Realiza-se no dia 31 de Outubro, pelas 17 horas, a conferência Violência doméstica contra crianças e adolescentes: vulnerabilidade, proferida pela Profª. Doutora Marta Angélica Lossi Silva, da Universidade de São Paulo.
Violência doméstica contra crianças e
adolescentes
Todos os anos, milhares de crianças e adolescentes, tanto no
âmbito intrafamiliar como no quotidiano institucional ou ainda
social, têm sido vítimas de violência e discriminação, sendo os
seus direitos e cidadania cruelmente desrespeitados. Evidenciamos
assim, com grande frequência e gravidade, a presença da violência
nos diferentes espaços da sociedade. Falar da violência doméstica
contra a criança e contra o adolescente tem sido ao longo da
trajectória da humanidade algo árduo e denso na medida que impõe
apontar contradições e expectativas pouco satisfatórias para o
futuro, crescimento e desenvolvimento desta população. Implica
ainda abordar os conflitos familiares, núcleo até então tido como
um local de proteção.
A compreensão deste fenómeno representa uma realidade que, cada
vez mais, exige um posicionamento dos profissionais que actuam
com estes sujeitos. Esta compreensão ainda coloca em pauta a
necessidade de nos apropriarmos de um referencial
teórico-analítico, capaz de permitir a compreensão desse fenómeno
na especificidade que ele tem hoje, levando-se em consideração
sua complexidade, as suas diferentes formas de manifestação e
finalmente o reconhecimento da articulação existente entre a
violência e os aspectos sociais, políticos e culturais de
uma determinada sociedade.
Ainda prevalece uma permissividade social ao redor da violência
contra crianças e adolescentes. Esta realidade chama-nos a um
reordenamento para a construção de uma efectiva proposta de
atenção integral à criança e ao adolescente como sujeitos de
direitos.
A participação de toda a sociedade neste desafio é a mudança
substancial que se apresenta. A actuação frente à violência deixa
de estar nas mãos apenas dos serviços de segurança pública,
judiciário e assistência social, para se integrar entre os
diferentes segmentos da sociedade civil e sectores
governamentais, a exemplo da saúde e educação.
O papel dos diferentes sectores, na atenção e na prevenção contra
a violência resulta de sua responsabilidade com o público e na
urgência em adoptar uma postura pro-activa de cooperação e
integração, que seja capaz de gerar uma consciência colectiva e
um compromisso frente aos problemas de desigualdade, exclusão e
discriminação aos quais muitas crianças e adolescentes estão
submetidos, evitando que a violência doméstica se perpetue de
geração em geração e promovendo alternativas de organização
social e familiar.
Sabemos que todo este processo não ocorre de maneira homogénea,
existem avanços e retrocessos, êxitos e obstáculos, requerendo um
exercício de perseverança e compromisso social para que as
vítimas e suas famílias sejam na realidade os protagonistas deste
caminhar.