinar
que é o nível de divisão dos linfócitos iniciais que determina se a
resposta a uma determinada infecção é forte ou fraca, e que a
activação do sistema imunitário é extremamente eficaz.
Demonstrou-se ainda que isto se deve ao facto de, mesmo com
infecções moderadas, a grande maioria dos linfócitos T presentes no
organismo, capazes de reconhecer esse microrganismo, é chamada a
participar activamente na resposta imunitária contra este agente
agressor.
O estudo analisou a resposta imunitária a agentes diferentes, com
doses diferentes e vias de infecção distintas. Em todos os casos se
observou que o número de linfócitos T iniciais chamados a
participar na resposta imunitária é aproximadamente
constante.
O artigo publicado na revista Science intitula-se ?Recruitment of
Antigen-Specific CD8+ T Cells in Response to Infection is Markedly
Efficient?
Para mais informações
Instituto de Investigação em Ciências de Vida e Saúde,
Escola de Ciências da Saúde da Universidade do Minho
Prof. Doutora Margarida Correia-Neves
Telef.: 253 604 807; 253 604 834
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