Esperava-se mais das bandas que passaram no "Gatódromo". É caso para dizer que no palco da "Quinta dos Peões" passaram alguns grupos que acabaram por defraudar os críticos. Também não se pode ir tão longe para afirmar que a "montanha pariu um rato", mas antes, um animal de dimensões um pouco maiores, um gato.
Mesmo assim "
Squeeze Theeze Pleeze", "Wraygunn" e "Green
Machine" foram, na opinião da redacção do «UMdicas» as melhores
bandas que estiveram no palco do "Gatódromo". Os Squeeze fizeram o
"Pleeze" favor, ao Pedro Abrunhosa, de aquecer o público. Já os
Wraygunn, através da irreverência do vocalista Paulo Furtado,
trouxeram sonoridades de puro "Rock" e os "Green Machine"
sublinharam aquilo que podem vir a ser, uma grande banda prestes a
revelar-se. As restantes bandas estiveram longe de grandes
concertos. Pedro Abrunhosa provou, mais uma vez, que é o político
dos músicos e não é o mesmo quando toca ao vivo. "The Rasmus?, de
quem se esperava um mais, estiveram muito "pro". Melo D. travou
uma luta constante para conquistar o público, bem ao contrário de
Boss AC. O "Mandachuva" não precisou de se esforçar muito face à
popularidade que goza no Minho.
Os "Fonzie" tiveram uma noite para esquecer. Problemas
técnicos e quinze minutos à deriva, com direito a silêncio, só
podiam ter acabado no pior concerto do "Enterro". Os "Blasted"
tiveram ao seu nível e não defraudaram os fãs, mas, mesmo assim o
factor surpresa derivado da imagem e sons já não resulta. Por sua
vez os "Xutos" resolveram dar um concerto mais intimista, palco
encurtado, e levaram ao rubro, como é tradição, milhares de
estudantes. Foi na noite de "Xutos" que os "Sinai" deram "Sinai"
de vida após terem vencido o UMplugged, um pouco nervosos mas com
um vocalista a tentar ganhar espaço em palco.
Para terminar, Jaimão e Quim. O primeiro sem comentários e o
segundo pode-se dizer que é "catedrático" na arte de animar
semanas académicas. Fica aqui o dia-a-dia balanceado por Vasco
Enes.
Nuno Cerqueira
Dia 13, Sábado
- Squeeze Theeze Pleeze -
Apesar, da relativa, pouca experiência em grandes palcos
ao ar livre, os "Squeeze Theeze Pleeze" preencheram bem o espaço.
Contagiando os presentes com a sua música.
UMd ? O que acharam do concerto?
S.T.P. ? Correu muito bem. A reacção do público foi muito boa,
manifestaram interesse. A reacção nas queimas é muito boa.
UMd ? Ar livre ou espaço fechado?
S.T.P. ? A abordagem às duas situações é diferente, o alinhamento
é diferente. Num espaço fechado o público está mais atento o que
provoca uma atmosfera mais intimidativa. Preferimos palcos
grandes, desde que existam boas condições.
- Pedro Abrunhosa -
O Gatodromo quase encheu para «ouver»
Pedro
Abrunhosa. O concerto foi repleto de interactividade, com um
Abrunhosa muito político como é costume. O alinhamento percorreu
todos os discos do músico, dando assim ao público a hipótese de
avaliar a evolução deste sempre polémico músico
tripeiro.
Dia 14, Domingo
- Fonzie -
Era exactamente meia-noite quando os "Fonzie" subiram ao
palco para dar um concerto que desiludiu. Os primeiros quatro
temas foram contagiados por problemas técnicos, aos quais sucedeu
um interregno de quinze minutos para que estes fossem resolvidos.
Neste tempo morto a banda foi muito pouco comunicativa, chegou a
ouvir-se um silêncio absoluto, mostraram-se muito pouco capaz de
manter o público interessado. Para cúmulo, até se pode
compreender que uma banda deste espectro musical desafine um
pouco, agora tanto como os "Fonzie", não.
UMd? Que tal o concerto?
F. ? O início não correu muito bem devido a problemas técnicos,
mas o público deu-nos força para continuar.
UMd ? Vão estar nos festivais de Verão?
F. ? Não sabemos se vamos tocar nalgum festival para além do Rock
in Rio. No entanto, devido à demanda do público, decidimos
dedicar este ano a Portugal.
UMd ? Qual é o segredo da vossa
internacionalização?
F. ? É não ter barreiras. Nunca se deixar levar abaixo por rádios
e editoras. Ser persistente.
- The Rasmus -
Foi uma noite razoável para os "Rasmus", a casa estava
bem composta mas o entusiasmo do público ficou aquém das
expectativas. Lauri, o vocalista, foi profissional e não
desiludiu, incorporando sobriamente as personagens que canta. O
concerto foi cheio de dinamismo, com um lineup
bem
estruturado, onde o hino da banda "In The Shadows" foi o
encore
que finalizou com chave de ouro o espectáculo.
Enfim, são uma máquina bem afinada estes Rasmus.
UMd. ? Como foi o concerto?
Lauri ? Foi bom, apesar da hora estava muita gente. Foram bons
espectadores. Sabes, não estamos muito habituados a estes
horários. Há aulas amanhã?
UMd ? Como vêm a cena musical no vosso pais, o Metal é
muito preponderante?
L. ? Não somos uma banda de Metal, mas claro que a cena musical
do nosso país influencia-nos, como tal, sempre na perspectiva de
melhorar, deixamo-nos influenciar por algumas bandas de
metal
entre outras.
UMd ? Não achaste que estava pouca gente a assistir ao
concerto?
L. ? Estamos num festival e como tal não estão aqui só os nossos
fãs, temos que respeitar isso, um festival é sempre diferente de
um espectáculo exclusivamente nosso.
UMd ? Para quando um regresso a Portugal?
L. ? Não temos nada previsto. Vamos estar brevemente num festival
perto de Madrid.
UMd ? Vocês estiveram nos prémios da MTV em Lisboa
acharam normal nenhuma banda portuguesa ter actuado?
L. ? Não, não achei normal. Penso que era justo uma banda local
ter actuado. Este meio por vezes é extremamente injusto!
Dia 15, Segunda
- Wraygunn -
Boa prestação dos "Wraygunn", Paulo Furtado, como é
hábito, foi bastante interactivo com o público e incentivou
continuamente a participação deste no espectáculo. Furtado,
Raquel Ralha e companhia transportaram para um grande palco a
actuação intimista que já os vi dar em espaços fechados e mais
pequenos, o que conseguiram na íntegra.
UMd ? Gostaram do concerto?
P. Furtado ? Gostei muito, achei o público extremamente reactivo.
UMd ? Vocês (Raquel Ralha e Paulo Furtado) estão
envolvidos em vários projectos, conseguem não gerar conflitos
entre eles?
P. F. ? A minha prioridade é os "Wraygunn".
R. R. ? O facto de estar envolvida noutros projectos traduz-se
num acréscimo de valor a todos esses projectos e simultaneamente
penso que nos faz evoluir como músicos.
UMd ? Como é o vosso processo criativo?
P. F. ? Os arranjos são da responsabilidade do colectivo. Existe,
como é evidente, uma boa dose de improvisação nos concertos.
UMd ? Qual é a importância dos media na música
portuguesa?
P. F. ? Há uns que são importantes. Há outros que não.
UMd ? A MTV é o quê?
P.F. ? - O que interessa a MTV!!? Tem mais importância as pessoas
que assistem aos nossos concertos. Contudo, alguma comunicação
social é sem dúvida muito válida. Sou fã de música, gosto de
ouvir boa música, guio-me por isso. Há pessoas que gostam de
dinheiro!
- Blasted Mechanism -
Foi sem duvida um dos mais concorridos e explosivos
concertos deste enterro. Karkov e Valdjiu são os pilotos deste
mecanismo bem afinado que entra velozmente no ouvido, provoca
arrepios com as sonoridades tribais e emoções desgovernadas nos
temas mais Rock
. O concerto decorreu como era esperado e
para encanto de um recinto bem composto os Blasted executaram um
alinhamento muito bem estruturado que levou a audiência ao
rubro.
UMd ? O concerto preencheu as vossas expectativas, correu
bem?
Valdjiu ? É impressionante, os concertos não correm. Nós estamos
sempre à frente do tempo. Foi bom.
UMd ? Como surgem as vossas personagens?
Valdjiu ? Baseamo-nos na luz, na verdade e na intuição.
UMd ? ?Avatara? é o vosso disco mais vendido,
consideram-no o vosso melhor trabalho?
Valdjiu ? Não, o melhor trabalho é sempre o próximo. Neste
momento estamos em estúdio a preparar o novo disco, que vai sair
em Março de 2007 acompanhado de uma transformação de imagem da
banda.
Dia 16, Terça-feira
- Melo D. -
É verdade que os espectadores atraídos pela sua música,
no início do concerto, não abundavam. De todos os modos é devido
algum reconhecimento a Melo D pela luta que travou para
conquistar o público e pelo constante esforço que empregou para
comunicar com este.
UMd ? Gostaste do concerto?
Melo D ? Sim e não. Não gostei porque o baterista habitual não
pode vir, como tal musicalmente não correu muito bem, não há
milagres. Mas diverti-me muito.
UMd ? Parece "sentires" África de uma forma muito
especial, até que ponto isto é visível na tua música?
M. ? África está muito presente na minha música, eu faço questão
que isso aconteça. Tem a ver com Angola, com Cabo Verde, são as
minhas origens.
UMd ? Para quando um próximo trabalho?
M. ? Em princípio sai no primeiro trimestre de dois mil e sete,
vai-se chamar ?Estranha forma de vida? e penso que é um disco
mais complexo que os anteriores, mais interessante, vai buscar um
pouco da filosofia do Fado.
- Boss AC -
Enchente no Gatódromo para receber o hip hop
do
"Mandachuva", que tecnicamente deu um bom concerto. Foi notória a
popularidade que o músico tem junto dos estudantes minhotos.
Curiosamente ou não, os entusiastas deste género musical não
abundavam na plateia.
UMd. ? Que sensações retiras do concerto desta
noite?
Boss AC ? Não dá para descrever a sensação que é sentir milhares
de pessoas a cantar a nossa música. Senti que hoje as coisas
correram mesmo bem, correram de feição.
UMd ? As telenovelas ajudam a tua música de alguma
forma?
B. ? O facto de existir produção de ficção televisiva portuguesa
é benéfico para a música nacional.
UMd ? O que achas da recorrência à critica pessoal no
hip hop
?
B. ? O hip hop
não é isso, não precisa disso. Eu não o
faço, é feio.
UMd ? É verdade que vais lançar um DVD?
B. ? Sim, será baseado no concerto do Coliseu de Lisboa.
Dia 17, Quarta
- Jaimão -
(Sem comentários)
- Quim Barreiros ?
Casa a abarrotar para Quim Barreiros, um dos cantores de
música popular mais conhecidos em Portugal. A carreira deste
artista da música popular começou há 30 anos. Cedo se apercebeu
de que só a tocar gaita não conseguia ganhar dinheiro, por isso,
substituiu a gaita pelo acordeão, juntou uma letras com sabor
picante e até hoje nunca mais parou.
UMd ? Há quanto tempo anda nesta vida de
artista?
Quim Barreiros (Q. B.) - Profissionalmente, há mais de 30 anos
que ando nisto.
UMd - Sempre cantou este género de música?
Q. B. - Não. Comecei só por tocar música popular e depois, já em
grandinho, é que cheguei à conclusão que só com a gaita não
ganhava dinheiro, tinha que cantar (risos).
UMd - Como é que define o público que ouve as suas
músicas e compra os seus trabalhos?
Q. B. - É a nossa gente. É o povo português que gosta da minha
música. A música não é minha é deles, eu sou apenas um
intérprete.
UMd - Onde gosta mais de actuar?
Q. B. - Gosto de actuar em qualquer lado onde esteja em cima de
tábuas e com o público à minha frente. Gosto de sentir que a
malta está a gostar, está a cantar e a divertir-se comigo. É para
aquilo que eu estou ali.
UMd - Define a sua personalidade como maliciosa?
Q. B. - Eu acho que sim. Por isso sou homem.
UMd - Qual é o maior vício do Quim Barreiros?
Q. B. - Eu acho que não tenho. Mas, neste momento, o meu maior
vício talvez seja gostar de mulheres (risos).
Dia 18, Quinta
- Sinai -
Foi a banda que abriu o palco na última noite do enterro
da gata. O grupo de V. N. de Gaia conseguiu cativar com o seu
rock fluido cerca de seiscentos entusiastas.
UMd. ? Que tal o concerto?
Sinai ? Foi bom, havia bom feeling.
Quanta mais gente
houver a curtir Rock, melhor. Não estávamos para tocar em nenhum
festival, mas o "UMplugged" veio permitir que aqui viéssemos.
Este género de evento abre algumas portas.
UMd ? Porquê uma versão do Zeca Afonso?
S. ? Escolhemos o Zeca porque é uma marca, uma referência da
palavra em Portugal. Gostávamos, no entanto de dizer que somos,
na medida do possível, o mais apolíticos possível.
UMd.? Para quando um registo?
S. ? Vamos lançar um single
em Julho, vai ser o "1, 2, 3
Revolução".
- Green Machine -
Nascem das cinzas de uma Barcelos algo apagada em termos
musicais nos últimos tempos. Foram a banda revelação deste
Enterro da Gata. Com uma performance arrojada e a rebentar de
energia conquistaram o público, que já enchia por completo o
recinto, com o seu garage rock
muito bem
elaborado.
UMd ? Antes de mais, qual é a vossa origem?
Green Machine ? Madeira, Barcelos, a grande parte de nós vem de
Barcelos. Somos provenientes de muitas bandas de Barcelos.
UMd ? O que acharam do concerto?
G. M. ? Foi bom. Correu como estávamos à espera, tecnicamente foi
bom.
UMd ? O que se tem de fazer para ouvir a vossa
música?
G. M. ? Sintonizar a R.U.M. ou visitar-nos no MySpace.
UMd ? Como está a cena musical em Barcelos?
G. M. ? Barcelos sempre esteve e está no panorama musical
português. Vai sair brevemente através da Internet uma colectânea
de bandas da "Meca" Barcelos.
UMd ? Se vos propusessem inserir um tema vosso na novela
"Morangos com Açúcar" aceitavam?
G. M. ? Se ganhássemos muito dinheiro, provavelmente aceitávamos.
Dizer sim ou não a sangue-frio é difícil.
- Xutos & Pontapés -
Iguais a si próprios os Xutos, sem subterfúgios de
espécie alguma, pura e simplesmente arrasaram. Este foi o
concerto mais esperado do Enterro e como de costume o recinto
estava a rebentar pelas costuras.
UMd - Que comentários fazem em relação a este
concerto?
Tim ? Foi bom, é sempre bom tocar em Braga.
UMd ? Pode-se concluir que gostam de Braga?
Zé Pedro ? Em determinada altura da nossa carreira, tocávamos
mais em Braga do que em qualquer outra localidade. Os concertos
no Theatro do Circo eram memoráveis (risos).
Tim - Ao lado de Braga existem muitas terras boas para concertos,
esta zona é pura e simplesmente a melhor do pais para concertos.
UMd ? Há poucos locais para as bandas tocarem em
Portugal?
Z. P. ? Claro que sim, essa lacuna existe, tanto em Lisboa como
em todo o pais. Os grupos têm de juntar esforços de forma a mudar
a situação.
Tim ? Acontecimentos como o de hoje acabam por ser um pouco
exacerbados, porque além disto pouco existe.
Z. P. ? É essencial criar um circuito de bares, onde as bandas
possam tocar e desta forma enriquecer o panorama musical
português.
UMd - Qual é o segredo da vossa longevidade?
Z. P. ? O segredo é gostar de viver, já a eterna juventude é uma
tanga!
Reportagem de Vasco Enes