Defeito na síntese de óxido nítrico pode ser a causa do tipo mais comum de doença degenerativa juvenil fatal.
Estudo publicado por investigadores portugueses sugere que a
síntese defeituosa de óxido nítrico pode ter um papel central na
patogénese do tipo mais comum de doença degenerativa juvenil
fatal, a Batten. Esta descoberta permite uma melhor compreensão
da doença de Batten e pode abrir portas para o desenvolvimento de
novas formas de tratamento.
A doença de Batten é a forma mais comum de
Ceroido-lipofuscinose neuronal e está associada a mutações num
gene denominado CLN3. Os sintomas desta doença aparecem
normalmente entre os 5 e os 10 anos de idade e podem incluir
convulsões, cegueira, anomalias motoras, microcefalia, regressão
neurológica e demência, tendo um resultado normalmente fatal no
final da adolescência.
Os investigadores utilizaram modelos celulares simples da
levedura Saccharomyces cerevisiae para fazer um estudo
especificamente orientado para detectar o impacto em importantes
mecanismos celulares da perda da função de Cln3, a proteína que
se encontra alterada nos doentes.
Esta abordagem permitiu identificar que a disfunção de Cln3
resulta em níveis anormalmente baixos de óxido nítrico no
interior da célula causados por um defeito no transporte e
armazenamento do aminoácido arginina. Foi também demonstrado que
por esta razão as células apresentam alterações nos mecanismos de
resposta a agressões oxidativas externas e nos processos de
indução de morte celular programada. Adicionalmente, os
investigadores encontraram também uma correlação entre a
alteração nos níveis de síntese de óxido nítrico e a severidade
da doença, constituindo uma importante validação deste modelo de
estudo e sugerindo que o defeito na síntese de óxido nítrico pode
ter um papel importante no mecanismo patológico da Batten.
Esta investigação é o resultado de uma colaboração activa entre
investigadores do ICVS em Braga, do Centro de Neurociências de
Coimbra e do University of Rochester Medical Center em Nova
Iorque, e constitui um importante passo para elucidar ao nível
celular como é que mutações em Cln3 podem conduzir à
Batten.
Nuno S. Osório, estudante de doutoramento do ICVS, é
o primeiro autor do trabalho coordenado por Fernando
Rodrigues (PhD) professor da Escola de Ciências da Saúde da
Universidade do Minho e investigador do ICVS.
Devido ao reconhecimento da importância deste trabalho de
investigação esta equipa tem já financiado pela Fundação para a
Ciência e Tecnologia um projecto de três anos no qual irão
prosseguir estudos utilizando modelos animais geneticamente
manipulados e linhas celulares derivadas de pacientes humanos.